terça-feira, maio 19, 2009

STIEG LARSSON: Os homens que não amavam as mulheres


Os Homens que Odeiam as Mulheres
Autor: Stieg Larsson
Editora:Cia das Letras

fonte: http://bibliotecariodebabel.com/tag/stieg-larsson/

Por muito que se queira isolar a obra de um autor do contexto biográfico, nem sempre o separar das águas é possível. Menos ainda no caso de Stieg Larsson (1954-2004), cuja carreira literária post-mortem potenciou, com a sua aura romanesca, a criação de um fenómeno editorial: primeiro no Norte da Europa, depois um pouco por todo o mundo. Jornalista de investigação, especializado em grupúsculos de extrema-direita e célebre pela denúncia do racismo escandinavo, Larsson começou a dedicar-se à literatura relativamente tarde, a partir de 2001. Escrevia histórias policiais à noite, apenas por prazer, após o trabalho na revista Expo (de que era chefe de redacção). O desprendimento era tanto que só decidiu procurar uma editora quando já tinha os dois primeiros volumes da trilogia «Millennium» completos e o terceiro quase pronto. Mas não chegou a ver nenhum deles impresso, levado por um ataque cardíaco que o transformou num autor póstumo particularmente bem sucedido, cujo património está de resto no centro de uma disputa legal.
O êxito de Larsson, diga-se, é mais do que justificado. Com uma construção narrativa perfeita e um ritmo febril (que cedo transformam a leitura num vício compulsivo), Os Homens que Odeiam as Mulheres lê-se numa penada, apesar das suas mais de 500 páginas. Começa por ser um «mistério-do-quarto-fechado», mas «à escala de uma ilha»: a ilha de Hedeby, reduto do clã Vanger, uma outrora próspera família industrial, agora decadente, ferida por rivalidades e pela sombra de terríveis segredos. Henrik, o patriarca, obcecado com o nunca esclarecido desaparecimento da sobrinha-neta Harriet, em 1966, contrata Mikael Blomkvist para estudar o caso e resolver o enigma, se tal for possível tanto tempo depois.
Blomkvist, jornalista caído em desgraça por ter denunciado, sem provas concludentes, um poderoso escroque da alta finança (Wennerström), alia-se a Lisbeth Salander, uma jovem hacker cheia de tatuagens e problemas de integração social. A dupla funciona às mil maravilhas, resolve o intrincado puzzle dedutivo – em que cada peça corresponde a um crime mais escabroso do que o anterior – e prossegue depois com um não menos exemplar cerco a Wennerström. Castiga-se o mafioso (por entre críticas implícitas à imprensa económica sueca, conivente com os desvarios capitalistas), salva-se do abismo a ameaçada Millennium, revista de que Blomkvist é sócio, e fecha-se com bravura um vasto arco ficcional que aborda ainda, sem falsos moralismos, o problema dos maus-tratos infligidos às mulheres nas sociedades contemporâneas.

Começo do livro:

Se había convertido en un acontecimiento anual. Hoy el destinatario de la flor cumplía ochenta y dos años. Al llegar el paquete, lo abrió y le quitó el papel de regalo. Acto seguido, cogió el teléfono y marcó el número de un ex comisario de la policía criminal que, tras jubilarse, se había ido a vivir a orillas del lago Siljan. Los dos hombres no sólo tenían la misma edad, sino que habían nacido el mismo día, lo cual, teniendo en cuenta las circunstancias, sólo podía considerarse una ironía. El comisario, que sabía que la llamada se produciría tras el reparto del correo, hacia las once de la mañana, esperaba tomándose un café. Ese año el teléfono sonó a las diez y media. Lo cogió y dijo «hola» sin más.
—Ya ha llegado.
—Y este año, ¿qué es?
—No sé de qué tipo de flor se trata. Haré que me la identifiquen. Es blanca.
—Sin ninguna carta, supongo.
—No. Nada más que la flor. El marco es igual que el del año pasado. Uno de esos marcos baratos que puede montar uno mismo.
—¿Y el sello de correos?
—De Estocolmo.
—¿Y la letra?
—Como siempre: letras mayúsculas. Rectas y pulcras.Con esas palabras ya estaba todo dicho, así que permanecieron callados durante algo más de un minuto. El ex comisario se reclinó en la silla, junto a la mesa de la cocina, chupeteando su pipa. Sabía perfectamente que ya nadie esperaba de él que hiciera la pregunta del millón, esa que pondría de manifiesto su gran ingenio y arrojaría nueva luz sobre el caso. Eso ya pertenecía al pasado; ahora la conversación entre los dos viejos se había convertido más bien en un ritual en torno a un misterio que nadie en el mundo tenía el más mínimo interés por resolver.

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