quarta-feira, janeiro 16, 2013

Timothy Keller: A necessidade de renovação pelo evangelho.


A renovação pelo evangelho é uma recuperação transformadora de vida através do Evangelho. No aspecto pessoal, significa que as doutrinas do pecado e da graça são experienciadas, não apenas entendidas intelectualmente, inclui um despertamento e uma convicção do seu próprio pecado e alienação de Deus que vem de ver em nós os profundos níveis de auto-justificação, descrença e farisaísmo como nunca antes.

Há novo assombro com a graça de Deus e um descanso apenas em Cristo para a nossa salvação. Entendemos o que significa descansar na obra de Cristo e não em nossas próprias obras.

A renovação corporativa é uma época em que todo o corpo de crentes experimentam esta renovação pessoal juntos. Os líderes devem ver o evangelho não somente como um conjunto de crenças, mas como o poder de Deus para transformar vidas profundamente e continuamente. Sem este tipo de aplicação do evangelho, o mero ensino, pregação, batismo e catequismo não são suficientes.

Keller cita Richard Lovelace,  que conclui que apesar dos cristãos terem um assentimento intelectual que sua justificação é a base de sua santificação, começam com o passar do tempo basear sua santificação em sua experiência passada de conversão, em sua recente performance religiosa ou na relativa infrequência de sua consciência. 

Os avivamentos são necessários porque o modo "default" do coração humano é baseado na justiça das obras- não vivemos ordinariamente como se o evangelho fosse verdade. Cristãos quase sempre acreditam em suas cabeças que Jesus me aceita, portanto devo viver uma vida correta, mas em seus corações e ações, funcionam  praticamente do princípio eu vivo uma vida correta, portanto Deus me aceita. O resultado disto é uma alergia a mudança, morte espiritual.  Em contraste claro a isto, o evangelho da graça pura oferecida a pecadores sem esperança produz alegria, desejo de admitir as falhas, graça com tudo, e uma perda da auto-absorção.


Porque não acreditamos profundamente no evangelho, nossos corações encontram caminhos de transforma-lo em uma doutrina liberal ou num ortodoxia morta.

O avivamento não é uma curiosidade histórica, é o modo como o Espírito Santo age numa comunidade para evitar o modo automático do coração humano.

Criticando Avivamentos.

Alguns criticam avivamentos como excesso emocional, fanatismo, que menospreza igrejas estabelecidas. Keller recorda que os avivamentos primeiros se deram num cristianismo centrado em igrejas, contudo, a revolução industrial deslocou muitas pessoas de seus núcleos comunitários, os ministros avivalistas como Wesley e Whitefield foram respostas para estas novas realidades.  Pregavam para as massas em lugares públicos chamando as pessoas para a conversão, eles enfatizavam mais as decisões individuais do que a incorporação de famílias numa comunidade. Em 1830, os críticos diziam que os avivamentos desprezavam a capacidade da igreja em instruir e disciplinar seus membros.

Avivalismo hoje.

O mesmo debate permanece hoje, o extremo avivalismo é muito individualista, a crítica quer transformação mas não quer uma perca da liberdade e controle associados a submeter a autoridade com um compromisso com a comunidade. 

Contudo, hoje muitos críticos vão além de lamentar os efeitos, eles negam as premissas básicas dos avivamentos, eles rejeitam a idéia de que as pessoas devem ser chamadas para a conversão se elas estão na igreja. Eles querem voltar a idéia antiga de que ninguém pode ser um cristão exceto se for incorporado pela congregação local.  E uma vez que for batizado e incorporado, estas pessoa se torna uma cristã por definição, não importando a experiência pessoal.

Esta postura não leva em conta os tempos e as estações, nem os corações. O avivamento encaixa com o nosso tempo e centraliza o coração de uma forma bíblica.

A renovação pelo evangelho se encaixa nos nossos tempos:

A abordagem tradicional muito centrada na igreja funcionava numa cultura quando havia uma igreja dominante e os setores públicos estavam em torno dela.  O modelo tradicional depende também do fato de não ter muitas igrejas para escolher.  Quando a sociedade se torna pluralista, as pessoas só vem a igreja se escolherem fazer isto. Este estado de coisas demanda uma ênfase avivalista na persuasão, conversão e no auto-exame individual.

A renovação pelo evangelho foca no coração.

O entendimento central do avivalismo é que a conversão é uma questão de coração, está bem fundamentada na Bíblia (Rm 10:9) Deve haver uma confiança pessoal, uma convicção de coração. 

Quando a bíblia fala do coração é mais do que simples emoções - Lv. 19:7, Sl 4:7, 13:2. Pensamos com  o coração - Pv 23:7, Mc 2:8. E agimos do coração- Ec 10:2. O que está no coração determina o que vou pensar, fazer e sentir- desde que a mente, a vontade e as emoções estão todas enraizadas ali. 

Keller dá um exemplo de pregação avivalista do Antigo Testamento, o chamado de Jeremias para a circuncisão do coração em Jr 4:4. cf.9:26, At 7:51.  Os ouvintes tinham o sinal externo da circuncisão, mas Jeremias estava dizendo que eles não tinham a realidade interna (Jr 31:33). O rito era um pacto de adesão a comunidade, como o batismo na igreja cristã (Cl 2:11-12). Qualquer um que fosse circuncidado era visivelmente incorporado a comunidade do povo de Deus, mas ainda assim, havia mais que era requerido para remover um coração de pedra (Ez 11:19), o coração precisava ser limpo (Sl 51:10) e saciado (Sl 112:7).

O Novo Testamento continua esta diferenciação de interior e exterior,  Paulo coloca a circuncisão como questão de coração, feita pelo Espírito (Rm 2:28-29), o verdadeira adoração como a real circuncisão (Fp 3:3). Aqui este amarra a conversão cristã com a circuncisão do coração do Antigo Testamento. Neste capítulo, ele nos fala para colocar a confiança não na carne, na obediência da lei, mas em Deus.  Quando Jesus chama para o novo nascimento, ele está fazendo a mesma exortação de Jeremias (Jo 3:7).

Em Marcos 1:15, Jesus dá sumário do evangelho, o reino de Deus está próximo, arrependam-se e creiam nas boas novas. Em Lucas 24:46-47, Ele diz que a arrependimento e perdão dos pecados será pregado em seu nome para todas as nações.  Pedro em Atos 2:38, chama as pessoas para o arrependimento. No novo testamento, vemos este conjunto fé e arrependimento como inseparáveis, 2 Co 7:10.

A renovação pelo evangelho não apenas simplesmente procura converter os cristãos nominais, mas também insiste que todos os crentes, mesmo os compromissados, precisam do Espírito para levar o evangelho para seus corações para experiências profundas do amor e do poder de Cristo.

Em Efésios 3, Paulo ora para que Cristo habite nos corações deles e sejam cheios da presença de Deus pela virtude da união com Cristo. Os cristãos podem esperar que o Espírito Santo vai continuamente renovar sua força, amor, alegria e poder quando eles vão além de somente crer nas coisas que Jesus fez e começar a experimentar elas pela obra do  Espírito.

Um avivalismo balanceado, comprometido com a renovação individual e coletivo é a obra da igreja. Alguns precisam ser convertidos de sua descrença, outros precisam ver que nunca foram convertidos e outros precisam sentir sua estagnação espiritual.

Lutero diz que o evangelho é o principal artigo de toda doutrina cristã... Mais necessário é que, então, nós devemos saber este artigo bem, ensinando-o uns aos outros, e batendo em nossas cabeças continuamente.

Um teologia bíblica do avivamento.

Keller coloca também um esboço de uma teologia bíblica do avivamento, eis alguns aspectos que ele levanta:

avivamento e esquecimento espiritual: Israel constantemente se esquece da grande salvação que receberam de Deus, Pedro diz que é possível isto (2Pe 1:9). Precisamos de um avivamento para uma lembrança espiritual de nossa salvação.

avivamento e ciclos de declínio: O livro de Juízes, Reis e Crônicas mostra ciclos constantes de declínio e avivamento, o ciclo começava quando eles assimilhavam a cultura pagã em redor, o resultado era sofrimento que levava a Deus em arrependimento. No novo testamento, as igrejas entram em ciclos também, veja o recado para Efésios lembra do primeiro amor em Ap. 2:1-7.

avivamento e o Espírito: em pentecostes, os apóstolos foram cheios do Espírito e pregavam a palavra de Deus corajosamente. Precisamos de avivamentos, para Deus enviar o Espírito para despertar indivíduos e igrejas mesmo em meio a perseguições.

avivamento e a realidade interior: em Efésios 3:14-21, Paulo ora para que Espírito fortaleça seus leitores  com poder em seu ser interior. A verdade começa brilhar de dentro de nós e nos faz embaixadores efetivos do reino. 

Avivamento e conversão: não consiste somente na renovação dos crentes mas também na conversão daqueles que estão apenas como crentes nominais, através do despertamento crentes estagnados vem a vida e os nominais são convertidos.




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