quinta-feira, setembro 13, 2012

Watchman Nee: Considerar-se morto.



Estamos realizando a leitura de Vida Cristã Normal de Watchman Nee, a partir do capítulo três, o autor começa a explicar a vereda do progresso espiritual que seria: saber, considerar-se, oferecer-nos a Deus e andar no Espírito.

O terceiro capítulo está construído sobre Romanos 6:6,  entendemos que nossa morte com Cristo é um fato histórico, sendo que o primeiro passo da fé cristã é saber isto. A revelação divina é essencial ao conhecimento deste fato que aconteceu na cruz que atinge  a raiz de nosso problema.
A vida cristã normal tem que começar com um "saber" muito definido, que não é apenas saber algo a respeito da verdade, nem compreender alguma doutrina impor­tante. Não é, de forma alguma, um conhecimento inte­lectual, mas consiste em abrir os olhos do coração para ver o que temos em Cristo.
Como é que você sabe que os seus pecados estão per­doados? É porque o seu pastor lho disse? Não, você simplesmente o sabe. Se alguém lhe perguntar como sabe, apenas responderá: "Eu sei". Tal conhecimento vem ° por revelação do próprio Senhor. Evidentemente, o fato do perdão dos pecadores está na Bíblia, mas para a Palavra de Deus escrita se transformar em Palavra de Deus viva em você, Deus teve que lhe dar o "espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele" (Ef 1.17). Você precisou ficar conhecendo Cristo deste modo, e é sempre assim: há ocasiões, relativas a cada nova revelação de Cristo, em que se sabe no próprio coração e se "vê" no espírito. Uma luz brilha no seu íntimo de modo que você fica persuadido do fato. O que é verdadeiro acerca do perdão dos pecados não é menos verdadeiro a respei­to da libertação do pecado. Quando a luz de Deus come­ça a raiar em nosso coração, vemos que estamos em Cris­to. Não é porque alguém nos disse isto, nem meramente porque Romanos 6 o afirma. É algo mais do que isso. Sabemo-lo porque Deus no-lo revelou pelo Seu Espírito.
(...)


A obra consumada de Cristo realmente atingiu a raiz do nosso problema, solucionando-o. Para Deus não há meia medida. "Sabendo isto", disse Paulo, "que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos" (Rm 6.6). "'Sabendo isto". Sim, mas você o sabe de fato? "Ou, porventura, ignorais? " (Rm 6.3). 

O quarto capítulo, falará sobre o considerar-se, vimos no capítulo anterior que o tempo verbal em Romanos 6:6 é importantíssimo:



. O tempo do verbo é muito preciso: situa o acontecimento no passado distan­te. É um acontecimento final, realizado de uma vez para sempre, e que não pode ser desfeito. O nosso velho ho­mem foi crucificado, uma vez para sempre, e jamais pode voltar à situação de não crucificação. É isto que devemos saber.
Nee levanta neste capítulo que por muito tempo tinha dificuldades em sua caminhada cristã por não entender que sua morte era uma evento passado, não conseguia considerar isto como algo já realizado para ele:

Qual é o segredo de considerar, então? É revelação: precisamos de revelação da parte do próprio Deus (Mt 16.17; Ef 1.17,18). Devemos ter os olhos abertos para o fato da nossa união com Cristo, e isso é algo mais do que conhecê-la como doutrina. Tal revelação não é coisa vaga e indefinida. Muitos de nós podemos recordar o dia em que vimos claramente que Cristo morreu por nós, e devemos ter igual certeza da hora em que percebemos que nós morremos com Cristo. Não deve ser nada de confuso, mas algo muito definido, porque é a base em que prosseguimos. Estou morto não porque me consi­dero assim, mas por causa daquilo que Deus fez para comigo em Cristo — por isso considero-me morto. É este o verdadeiro sentido de considerar-se. Não se trata de considerar-se para se ficar morto, mas de con­siderar-se morto porque essa é a pura realidade.


Nee coloca que se tentarmos desenvolver isto pela experiência pessoal podemos ficar perdidos, este algo a ser considerado porque já foi realizado. Não é a nossa constatação que nos faz mortos, mas um fato já realizado em Cristo. Não é produzido por nós.

Quando o Senhor Jesus estava na Cruz, eu estava lá nEle; portanto, eu o considero como um fato verdadeiro. Considero e declaro que morri nEle. Paulo disse: "Considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus". Como é isto possível? "Em Cristo Jesus". Nunca se esqueça que é sempre, e somente, verdade em Cristo. Se você olha para si próprio, não achará aí esta morte — é questão de fé nEle, de olhar para o Se­nhor e ver o que Ele fez. Reconheça e considere o fato em Cristo, e permaneça nesta atitude de fé.

Nee, a seguir, começa a definir o que seria fé pois é ela que considera estes fatos a nosso respeito, portanto, para ele a fé está relacionada ao passado e a esperança ao futuro:





É a minha aceitação de fatos divinos, e seu fundamento sempre se acha no passado. O que se relaciona com o futuro é mais esperança do que fé, embora a fé tenha, muitas vezes, o seu objetivo ou alvo no futuro, como em Hebreus 11. Talvez seja por essa razão que a palavra aqui escolhida é considerar-se. É uma palavra que se relaciona unicamente com o passado — com aquilo que vemos já realizado ao olhar para trás e não com qualquer coisa ainda por acontecer. É este o gênero de fé descrito em Mc 11.24: "Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco". A declaração é que se crer que já recebeu o que pediu (isto é, evidentemente, em Cristo), então "será assim". Crer que seja provável alcançar alguma coisa, e que seja possível obtê-la, mesmo que ainda virá a obtê-la, não é fé no sentido aqui expresso. Fé é crer que já alcançou o que pede. Somente o que se relaciona com o pas­sado é fé neste sentido. Aqueles que dizem que "Deus pode" ou "Pode ser que Deus o faça", não crêem de for­ma alguma. A fé sempre diz: "Deus já o fez".

Pela fé alcançamos a libertação do pecado, uma vez que estamos mortos para o pecado em Cristo Jesus. 



A libertação do pecado é tão real, que João pôde escrever, confiante: "Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado... não pode viver pecando" (I João 3.9), expressão essa que, erradamente compreen­dida, poderia nos confundir. João não quis dizer que o pecado nunca mais entra em nossa história e que não cometeremos mais pecados. Diz que o pecar não está na natureza daquele que é nascido de Deus. A vida de Cristo foi plantada em nós pelo novo nascimento, e a Sua natureza não é caracterizada por cometer pecados. Há, po­rém, uma grande diferença entre a natureza de uma coisa e a sua história, e há uma grande diferença entre a natureza da vida que há em nós e a nossa história. 
Ele termina o argumento dizendo que o que está em Cristo não pode pecar, mas o que está em Adão pode pecar e pecará toda vez que der ao inimigo a oportunidade para exercer seu poder. Mas isto depende daquilo que iremos considerar e viver, esta é a grande diferença entre as naturezas que nos permite viver uma vida de acordo com a nossa nova natureza.

Para tornar algo divino em algo real, por exemplo, uma vida de santidade em nossa própria vida é necessária a fé. Porque a fé é a substancialização das coisas que se esperam. 



Como é que "substancializamos" uma coisa? Faze­mos isso todos os dias. Você conhece a diferença entre substância e "substancializar"? Uma substância é um objeto, uma coisa na minha frente. "Substancializar" significa que tenho certo poder ou faculdade que torna aquela substância real para mim. Por meio dos nossos sentidos, podemos tomar certas coisas do mundo, da natureza, e transferi-las para o nosso conhecimento e percepção interna, de modo que possamos apreciá-las. A vista e o ouvido, por exemplo, são duas das faculda­des que me permitem "substancializar" da luz e do som. Temos cores: vermelho, amarelo, verde, azul e violeta, e estas cores são coisas reais. Mas se eu fechar os olhos, a cor não continua sendo real para mim; é sim­plesmente nada — para mim. Com a faculdade da vista, contudo, possuo o poder de "substancializar", e assim, o amarelo torna-se amarelo para mim


Nee conta uma ilustração de como isso acontece:


Você provavelmente conhece a ilustração do Fato, da Fé e da Experiência que caminhavam no topo de uma parede. O Fato caminhava na frente, firmemente, não se voltando, nem para a esquerda nem para a direita, e sem nunca olhar para trás. A Fé seguia-o e tudo andou bem enquanto conservou os olhos postos no Fato; mas, logo que se preocupou com a Experiência, voltando-se para observar o progresso desta, perdeu o equilíbrio e caiu da parede para baixo, e a pobre da Experiência caiu com ela.

Veja sua explicação:

Toda a tentação consiste, primariamente, em desviar os olhos do Senhor e deixar-se impressionar com as apa­rências. A fé sempre encontra uma montanha, uma mon­tanha de experiências que parecem fazer da Palavra de Deus, uma montanha de aparente contradição no pla­no de fatos tangíveis — dos fracassos nas atitudes, bem como no plano dos sentimentos e sugestões — então, ou a Fé ou a montanha tem que sair do caminho. Não po­dem permanecer ambas. Mas o que é triste é que, muitas vezes, a montanha fica e a fé vai embora. Isto não deve­ria ser assim. Se recorrermos aos nossos sentidos na busca da verdade, verificaremos que as mentiras de satanás muitas vezes condizem com a nossa experiência; se, porém, nos recusamos a aceitar como obrigatória qual­quer coisa que contradiga a Palavra de Deus e mantiver-mos uma atitude de fé exclusivamente nEle, verificare­mos que as mentiras de Satanás começam a dissolver-se e que a nossa experiência vai condizendo progressiva­mente com a Palavra.


Não estamos mortos em nós mesmos, se ficarmos procurando isto em nós, estaremos andando em vão. Fomos crucificados em Cristo,  a única coisa que devemos fazer é permanecer nEle.  Não temos que lutar para entrar em Cristo, não devemos buscar tal posição, já estamos lá. Foi algo que Deus fez conosco, nos colocou nEle para permanecermos nEle.


É a histó­ria de Cristo que tem que se tornar a experiência do cristão, e não temos experiência espiritual separadamen­te dEle. As Escrituras dizem que fomos crucificados com ELE, que nELE fomos vivificados, ressuscitados e senta­dos por Deus nos lugares celestiais, e que nELE estamos perfeitos (Rm 6.6; Ef 2.5,6; Cl 2.10). Não se trata pre­cisamente de alguma coisa que ainda tenha que efetuar-se em nós (embora exista este aspecto). É algo que já foi efetuado em associação com Ele

A nossa vida espiritual não pode ser dita como nossa, pois é a vida do próprio Cristo em nós que nos dá a vida espiritual.



Toda a experiência espiritual do cristão tem Cristo como sua fonte de reali­dade. O que chamamos a nossa "experiência" é somente a nossa entrada na história e na experiência de Cristo.


 Há crentes que buscam experiências como experiências suas, mas isto não existe, toda vida espiritual flui da vida de Cristo em nós. Compartilhamos com Ele da sua vida.



Experiência espiritual verdadeira signi­fica que descobrimos alguma coisa em Cristo e que entramos na sua posse; qualquer experiência que não re­sulte de uma nova compreensão dEle está condenada a se evaporar muito rapidamente. "Descobri aquilo em Cristo; então, graças a Deus, pertence-me. Possuo-o, Senhor, porque está em Ti". Que coisa maravilhosa co­nhecer as realidades de Cristo como o fundamento da nossa experiência 
Nee coloca um ponto que talvez não consideramos mesmo:


Mas, a verdade é que Deus não dá aos indivíduos experiências individuais, e, sim, apenas uma participação naquilo que Deus já fez. É a realização no tempo das coisas eternas. A história de Cristo torna-se a nossa experiência e a nossa história espiritual; não temos uma história separadamente da Sua. Todo o tra­balho, a nosso respeito, não é efetuado em nós, aqui, mas em Cristo. Ele não faz um trabalho separado, nos indivíduos, à parte do que Ele fez no Calvário. Mesmo a vida eterna não nos é dada como indivíduos: a vida está no Filho, e: "quem tem o Filho tem a vida". Deus fez tudo no Seu Filho e incluiu-nos nEle; estamos incor­porados em Cristo 

Como, então, podemos permanecer em Cristo?



Como é que permanecemos em Cristo? "Vós sois de Deus em Cristo Jesus". Coube a Deus nos colocar em Cristo, e Ele o fez. Agora, permaneçamos ali. Não volte­mos para as nossas próprias bases. Nunca olhemos para nós mesmos, como se não estivéssemos em Cristo. Olhe­mos para Cristo, e vejamo-nos nEle. Permaneçamos nEle. Descansemos na verdade de que Deus nos incluiu no Seu Filho, e vivamos na expectativa de que Ele completará a Sua obra em nós. Cabe a Ele cumprir a gloriosa promes­sa de que "o pecado não terá domínio sobre vós" (Rm 6.14). 


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