quarta-feira, dezembro 30, 2009
terça-feira, dezembro 29, 2009
Timothy Keller: Dinamica da Renovação Espiritual
Existem duas patologias espirituais. Alguns cristãos tem uma limitada compreensão do seu pecado. Necessitam ver seu pecado desde uma perspectiva em que Deus é o centro. Outros se sentem insuficientes, contudo, tem uma conceito teórico com respeito a justificação pela fé. Necessitam ver com a justificação chega a ser base para suas atividades cotidianas. Se faltar a consciência do pecado como também a aceitação do amor de Deus, o evangelho não pode operar. Quando chamamos as pessoas para o evangelho, nos a fazemos ter um arrependimento radical e a descansar completamente em Cristo por meio da fé.
A renovação é uma obra divina na qual a igreja é embelezada e revestida de poder pois as operações normais do Espirito Santo são intensificadas. Estas são: a. convicção do pecado, b. deleite/segurança da graça e do amor do Pai e c. acesso a presença de Deus.
Para poder experimentar estas operações , o primeiro fundamento é ter uma sã doutrina, já o que o evangelho é verdade. A menos, que a verdade seja entendida de maneira intacta e completa, não pode conferir seus efeitos renovadores. A outra condição é uma vida de oração persistente e disciplinada, em que não somente se levantam petições, mas também se busque o rosto de Deus para conhecê-Lo. Quando o poder de Deus se faz evidente, começam a ocorrer certa dinâmicas. Corporativamente, o derramar divino se comprova em uma paixão marcante e uma liberdade na adoração. Uma segunda marca é a profundidade do ensinamento e educação cristã. O amor pela Palavra é uma marca distinguível da obra do Espirito. Outra evidencia da presença divina é um visível amor nas relações entre os crentes. Ademais, os membros de uma igreja renovada se sentem entusiasmados de compartilhar com os outros acerca de Deus e sua glória. Finalmente, o avivamento produz vários indivíduos comprometidos com a ação social e a reforma da cultura.
Para ser um ministro do evangelho eficaz, o plantador de igrejas deve descobrir e aplicar continuamente o evangelho. Isto trará crescimento e renovação – Cl 1:6-. A renovação espiritual é um encontro com o Deus vivo, a verdade do evangelho incendiada dentro de nós. Contudo, como o evangelho nos renova? Quais são as condições para sua operação? Quais são as dinâmicas por meio das quais opera? .
Cada uma das duas condições básicas para o avivamento podem ser chamadas como um eixo, sendo que cada um equilibra ao tratar do coração humano.
O primeiro balanço é a lei do amor, devemos enfatizar tanto a santidade como a justiça de Deus e seu amor e misericórdia absolutos. A essência da renovação é compreender a graça de Deus em toda sua verdade – Cl. 1:6- e a essência da experiência cristã é glorificar a gloriosa graça de Deus – Ef. 1:6-. A única maneira para ver a gloria da graça é ver tanto a lei e o amor de Deus cumprir-se plenamento na cruz. Estes não devem ser ensinados como se fossem coisas opostas, mas como complementados perfeitamente em Cristo.
Primeiro, deve ver a absoluta santidade de Deus, a magnitude de sua deidade, a categórica necessidade do justo castigo de Deus sobre o pecado, e assim a completa desesperança da sua condições de inabilidade. Por que? Se você não se vê assim, então, o conhecimento do perdão e libertação não serão eletrizantemente maravilhosos. Por outro lado, necessitamos ver que sua salvação é um ato absolutamente gratuito, deve ver que a absoluta liberdade da sua salvação – somos santos perante Deus- e a riqueza – somos adotados- e sua permanência- não há condenação-. Por que? A menos que não vejamos assim, não teremos segurança em nossa alma e consciência para enfrentar o pecado que está em nossos corações.
Muitas pessoas não aceitam a completa verdade da santidade de Deus ou do nosso pecado , como também nem a nossa total e permanente aceitação. Estas atitudes indicam uma perca tanto da compreensão como da experiência da graça de Deus, e despedaçam as dinâmicas da renovação espiritual. Todas as marcas únicas da vitalidade crista: coragem ainda que humilde, forma ainda que liberdade, verdade ainda que amor, fluem desta perspectiva de amor e da lei de Deus levadas a cabo de uma vez para sempre por Jesus na cruz. A sentença da graça é expressada perfeitamente nas palavras do filho prodigo: Pai ...já não sou digno de ser chamado teu filho (Lc 15,21). Não somos dignos de ser filhos, mas sabemos que temos um direito absoluto de nos aproximarmos de Ele como Pai. Esta é a experiência essencial transformadora do evangelho! Se pensarmos que somos dignos por nossas obas obras, não teremos poder espiritual em nossas vidas. As dinâmicas da renovação requerem que tenhamos em vista e nos apropriamos destas ambas perspectivas.
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O segundo eixo está entre a teologia e a espiritualidade. O evangelho é primordialmente verdade, um corpo com conteúdo. Mas, devemos enfatizar tanto a necessidade de compreender e estudar a verdade crista como nossa experiência desta verdade por meio da presença e poder do Espírito Santo. A idéia da renovação espiritual pode ser comparada a uma combustão. Se há combustível – a madeira- e calor- uma chama- se dará a combustão. Na renovação espiritual, o combustível é a verdade do evangelho e a chama é o Espirito Santo aplicando a verdade ao coração. Ocorre , então, um encontor com o Deus verdadeiro ao qual a verdade assinala. O fogo resultante é o que lemos no livro de Atos: vidas e igrejas cristãs vibrantes.
O cristianismo é muito racional para o misticismo e muito místico para o racionalismo. Quando um cristão ou uma igreja enfatiza o cognitivo excluindo o experimental, ou o experimental excluindo o cognitivo, se perde a dinâmica da renovação. Ambos devem ser enfatizados com a mesma intensidade sem confrontar-se um com o outro pois são complementares. A verdade que experimentamos!!! Sem mais delongas, é essa mesma experiência que nos desperta o apetite por mais verdade.
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No coração do homem o evangelho opera da seguinte maneira:
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Em primeiro lugar, o Espírito Santo conduz a pessoa a um nível profundo de arrependimento. Uma parte do arrependimento é localizar a vontade contra as atitudes pecaminosas. Contudo, na renovação espiritual seus olhos se abrem para ver formas mais profundas e sutis de carnalidade em seu coração, donde surge a conduta pecaminosa, atitudes enraizadas em sua alma e valores que servem como formas de obras de auto justificação e vontade carnal. Todos os cristãos conservam formas de tentativas de controlar suas próprias vidas por meio de estratégias residuais da auto salvação, maneiras de continuar a busca de serem aceitos por nossos esforços. Para isto, fixamos nossos corações em coisas criadas como o trabalho, amor, posses, romance, fama e outras como tais.
Por que os cristãos fazem isto? Pela mesma razão que fazem os não-cristaos. O mundo afasta idéia a idéia de que a. somos pecadores completamente inábeis e impotentes e que b. a salvação é totalmente gratuita e imerecida. Se isso é verdade, então, Deus é senhor absoluto. Romanos 1 nos diz que o conhecimento de Deus é inato, mas que os homens desejaram manter oculto os segredos de suas próprias vidas de maneira que impediram dar a deus um nível de agradecimento que Ele merecia. Em seu lugar louvaram aquilo que foi criado como se fosse sua salvação, desviando da verdade da nossa absoluta dependência dEle.
A renovação espiritual não começa simplesmente quando nos damos conta que um que se preocupa muito, outro nem se preocupa, ou que um é egoísta ou que tem maus hábitos. A renovação espiritual não começa quando o Espirito nos mostra por que temos esse pecado particular. Começa quando começamos a ver que nossos problemas vem pór nossa resistência a idéia de graça, que estamos cheios de auto justificação e, portanto, de uma vontade carnal. O avivamento sempre requer que se abandone os ídolos- Jz 10:10-16 e Ex 33:1-6-. Na medida que esta obra de arrependimento progride, o cristao começa a sentir uma fome maior pelo amor e pela presença de Deus.
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Em segundo lugar, a renovação se completa quando o Espirito Santo dá ao cristão, uma nova compreensão e experiência de sua posição frente a Deus, isto é, de ser completo, amado e adotado em Cristo. As dinâmicas da renovação individual são como um pendulo. Quanto mais vemos que temos oscilado quando havia pecado faz com que seja maior a experiência da graça e amor de Deus ! Quanto mais nos vemos em nossa pecaminosidade e duvida, mais precioso e maravilhoso será para nós o valor da cruz.
Isto quer dizer que o cristão se renova por meio da comunhão com Deus- IJo 1:3 - . Esta é uma experiencia real de sua presença que ocorre quando o espírito transforma a verdade da palavra em uma realidade vivida afetando o coração. Paulo orava pelos efésios: para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé nos vossos corações, a fim de que, estando arraigados e fundados em amor, possais compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus.(Ef. 3:16-19). Isto quer dizer que os conceitos intelectuais podem afetar nossas emoções e vontade de modo permanente.
Mas também quer dizer que um cristão é renovado por meio de experimentar o amor da adoção. Pois, a renovação nos conduz a certeza de que realmente pertencemos a família de Deus. Quando experimentou o Espirito Santo escutou uma voz que dizia: E veio uma voz dos céus que dizia: Tu és meu filho amado, em que me comprazo” (Mc 1:11). Todos os cristãos experimentam o poder do Espirito Santo da mesma maneira. Sua tarefa é poderosamente afirmar para nós que somos filhos amados de Deus – Rm 8.15-16-. Derrama seu amor em nossos corações – Rm 5.5-. Esta certeza do amor adotivo se dá em vários modos. Algumas vezes pode ser um Tsunami e vamos com um arrojo incrível na pregação (At. 4.31). outras vezes, é como um suave gotejar que debilita e acaba com o nosso temor. Mas um cristão renovado sempre vive por fé como um filho ou filha de Deus. Nos dirigimos a Ele como nosso Pai, e não a um patrão, tirano, ou um alguém com poder distante de nós.
Uma maneira pela qual o Espírito aplica o evangelho a toda a igreja pode ser comparada a um motor de dois tempos. O primeiro tempo é o da tomada de compreensão. Neste o pistão move para cima até o cilindro injetando uma mescla de ar e combustível e o comprime. Logo, por meio de uma faísca a mescla explode. Isto causa um segundo tempo é a força. Neste o pistão é empurrado pra baixo pela combustão. Isto cria o movimento. O pistão transfere esse movimento por meio de barra até as rodas.
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Dentro das atividades que conduzem ao avivamento em uma igreja estão: 1. A oração centrada no reino, 2. A proclamação do evangelho com profundidade. A oração centrada no reino se concentra na necessidade da igreja de poder e da presença de Deus, da gloria e o reinado de Deus,antes que os pedidos por necessidades pessoais. Esta permanentemente cheia de arrependimento, contudo, intercede a Cristo ascendido como seu advogado e o diretor do seu reino no mundo. A oração de coragem, humildade e nunca programada. Deve ser um movimento pelo qual caminha a congregação e sua gente.
Ademais, a igreja deve apresentar o evangelho as pessoas por meio da pregação, ensino e conselho. Como foi mencionado anteriormente, esta é uma ênfase intecional tanto na santidade/lei de Deus como também no amor/misericórdia do Pai ao mesmo tempo, provendo um balanceado realce na sã doutrina como na aplicação pessoal da verdade até o coração e a vida. Se traçarmos um eixo e compararmos cada ponto de balanço poderemos avaliar marcando num gráfico quanto a comunicação do evangelho da igreja está servindo como uma condição para o avivamento. Somente quando a marca esta no centro dos extremos, o calor espiritual pode ser gerado. Esta comunicação e oração chegam a ser a mescla de combustível com que o ar que é Espírito poderá acender.
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Como já tínhamos dito, as dinâmicas da renovação espiritual são como um pêndulo, quanto mais profundo é o arrependimento, mais nos carrega a uma maior confiança e segurança no amor. Esta é a experiência filial – Rm 8.15-16-. Quando esta dinâmica individual é 1. Forte- sujeita a graduações- e 2. Disseminada na congregação, então, esta combustão pode acontecer em toda a igreja. Se desata uma dinâmica de renovação corporativa.
Esta combustão é vista em duas explosões que sempre estão presentes em algum lugar. 1. Primeiro há um embelezamento da igreja, Moises desejava que a presença de Deus baixasse no meio de Israel de modo que o mundo pudesse ver a gloria de Deus em suas vidas distinguidas das demais- Ex. 33.16. Em Atos 2.42-47, nos diz que uma comunidade cristã avivada está cheia de pessoas humildes, sensíveis e seguras e também valentes, generosas, sinceras e alegres, tendo o favor de todo o povo da comunidade em volta. Havia uma preciosa paz na igreja. Como conseqüência: 2. A igreja crescia significativamente por meio das conversões. Por que? Os não cristãos se sentiam atraídos aos cristãos e a sua comunidade. Por outro lado, os cristãos em sua sensação de certeza não tinham temor de dar testemunho de sua fé. Como resultado, o crescimento da igreja pode ser explosivo como testemunha Atos 2.47, E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.
Note: Muitas pessoas pensam que qualquer derramamento emocional é um avivamento espiritual. Somente quando a emoção é o resultado das dinâmicas da renovação pessoal (uma experiência do evangelho lei-amor), então, o resultado será o embelezamento que o mundo percebe e que conduz a troca rela do caráter e significativo crescimento da igreja.
Tempo de força
Posteriormente, se as dinâmicas de renovação são fortes, estas impulsionam aos novos cristãos a comunidade. A medida que o numero de cristãos cresce e se incrementa sua compreensão das implicações do evangelho para toda a vida, duas atividades que podem mudar o mundo ao redor da igreja vem como resultado. Primeiro, o evangelho implica uma vida de serviço as pessoas em necessidade. Portanto, os avivamentos historicamente vem acompanhados de boas obras, isto é, cristão que respondem as necessidades sociais, juntando-se ao seu meio, para resolver os problemas sociais de suas comunidades.
A renovação espiritual nasce de contemplar a obra de Cristo, que satisfez plenamente a lei e o amor de Deus. William Cowper descreve maravilhosamente seu impacto.
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E ouvir sua voz de perdão,
Transforma o escravo em filho e o dever em eleição
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Este processo de transformação é explicado nas obras de Jonathan Edwards, em The Distinguishing Marks of the Spirit of God e The Religious Affections . Resumindo o que ele disse que a renovação verdadeira tem 3 marcas :
2. Há um coração que responde. Como vemos a lei e o amor de Deus satisfeitos, nos humilhamos e nos decidimos corajosamente que já é hora de conhecermos quem somos através da graça. Isto é algo único. Sem evangelho, a humildade e a coragem somente podem crescer a cargo de uma ou de outro.
3. acontece uma vida transformada. A única maneira de saber que a renovação não é uma mera experiência emocional, é saber se ela está enraizada na verdade, de coração, é ver que acontecem transformações permanentes no caráter e na conduta. Estas serão graduais, mas sempre permanentes.
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Assim como a experiência da tensão lei-amor conduz a respostas únicas dentro do individuo, também produz tais na igreja renovada.
1. Doutrinal e também relacional. Sem o evangelho, as igrejas tem que enfatizar a verdade e os princípios que concernem as necessidades das pessoas. Mas, nas igrejas renovadas há uma ênfase tanto no ensino como na aplicação da verdade, como sobre ser companheiro e as relações interpessoais em geral. Não se faz uma escolha entre verdade e amor, ambos acontecem.
2. Palavra e ação. As implicações do evangelho conduzem os cristãos ao amor tanto em palavra como em ação. Por ser o evangelho verdade é natural que o desejo de espalhá-lo, desta maneira as igrejas renovadas são fortemente evangelísticas. Contudo, como somos salvos pelas riquezas de Cristo apesar da pobreza moral nossa, os cristãos sentem compaixão pelas pessoas que são materialmente pobres também.
3. Tanto formal como livre. Uma igreja renovada evita os problemas das igrejas moralistas e pragmáticas. Muitas igrejas conservadoras atribuem a Bíblia, costumes que são meramente culturais. Por outro lado, muitas igrejas liberais atribuem a ensinos bíblicos, um imperativo absoluto de elemento cultura. As igrejas renovadas se sujeitam as verdades bíblicas, contudo, são culturalmente flexíveis e criativas pois vivem na liberdade do evangelho.
4. Adoração em espírito e em verdade. Uma igreja renovada evita ter uma adoração do tipo escola dominical – orientada somente ao cognoscitivo- tanto como ao estilo oprimido - orientado ao emocionalismo-. Acontece uma adoração tanto espiritual como baseada na verdade. Será tanto meditativa como dinâmica.
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RONALDO LIDÓRIO: Konkombas
Este livro conta uma história não centrada em missionários com relatos puramente pessoais, mas sim em Deus levando o Seu evangelho a romper barreiras e enfrentar perseguições.
Konkombas prova como é possível ocorrer conversões, transformação de vidas e mentes, livramentos e milagres no nascer da Igreja. como resultado do conhecimento do sacrifício de Cristo.
No nordeste da Gana, África, um povo vivendo em meio à escuridão espiritual e sem o conhecimento do evangelho. Em nosso continente, a igreja brasileira envia um casal missionário com a proposta de comunicar a Palavra de Deus àquele povo. Assim, Ronaldo e Rossana Lidório chegam até uma região que pela primeira vez ouve a Palavra do Senhor.
O evangelho rmpeu barreiras, e a igreja nasceu em uma tribo africana. Essa é a história da ação de Deus entre os Konkombabimonkpeln.
Ao longo do relato do pastor Ronaldo Lidório em Konkombas, maravilhe-se com a graça de Deus, veja como o Senhor está construindo a sua igreja em nossos dias, observe o Senhor fazendo o impossível acontecer. E aproveite para refletir sobre quem é você nas mãos de Deus e sobre como o Senhor deseja usá-lo, seja perto seja longe.
Pr. Ronaldo Lidório é bacharel em Teologia e doutor em Antropologia Cultural pela Universidade de Londres. É missionário da Missão AMEM (A Missão de Evangelização Mundial) e da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), e antropólogo envolvido com o desenvolvimento sustentável em projetos sociais. Também é autor de Testuarando o Ardor Missionário, publicado pela CPAD.
domingo, dezembro 27, 2009
RENE GIRARD: A violência e o Sagrado
sábado, dezembro 26, 2009
C.S. Lewis : O Grande Abismo 2
ED RENE KIVITZ: O Livro mais mal humorado
sexta-feira, dezembro 25, 2009
ANNE ENRIGHT: O Encontro
Em "O encontro", a premiada escritora Anne Enright constrói um texto cheio de fúria e de poesia para narrar a história de uma numerosa família irlandesa que é obrigada a se reunir, depois de muito tempo afastada, para o funeral de um de seus membros. Através dos olhos de Veronica - mãe de duas meninas e casada com um homem que lhe é cada vez mais distante -, iremos conhecer o passado conturbado da família Hegarty e os dramas que envolveram sua avó, Ada, sua mãe e seus tios, e finalmente seus incontáveis - e desajustados - irmãos.Assombrada por lembranças que se fundem e se transformam ao longo dos anos, aniquilada pela morte trágica de Liam, seu irmão mais próximo, Veronica irá refazer a história da família para descobrir que, mesmo atormentada pela dor da perda e pela loucura, é possível alcançar a redenção. "O encontro" é um épico familiar, revelado pelas lentes de Anne Enright. É uma obra que ecoa os mestres do passado em um texto apaixonado e inesquecível.Anne Enright é uma das vozes mais originais da atual literatura irlandesa. E, ao receber o Man Booker Prize de 2007, o conceituado prêmio literário de língua inglesa, ela se confirma como uma das mais importantes autoras da atualidade. Seu estilo é único, sua narrativa é furiosa, vibrante, e o livro que compõe é um retrato de dor, mas ao mesmo tempo de esperança
segunda-feira, dezembro 21, 2009
LEONARD MLONDINOW: O Andar do Bêbado
Lembro-me de, quando adolescente, ver as chamas amarelas das velas do sabá dançando aleatoriamente sobre os cilindros brancos de parafina que as alimentavam. Eu era jovem demais para enxergar algum romantismo na luz de velas, mas ainda assim ela me parecia mágica - em virtude das imagens tremulantes criadas pelo fogo. Moviam-se e se transformavam, cresciam e desvaneciam sem nenhuma aparente causa ou propósito. Certamente, eu acreditava, devia haver um motivo razoável para o comportamento da chama, algum padrão que os cientistas pudessem prever e explicar com suas equações matemáticas. "A vida não é assim", disse meu pai. "Às vezes ocorrem coisas que não podem ser previstas." Ele me contou de quando, em Buchenwald, o campo de concentração nazista em que fi cou preso, já quase morrendo de fome, roubou um pão da padaria. O padeiro fez com que a Gestapo reunisse todos os que poderiam ter cometido o crime e alinhasse os suspeitos. "Quem roubou o pão?", perguntou o padeiro. Como ninguém respondeu, ele disse aos guardas que fuzilassem os suspeitos um a um, até que estivessem todos mortos ou que alguém confessasse. Meu pai deu um passo à frente para poupar os outros. Ele não tentou se pintar em tons heroicos, disse-me apenas que fez aquilo porque, de qualquer maneira, já esperava ser fuzilado. Em vez de mandar fuzilá-lo, porém, o padeiro deu a ele um bom emprego como seu assistente. "Um lance de sorte", disse meu pai. "Não teve nada a ver com você, mas se o desfecho fosse diferente, você nunca teria nascido." Nesse momento me dei conta de que devo agradecer a Hitler pela minha existência, pois os alemães haviam matado a mulher de meu pai e seus dois filhos pequenos, apagando assim sua vida anterior. Dessa forma, se não fosse pela guerra, meu pai nunca teria emigrado para Nova York, nunca teria conhecido minha mãe, também refugiada, e nunca teria gerado a mim e aos meus dois irmãos.
Meu pai raramente falava da guerra. Na época eu não me dava conta, mas anos depois percebi que, sempre que ele partilhava conosco suas terríveis experiências, não o fazia apenas para que eu as conhecesse, e sim porque queria transmitir uma lição maior sobre a vida. A guerra é uma circunstância extrema, mas o papel do acaso em nossas vidas não é exclusividade dos extremos. O desenho de nossas vidas, como a chama da vela, é continuamente conduzido em novas direções por diversos eventos aleatórios que, junta- mente com nossas reações a eles, determinam nosso destino. Como resultado, a vida é ao mesmo tempo difícil de prever e difícil de interpretar. Da mesma maneira como, diante de um teste de Rorschach, você poderia ver o rosto da Madonna e eu um ornitorrinco, podemos ler de diversas maneiras os dados que encontramos na economia, no direito, na medicina, nos esportes, na mídia ou no boletim de um filho na terceira série do colégio. Ainda assim, interpretar o papel do acaso num acontecimento não é como interpretar um teste de Rorschach; há maneiras certas e erradas de fazê-lo.
Frequentemente empregamos processos intuitivos ao fazermos avaliações e escolhas em situações de incerteza. Não há dúvida de que tais processos nos deram uma vantagem evolutiva quando tivemos que decidir se um tigre-dentes-de-sabre estava sorrindo por estar gordo e feliz ou porque estava faminto e nos via como sua próxima refeição. Mas o mundo moderno tem um equilíbrio diferente, e hoje tais processos intuitivos têm suas desvantagens. Quando utilizamos nossos modos habituais de pensar ante os tigres de hoje, podemos ser levados a decisões que se afastam do ideal, e que podem até ser incongruentes. Essa conclusão não é surpresa nenhuma para os que estudam o modo como o cérebro processa a incerteza: muitas pesquisas apontam para uma conexão próxima entre as partes do cérebro que avaliam situações envolvendo o acaso e as que lidam com a característica humana muitas vezes considerada a nossa principal fonte de irracionalidade, as emoções. Imagens de ressonância magnética funcional, por exemplo, mostram que risco e recompensa são avaliados por partes do sistema dopaminérgico, um circuito de recompensa cerebral importante para os processos motivacionais e emocionais.1 Os testes também mostram que as amígdalas cerebelosas - os lóbulos arredondados na superfície anterior do cerebelo -, também ligadas a nosso estado emocional, especialmente ao medo, são ativadas quando tomamos decisões em meio à incerteza.2
Os mecanismos pelos quais as pessoas analisam situações que envolvem o acaso são um produto complexo de fatores evolutivos, da estrutura cerebral, das experiências pessoais, do conhecimento e das emoções. De fato, a resposta humana à incerteza é tão complexa que, por vezes, distintas estruturas cerebrais chegam a conclusões diferentes e aparentemente lutam entre si para determinar qual delas dominará as demais. Por exemplo, se o seu rosto inchar até cinco vezes o tamanho normal em 3 de cada 4 vezes que você comer camarão, o lado "lógico" do seu cérebro, o hemisfério esquerdo, tentará encontrar um padrão. Já o hemisfério direito, "intuitivo", dirá apenas: "Evite camarão." Ao menos essa foi a descoberta feita por pesquisadores em situações experimentais menos dolorosas. O nome do jogo é suposição de probabilidades. Em vez de brincarem com camarões e histamina, os pesquisadores mostram aos participantes do estudo uma série de cartas ou lâmpadas de duas cores, digamos, verde e vermelho. A experiência é organizada de modo que as cores apareçam com diferentes probabilidades, mas sem nenhuma espécie de padrão. Por exemplo, o vermelho poderia aparecer com frequência duas vezes maior que o verde numa sequência como vermelho- vermelho-verde-vermelho-verde-vermelho-vermelho-verde-verdevermelho- vermelho-vermelho, e assim por diante. Depois de observar o experimento por algum tempo, a pessoa deve tentar prever se cada novo item da sequência será vermelho ou verde.
O jogo tem duas estratégias básicas. Uma delas é sempre arriscar na cor percebida como a que ocorre com mais frequência. Essa é a estratégia preferida por ratos e outros animais não humanos. Ao empregarmos essa estratégia, garantimos um certo grau de acertos, mas também aceitamos que nosso desempenho não será melhor que isso. Por exemplo, se o verde surgir em 75% das vezes e decidirmos sempre arriscar no verde, acertaremos em 75% das vezes. A outra estratégia é "ajustar" a nossa proporção de tentativas no verde e no vermelho conforme a proporção de verdes e vermelhos que observamos no passado. Se os verdes e vermelhos surgirem segundo um padrão e conseguirmos desvendar esse padrão, essa estratégia nos permitirá acertar em todas as tentativas. Mas se as cores surgirem aleatoriamente, o melhor que podemos fazer é nos atermos à primeira estratégia. No caso em que o verde aparece aleatoriamente em 75% das vezes, a segunda estratégia levará ao acerto em apenas cerca de 6 vezes de cada 10.
Os seres humanos geralmente tentam descobrir qual é o padrão e, nesse processo, acabamos tendo um desempenho pior que o dos ratos. Há pessoas, porém, com certos tipos de sequelas cerebrais pós-cirúrgicas que impedem os hemisférios direito e esquerdo de se comunicarem um com o outro - uma condição conhecida como cérebro dividido. Se o experimento for realizado com esses pacientes de modo que eles só consigam ver a luz ou a carta colorida com o olho esquerdo e só possam utilizar a mão esquerda para sinalizar suas previsões, apenas o lado direito do cérebro é testado. Mas se for realizado de modo a envolver apenas o olho direito e a mão direita, será um experimento para o lado esquerdo do cérebro. Ao realizarem esses testes, os pesquisadores descobriram que - nos mesmos pacientes - o hemisfério direito sempre arris- cava na cor mais frequente, e o esquerdo sempre tentava adivinhar o padrão.3
A capacidade de tomar decisões e fazer avaliações sábias diante da incerteza é uma habilidade rara. Porém, como qualquer habilidade, pode ser aperfeiçoada com a experiência. Nas páginas que se seguem, examinarei o papel do acaso no mundo que nos cerca, as ideias desenvolvidas ao longo dos séculos para nos ajudar a entender esse papel e os fatores que tantas vezes nos levam pelo caminho errado. O filósofo e matemático britânico Bertrand Russell escreveu:
Todos começamos com o "realismo ingênuo", isto é, a doutrina de que as coisas são aquilo que parecem ser. Achamos que a grama é verde, que as pedras são duras e que a neve é fria. Mas a física nos assegura que o verdejar da grama, a dureza das pedras e a frieza da neve não são o verdejar da grama, a dureza das pedras e a frieza da neve que conhecemos em nossa experiência própria, e sim algo muito diferente.4
A seguir, olharemos o mundo pela lente da aleatoriedade e veremos que, também em nossas vidas, muitos dos acontecimentos não são exatamente o que parecem ser, e sim algo muito diferente.
domingo, dezembro 20, 2009
ED RENE KIVITZ: Vencendo a injustiça
quinta-feira, dezembro 17, 2009
José Ferraz de almeida Júnior
terça-feira, dezembro 15, 2009
C.S. Lewis: Cartas de um diabo a seu aprendiz
Uma vez que você o persuada a considerar o Mundo uma finalidade e a fé um meio, você quase terá vencido o seu homem, já que é muito difícil perceber a pequena diferença entre uma finalidade mundana e o que ele está perseguindo.
Daí decorre que praticamente todos os vícios tem suas raízes no Futuro. A Gratidão olha para o Passado e o amor enfoca o Presente; mas o medo, a avareza, a luxúria e a ambição sempre estão olhando para frente. Não pense na luxúria e sensualidade como exceções. Quando o prazer presente chega, o pecado (que é unicamente o que nos interessa) já havia acontecido. O prazer é apenas a parte do processo que detestamos, e se pudéssemos, certamente o excluiríamos do processo; ele é exatamente a parte proporcionada pelo Inimigo, e é sempre experimentado no Presente. O pecado que nós conseguimos produzir, encarou o futuro.
Carta 15
a busca por uma igreja que combine com ele faz do homem, um crítico, quando, na verdade, o Inimigo quer que ele seja apenas um aprendiz
carta 16
Primeiro, fazemos d´Ele (Jesus) um simples mestre, e depois escondemos a própria semelhança que existe entre Seus ensinamentos e aqueles de todos os outros grandes mestres morais. Pois não devemos permitir que os homens percebam que todos os grandes moralistas sã enviados pelo Inimigo - não para informar os homens, e sim para relembrá-los , para estabelecere aquelas obviedades morais primordiais, opondo-se ao contínuo obscurecimento que fazemos delas"
carta 23
segunda-feira, dezembro 14, 2009
C.S. Lewis: O Grande Abismo
“Seria muito melhor não ficar repisando esse assunto agora.”
“Quem está repisando? Não discuto. Estou só lhe dizendo como eu era. Não estou pedindo nada senão os meus direitos. Você pensa que pode me olhar de cima só porque está vestido desse jeito (e não estava quando trabalhava comigo) e eu não passo de um pobretão. Mas tenho de ter os meus direitos do mesmo modo que você, está vendo?
“O, não. Não é tão mau assim. Não tenho direitos. Caso contrário não estaria aqui. Você também não irá obter os seus. Vai ganhar algo muito melhor. Não tenha medo.”
“E isso que estou dizendo. Não tenho direitos. E sempre fiz o meu melhor e nunca nada errado. E não vejo porque devo ser considerado inferior a um reles assassino como você.”
“Quem disse que vai? Alegre-se e venha comigo.”
“Por que continua falando desse modo? Só estou dizendo como sou. Só quero os meus direitos. Não estou pedindo piedade de ninguém.”
“Então faça justamente isso. Peça piedade. Tudo aqui é recebido quando se pede e nada pode ser comprado.”
“Isso pode ser muito bom para você, tenho certeza. Se eles deixam entrar um miserável homicida só porque ele pede piedade na última hora, isso é problema deles. Mas eu não estou no mesmo barco que você, percebe? Por que deveria? Sou um homem decente e se tivesse os meus direitos já estaria aqui há muito tempo, e pode dizer isso a eles.”
CESARE MILOSZ: Significado
Quando eu morrer, verei o avesso do mundo.
O outro lado, além do pássaro, da montanha, do poente.
O significado verdadeiro, pronto para ser decodificado.
O que nunca fez sentido fará sentido,
o que era incompreensível será compreendido.
Mas e se o mundo não tiver avesso?
Se o sabiá na palmeira não for um signo,
Mas apenas um sabiá na palmeira? Se a
seqüência de noites e dias não fizer sentido?
E nessa terra não houver nada, apenas terra?
Mesmo se assim for, restará uma palavra
despertada por lábios agonizantes,
mensageira incansável que corta e corre através de
campos interestelares, galáxias que giram,
EUGENE PETERSON: Fofoca
Eugente Peterson, Aprendendo a adorar com o Apocalispse de João, in Espiritualidade Subversiva, p.111
terça-feira, dezembro 08, 2009
Eugene Peterson: Espiritualidade Subversiva
Sobre McLuhan:
segunda-feira, dezembro 07, 2009
HAROLD KUSHNER: Eclesiastes
quarta-feira, dezembro 02, 2009
EUGENE PETERSON: Pregação
HENRI NOUWEN: Pentecoste
terça-feira, dezembro 01, 2009
HENRI NOUWEN: Integridade
segunda-feira, novembro 30, 2009
domingo, novembro 29, 2009
ENRIQUE VILLA-MATAS: Bartleby
ADÉLIA PRADO: O poeta ficou cansado
ALESSANDRO ROCHA: Espírito Santo: aspectos de uma pneumatologia solidária a condição humana
terça-feira, novembro 24, 2009
JACOB BURCKHARDT: A cultura do Renascimento na Itália
Companhia de Bolso, 2009, 504 páginas.
ESTADO MODERNO
"A ficção genuinamente moderna da onipotência do Estado: o principe deve cuidar de tudo, construir e manter igrejas e edíficios públicos, conservar a polícia municipal, drenar os pântanos, zelar pelo vinho e pelos cereais, distribuir com justeza os tributos, dar apoio aos desamparados e as doentes e dedicar sua proteção e convívio a eminentes eruditos, uma vez que estes cuidarão da sua glória junto à posteridade" p. 42
VENEZA E FLORENÇA
"Dentre as cidades que preservaram sua independência, duas são da maior importância para toda a história da humanidade: Florença - a cidade em constante movimento, que nos legou testemunho de todas as idéias e propósitos individuais e coletivos daqueles que, ao longo de três séculos, tomaram parte nesse movimento- e Veneza- cidade da aparente ausência de movimento e do silêncio político. A contraposição das duas revela os mais gritantes contrastes imagináveis, ambas, porém, não admitem comparação com nada neste mundo" p. 87
sábado, novembro 21, 2009
Dilma é inocente
seg, 09/11/09
por Guilherme Fiuza
Ela não tem culpa. Está sendo só ela mesma. Passeia de mãos dadas com o padrinho, reclama da imprensa burguesa, fuxica informações do governo anterior. Isto é Dilma Rousseff.
O problema são os outros. A opinião pública brasileira é comprável com meio slogan. Caetano Veloso, querendo criticá-la, sem querer abençoou a fraude. O mal de Dilma, segundo o compositor, é ser apenas uma gestora, sem experiência política.
Haja paciência. A única verdade incontestável no currículo de Dilma Rousseff – fora as que ela mesma cria – é ser uma militante. Venerável Caetano: política é a única coisa que a ministra-chefe da Casa Civil fez até hoje.
Quem lhe disse que Dilma é gestora? Lula? Os jornais? Procure saber você mesmo. Descubra, se puder, uma única experiência de gestão bem-sucedida da suposta dama de ferro.
A auto-intitulada companheira de armas de José Dirceu fez na vida o que dez entre dez políticos da DisneyLula fazem: buscar o poder, grudar nele, abrir espaços para a companheirada na sombra do Estado brasileiro.
Avalie a gestão mais conhecida de Dilma Rousseff, à frente do Ministério das Minas e Energia (na Casa Civil ela só conspira, faz campanha e brinca de mãe do PAC, portanto não conta). Caetano, você ouviu falar que as concessionárias de energia elétrica estão devendo bilhões de reais ao consumidor, por cobranças excessivas na conta de luz?
Pois bem: isso é uma das obras-primas da famosa gestora Dilma Rousseff.
Copiando o populismo tarifário argentino, a candidata de Lula baixou na marra o preço da energia – como sempre, em nome do povo. É o crime perfeito: o povo fica feliz agora, e se dá mal mais tarde, com a falência das empresas do setor, que acabarão sendo socorridas pelo Tesouro – isto é, por todos nós.
Desta vez, as empresas deram um jeitinho, dentro do fantástico modelo criado pela gestora Dilma, de já ir abatendo o prejuízo no caminho. O contribuinte vai se ferrar lá na frente, e o consumidor já vai se ferrando agora. Um lembrete: ambos são a mesma pessoa – você –, vítima da grande gestora.
Alguém tem notícia de que a cobrança exorbitante e ilegal será devolvida às vítimas? Alguém ouviu alguma garantia nesse sentido da ministra mais poderosa do governo?
Ninguém tem, ninguém ouviu. Por uma razão simples: Dilma Rousseff não é uma autoridade de fato, não está administrando (gerindo!) os problemas do Brasil. Está cuidando do seu projeto eleitoral. Fazendo política – que é o que se dispõe a fazer.
Nada disso aparece na pasmaceira que é o debate político brasileiro. Todos os gatos por aqui têm status de lebre. Maluf inventa o “gestor” Celso Pitta, e a manada só grita depois do cofre arrombado. E lá vamos nós de novo, Caetano.
O verdadeiro analfabeto brasileiro é o eleitor.
sexta-feira, novembro 20, 2009
GRACILIANO RAMOS: Angústia
"Há nas minhas recordações estranhos hiatos. Fixaram-se coisas insignificantes. Depois um esquecimento quase completo" — confessa Luís da Silva em Angústia. E depois: "Como certos acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento." E acrescenta: "Não sei se com os outros se dá o mesmo. Comigo é assim." É assim com todos nós outros, quando entramos no mundo empastado e nevoento, noturno, onde os romances de Graciliano Ramos se passam: no sonho. Os hiatos nas recordações, a carga de acontecimentos insignificantes com fortes afetos inexplicáveis, eis a própria "técnica do sonho", no dizer de Freud. Álvaro Lins, no melhor artigo que se escreveu sobre Graciliano Ramos, observou agudamente a abstração do tempo — "Mas no tempo não havia horas", cita o crítico —, e acrescenta: "Os outros personagens são projeções do personagem principal. Julião Tavares e Marina só existem para que Luís da Silva se atormente e cometa o seu crime. Tudo vem ao encontro do personagem principal — inclusive o instrumento do crime". Estas palavras do crítico constituem a chave da obra do romancista: descrevem perfeitamente a nossa situação no sonho, em que tudo é criação do nosso próprio espírito. Explica-se assim o extremo egoísmo dos heróis de Graciliano Ramos: é o egoísmo daquele que sonha e para o qual, prisioneiro dum mundo irreal, só ele mesmo existe realmente. A mentalidade inteiramente amoral do sonho exclui, decerto, toda "generosidade"; mas a substitui por um sentimento mais vasto de identificação quase mística com as criaturas da própria imaginação, até a cachorrinha Baleia: "Tat twam asi."
O extremo egoísmo do sonho engendra o motivo principal do romancista: cobiça de propriedade. Propriedade de terra, de mulher, em São Bernardo; aqui e em Angústia, a forma extrema desta cobiça, o ciúme. Por isso, nos romances de Graciliano Ramos, esses afetos ultrapassam toda medida; sugerem, ao lado dos afetos análogos na vida real, a impressão de sentimentos patológicos. E quando o autor considera os monstros da sua angústia de sonho, lança o seu grito mais elementar: "Dinheiro e propriedade dão-me sempre desejos violentos de mortandade e outras destruições."
"Ai quando virá o anjo da destruiçãop’ra acabar com a minha memória..."
(Murilo Mendes).
Todos os romances de Graciliano Ramos — e este é o sentido do seu experimentar — são tentativas de destruição; tentativas de "acabar com a minha memória", tentativas de dissolver as recordações pelos "estranhos hiatos" dum sonho angustiado. Trata-se de saber que mundo de recordações se dissolve assim.
A resposta é bastante difícil. Surge, ainda uma vez, o clichê do "sertanejo culto" e sugere aos críticos a idéia de que o romancista está furioso contra o ambiente selvagem do seu passado. Mas não é assim. Não é o sertão o culpado; Vidas secas é o seu romance relativamente mais sereno, relativamente mais otimista. O culpado é — superficialmente visto, numa primeira aproximação — a cidade. O herói de Graciliano Ramos é o sertanejo desarraigado, levado do mundo primitivo, imóvel, para o mundo do movimento. É o vagabundo ("um pobre nordestino..."); e explica-se o seu ódio balzaquiano ao mundo burguês, que conseguiu a estabilidade relativa do comércio de secos e molhados. Esta vagabundagem é o aspecto sociológico do egoísmo do sonho quando se choca com a realidade. É o desejo violento do vagabundo de restabelecer-se na terra: "Como a cidade me afastara de meus avós!" Mas é apenas uma explicação em primeira aproximação: pois Paulo Honório consegue o seu fim, e, contudo, é uma vida malograda. Por quê? Porque o seu criador quer mais do que terra, casa, dinheiro, mulher. Quer realmente voltar aos avós. Voltar à imobilidade, à estabilidade do mundo primitivo. E para atingir este fim, deve antes destruir o mundo da agitação angustiada, à qual está preso.
Os romances de Graciliano Ramos são experimentos para acabar com o sonho de angústia que é a nossa vida. Uma lenda budista conta dum homem que correu, ao sol do meio-dia, para fugir à sua sombra, que o angustiava; correu, correu, sempre perseguido pelo companheiro sinistro, até que encontrou o grande Sábio, que lhe disse: — "Não continues a fugir! Assenta-te sob esta árvore!" E como ele parou, a sombra desapareceu. A sombra sobre o mundo de Graciliano Ramos não é a sombra da árvore da salvação, mas a do edifício da nossa civilização artificial — cultura e analfabetismo letrados, sociedade, cidade, Estado, todas as autoridades temporais e espirituais, que ele convida ironicamente — no começo de São Bernardo — a colaborar na sua obra de destruição. Mas eles mostram-se incapazes de cometer o suicídio proposto. Entrincheiram-se na "dura realidade", imposta a todas as criaturas do Demiurgo, e que se arroga todos os atributos da eternidade. O romancista, porém, não se conforma. Transforma esta vida real em sonho — pois do sonho, afinal, se acorda. Então, as disposições funestas do Demiurgo seriam revogadas, e o destruidor poderia dizer, com o Gide das Nouvelles Nourritures: "Table rase. J’ai tout balayé. C’en est fait. Je me dresse nu sur la terre vierge, derrière le ciel à repeupler."6
O fim é o estado primitivo do mundo — o céu repovoado. Então, a angústia já não assusta.
"Black is night’s cope;But death will not appalOne who, past doubting all,Waits in unhope."
Foi a última sabedoria poética do romancista Thomas Hardy, versos duros, populares e clássicos ao mesmo tempo, rimados em sinal da concordância resignada com o mundo. É possível que o romancista Graciliano Ramos escreva também, um dia, tais versos, duros, populares e clássicos ao mesmo tempo, versos tradicionais, como o velho Hardy. Mas não serão rimados. Serão versos brancos. Pois a primeira rima de Graciliano Ramos já anunciaria o Fim do Mundo.
terça-feira, novembro 17, 2009
FRANK VIOLA: Reimagining Church 2
"The older man is the founder of organized religion. Organized religion is built on human ritual and hierarchy. By contrast, Christianity began as organic. But as time went on, it adopted the hierarchical structure of the Roman Empire. All of our denominations have adopted that same organizational structure. This structure can be traced to the old man. It originally came from the Babylonians and was passed on to the other cultures, including the Romans" p. 142
terça-feira, novembro 10, 2009
PHILIP ROTH: Indignation
Vintage, 2008, p.95
Neste romance, Philip Roth surpreende críticos e leitores com uma história que escapa completamente à temática de seus últimos trabalhos, como Homem comum e o Fantasma sai de cena, que versavam sem meios tons sobre o fim da vida e suas mazelas físicas e espirituais. O que temos agora é a experiência iniciática de um jovem de dezoito anos, Marcus Messner, nascido e criado em Newark, Nova Jersey, esbanjando vigor, ambição, ousadia e desejos irrefreáveis ao ingressar na vida adulta.Filho único de um açougueiro kosher superprotetor, Messner busca uma faculdade do Meio-Oeste americano, bem longe de casa, o que lhe permite escapar da sufocante vigilância do pai, da medíocre universidade local onde cursara o primeiro ano e de suas funções como ajudante no açougue. Corre o ano de 1951, e os Estados Unidos enfrentam uma guerra cruenta na Coreia, conflito que paira como ameaça letal sobre o agora segundanista de direito em risco de ser convocado para lutar no front, caso não consiga se destacar nos estudos acadêmicos e no curso para o oficialato. Furtando-se, pois, a vícios, prazeres e uma vida social universitária, o personagem-narrador se entrega aos estudos de forma a jamais tirar menos que 10 em todas as matérias.Entretanto, um poderoso obstáculo se interpõe nos planos de Messner: seu próprio temperamento, irredutível a convenções hipócritas, como assistir a preleções obrigatórias sobre a Bíblia na igreja evangélica do campus e participar do mundinho das fraternidades. Isso sem contar a irrupção anárquica do sexo e do amor em sua vida, na figura tão adorável quanto enigmática de sua colega de classe Olivia Hutton.Indignação demonstra com sutil maestria as vias insuspeitas que conduzem eventos e escolhas aparentemente banais na vida de um jovem a resultados de uma gravidade desproporcional. Roth exibe neste romance curto, mas de enorme densidade humana, social, política e literária, um inconformismo explosivo de adolescente em busca de seus próprios caminhos na vida, alguns dos quais poderão incitar a ira vingativa de uma sociedade conservadora gerida por mentes tacanhas.
domingo, novembro 08, 2009
After Philip Roth, where next?
And this points to the more urgent question that will crop up increasingly in coming years. Despite Roth wanting to have them all shot, critics will be asking: can we imagine a world without Roth? "I can't see an American writer coming along who is replacing Roth," says Jay Prosser, who teaches American literature at the University of Leeds. "He writes with his ear – his novels are completely driven by his voice." There is a singularity of voice in Roth's work which is hard to find elsewhere. The current crop of high-profile American writers – such as Dave Eggers, Jonathan Safran Foer and the late David Foster Wallace – have raised technicality to an art form, but it would be hard to argue that they drive their novels home with the same ferocious intensity.
And a piece of American history will also fall into the sea when Roth goes. Now the last one standing from the big-hitting male American writers who shot to fame alongside him, Roth came of age when writing the Great American Novel was still an embodiment of the American dream. Tom Wolfe wrote in 1972 that the novel was "one of the last of those superstrokes, like finding gold, through which an American could, overnight, utterly tranform his destiny".
Now that novels have to compete in the attention economy along with everything else, younger American writers have found themselves emerging on lower pedestals. David Foster Wallace argued in the 1990s that American fiction writers under 40 operate in a media-saturated realm which separates them from the likes of Roth, Updike and Bellow. It could well be that American novelists never again achieve the same level of mythology as Roth.