quarta-feira, junho 27, 2012

Pensando liderança a partir de Henri Nouwen



Para Henri Nouwen em "O Curador Ferido", o grande problema das pessoas hoje podem ser pensados em três aspectos: a questão interior mal resolvida, a ausência de pais e a inquietude. A liderança cristã deve ser um articulador da vida interior, um homem compassivo  e o líder como um crítico contemplativo.

O ministro deve clarificar o mundo interior das pessoas, para tanto ele deve ser capaz de articular em sua própria vida e experiência. O líder cristão é o que guia a confissão, segundo Nouwen, que homem é homem e Deus é Deus e de quem sem Deus, o homem não pode ser homem.

Não se trata de técnicas, mas relacionamento numa caminhada de fuga da terra da confusão para a terra da esperança. 

Pensando em minhas conversas com Carlos McCord, as definições vem sempre antes, saber o que é fé, o que é conversão e o que é frutificação. O grande problema hoje é a multidão de definições e indefinições que existem no mundo e no mercado o que gera uma maior confusão das pessoas e da própria liderança a respeito de sua vida interior.

A segunda questão que Nouwen levanta é sobre a carência dos papéis paternos, a resposta dele é compaixão. A compaixão torna-se autoridade porque não cede as pressões de grupo, aponta a possibilidade do perdão e da humildade. 

Contudo, há o grande perigo de uma paternalização da liderança.

A terceira característica resposta do ministro é que ele deve ser um ministro contemplativo. 

Nouwen diz que hoje há uma completa inquietude na geração atual devido a falta de ideais por causa da ausência de pais e também da falência de utopias. Para pensarmos esta questão ainda mais vamos dialogar com o sociologo Zygmunt Bauman, em seu Vidas Desperdiçadas:


Os problemas de hoje mudaram: são relacionados aos objetivos, e não limitados pelos meios. As rotinas de outrora, alvos dos vitupérios e da indignação de tantos, enquanto elas estavam em pleno vigor, foram agora abandonadas -levando consigo para o túmulo aquele crédito que inspirava segurança. Agora não se trata mais de encontrar meios para atingir fins definidos de modo claro e então segurá-los com firmeza e usá-los com o máximo de habilidade para obter o maior efeito possível. A questão agora é a indefinição (e com muita freqüência o irrealismo) dos fins - que se desvanecem e dissolvem mais depressa que o tempo necessário para atingi-los, são indeterminados, não-confiáveis e comumente vistos como indignos de comPromisso e dedicação eternos. As regras de admissão aos trajetos estabelecidos e as permissões de embarque também não merecem mais confiança. Se não desapareceram  de todo, tendem a ser eliminadas e substituídas sem aviso. O mais importante é que, para qualquer um que tenha sido excluído e marcado como refugo, não existem trilhas óbvias para retornar ao quadro dos integrantes.  (p. 25)


Como pode o líder ajudar esta geração a encontrar lugares para criatividade e ser realmente um agente de mudança?  Para Nouwen, o ministro que descobre em si mesmo a voz do Espírito Santo e redescobre os homens como seus companheiros de viagem, ajudando-se na compaixão mútua, pode ver as pessoas e revelar a elas atos de um novo mundo. Como um contemplativo crítico, no dizer de Nouwen,  não está absorvido pela ordem do dia e nem distanciado da beleza do dia.

Assim olha o mundo olhos críticos e ao mesmo tempo compassivos.

Para Nouwen, o homem de oração é capaz de descobrir nos outros a face do Messias, e fazer visível aquilo que está ocultado, fazer palpável o que é inalcançável.



O lider cristão é como um artista que dá expressão as preocupações pessoais de outras pessoas. A fé no significado e no valor da vida é um princípio da liderança cristã.  O líder cristão não é líder porque anuncia uma nova idéia e tente convencer os demais do seu valor, é porque encara o mundo com os olhos cheios de expectativa, com habilidade de arrancar o véu que cobre todas as potencialidades escondidas.


O líder cristão é um homem de esperança, que não vem de uma auto-confiança baseada em sua personalidade, nem tampouco de uma expectativa concreta sobre o futuro, mas da promessa que lhe foi dada.


Nouwen lembra que construir uma liderança cristã com esperança de resultados concretos  é como construir uma casa na areia, e até nos tira a capacidade de  aceitar os êxitos como  um dom gratuito.


Esperar o amanhã como um ato de liderança cristã exige uma preocupação pessoal, uma profunda fé no valor  e no sentido da vida e uma forte esperança que rompe as barreiras da morte.


No quarto capítulo, Henri Nouwen fala sobre o ministério levado a cabo por um ministro sozinho, o que cura desde suas feridas. Ele lembra que o Messias é reconhecido pelas suas feridas que curam. Ele é ao mesmo tempo o ministro ferido e o ministro que cura.


Quais são as feridas do ministro ferido: isolamento, alienação, solidão  e separação.  A solidão talvez seja a palavra mais característica, vivemos numa sociedade de competência e rivalidade que levam ao isolamento. Contudo, no entender de Nouwen, devemos entender que a nossa solidão é parte também da nossa condição humana, que nos ajuda a compreender o ser humano. 


O ministro também sofre um outro tipo de solidão, quando começa a notar que seu impacto sobre os demais está diminuindo. Ao ministro se pede que fale sobre as últimas preocupações, mas fica isolado externamente pela cortesia.


A ironia é que o ministro que quer mexer no centro da vida dos homens, se encontra ele mesmo na periferia, buscando inutilmente que o admitam. Um conhecimento profundo de sua própria dor permite converter sua debilidade em força e oferecer sua própria experiência  como fonte de cura para os demais que estão perdidos na escuridão de seu sofrimento incompreendido.


O ministro que cura a partir de suas feridas,  fazer de suas  feridas uma fonte de cura não é uma chamada para compartilhar as dores pessoais superficiais, senão um constante desejo de ver o sofrimento de si mesmo como surgindo do fundo da condição humana que todos compartilhamos. 


Nouwen desenvolve o conceito de hospitalidade, para ela converter-se em poder curativo abarca dois conceitos: interiorização e comunidade. Nossa presença não é ameaçadora ou exigente, mas acolhedora e libertadora.










Bibliografia:

BAUMAN, Zygmunt Comunidade: a busca por segurança no mundo atual

NOUWEN, Henri El Sanador Herido

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