segunda-feira, janeiro 21, 2013

Tim Keller: Every Good Endeavour




Acabei de ler o novo livro de Tim Keller, Every Good Endeavour:  Connecting your work to God´s work, publicado em 2012 pela Dutton, o livro foi escrito junto com Katherine Leary Ashcroft, que lidera o ministério Faith and Works da igreja Redeemer.

É  um livro que fala sobre o que Deus pensa a respeito do trabalho e o que é trabalho em si. O livro está dividido em três partes: O plano de Deus para o trabalho, nossos problemas com o trabalho e o evangelho e o trabalho. Enfim, trata-se de um livro fundamental para entendermos como Deus se relaciona com o trabalho e como o nosso trabalho se relaciona com o trabalho de Deus.

Por que precisamos do trabalho para completar a nossa vida?
Por que é tão duro trabalhar?
Como podemos superar as dificuldades e achar satisfação com nosso trabalho?
Como o evangelho se relaciona com o nosso trabalho? 

Estas são perguntas que estão respondidas no livro.

Na primeira parte sobre  o plano de Deus para o trabalho, Keller coloca o desenho do trabalho, que o próprio Deus trabalhou na criação, não apenas isto, como também encontrou deleite nele.  O trabalho foi posto no paraíso, antes da queda, ele em si não é nenhuma maldição. 

Você não encontrará sentido na vida sem o trabalho, mas o trabalho não pode ser o sentido de sua vida. Se você fazer isto, vai criar um ídolo. Nosso relacionamento com Deus é a coisa mais importante da vida, é o que dá sentido as outras coisas dela, inclusive o trabalho (p.40).

Ele fala também sobre a dignidade do trabalho, fomos chamados por Deus para no mundo exercitar a mordomia sobre a criação, o trabalho é um reflexo da imagem de Deus em nós. Os cristãos devem identificar as formas como seu trabalho coopera para com Deus em criatividade e cultivo. Aqui ele fala contra o dualismo, dividir entre sagrado e profano, se somos salvos pela graça apenas, todas as obras não podem por si dar significado ou salvação, então não hierarquia de trabalho como santo ou não santo, todos são santos.

O trabalho como cultivo, o mandamento de Deus para enchermos a terra, vai além de procriação, está significando civilização. Governar sobre a criação não é um mandamento para explorar e descartar a terra, mas de cultivá-la. O mundo precisa ser cultivado como um jardim, é no rearranjo da matéria prima dada por Deus para o bem do mundo. O trabalho é fazer cultura a partir da criação de Deus.

O trabalho como um serviço é o propósito de Deus, quando meu trabalho serve as outras pessoas estou dentro da vontade de Deus atendendo a necessidade humana. Mais uma vez, aqui Keller volta contra o dualismo.

Citando Lutero, segundo a salvação pela graça, não há uma forma superior de trabalho, o evangelho nos liberta de termos nossa identidade construída a partir do que fazemos, todo o trabalho se torna um caminho de Deus que nos salvou livremente, e assim, o trabalho é instrumento para nós amarmos o nosso próximo, somos chamados por Deus para realizar o trabalho que temos - conforme 1Co 7:17.

Na segunda parte, Keller fala de nossas lutas e problemas com o trabalho. O trabalho se torna infrutífero, por causa do pecado, nada funciona como deveria, o pecado leva a desintegração de cada área da vida humana, inclusive o trabalho. A experiência do trabalho agora incluiu espinhos, dor, fadiga e não alcançamos as metas que colocamos. 

Nosso segundo problema é que o trabalho se tornou sem sentido, Keller cita o livro de Eclesiastes neste capítulo, da falta de sentido das coisas debaixo de sol, sem uma orientação que esteja além deste mundo. Precisamos como precondição termos uma dependência de Deus para uma vida com sentido. 

Os três projetos de vida: sabedoria, prazer e trabalho, conforme Eclesiastes 2, estão fadados a ficarem sem sentidos se forem considerados em si mesmos.

O trabalho se torna egoísta, Keller lembra a construção da torre de Babel, o propósito deturpado do trabalho para as pessoas conseguirem um nome para si mesmas a partir de sua própria criação. Nosso orgulho e necessidade por uma significância pessoal leva ao orgulho que enseja em competição, desunião e lutas. As duas coisas que queremos desesperadamente, glória e relacionamento, só podem existir com Deus.

Keller lembra C.S. Lewis, que fala da natureza competitiva do orgulho, o orgulhoso sempre precisa ser melhor que alguém. 

Em contraposição a história de Babel, Keller faz uma aplicação evangelística da história de Ester.  Ela salvou seu povo por identificação e mediação, Jesus também fez assim, se colocou diante do trono e se identificou conosco para a nossa salvação, este poder nos liberta do egoísmo e da competição.

O trabalho revela nossos ídolos, aquilo que colocamos da natureza criada como nosso salvador e senhor, que decidimos servir e adorar. Lutero definia idolatria como procurar nas coisas criadas aquilo que somente Deus pode dar. Existem ídolos que são culturais e corporativos,  como conforto e prazer, poder e aprovação e controle.  O nosso trabalho revela os ídolos que estão por detrás de nossa cultura.

Aqui Keller mostra toda sua capacidade e explora os ídolos de nossa cultura, e como o trabalho faz eles aparecerem e mostrarem todo o seu poder sobre as pessoas.

O evangelho dá uma linha narrativa diferente para contarmos nossa história, nos dá um novo valor e propósito, uma participação na obra de Deus no mundo, uma ética diferente e uma motivação transformada.

Na terceira parte, O evangelho e o trabalho, Keller começa dizendo que uma cosmovisão baseada no evangelho, dará uma nova forma de encararmos nosso trabalho.  Uma cosmovisão é uma metanarrativa sobre como a vida humana deveria ser, o que coloca ela fora do equilíbrio e como podemos fazer as coisas direitas. A singularidade do cristianismo é que ele coloca o problema não em uma parte ou um grupo do mundo, mas nas pessoas em si por causa do pecado, seu rompimento com Deus, e também localiza a solução, na graça de Deus, em nossa restauração do relacionamento com Deus através da obra de Cristo.

Em um novo conceito para o trabalho, Keller relembra o conceito de graça comum, que Deus trabalha no mundo através de sua revelação geral, há um conceito universal do que é Deus e do que é bondade. Sem este entendimento, o mundo é muito confuso para um cristão. 

Aqui Keller fala do diálogo com a cultura, podemos ter uma reação de renúncia, de uma criação de uma cultura cristã alternativa ou de um consumo acrítico. Devemos ter em vista duas coisas: a verdade da graça comum, que não somente as coisas de igreja são valorosas para Deus e a idolatria do pecado presente na cultura. Porque mesmo um trabalho "cristão" pode levar a idolatria. 

Um novo compasso para o trabalho, Keller fala quando uma coisa é justa ou não? Os cristãos devem entender que foram feitos para amar, devemos nos perguntar se o trabalho colabora ou não para o florescimento dos seres humanos e assim honra a Deus. Keller lembra que os direitos humanos nasceram do cristianismo.

O evangelho dá um novo poder para o trabalho porque dá uma nova história para o trabalho, e também nos da uma paixão por realizarmos a obra de Deus e um descanso profundo quando conhecemos as nossas limitações e da limitação do trabalho.


O livro é fantástico, deveria ser lido por todos os profissionais, principalmente, por todos aqueles que insistem em ver a vida do trabalho como dualista. 



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