quarta-feira, janeiro 30, 2013

Tim Keller: Contextualização Intencional




O livro Center Church é dividido em três partes: evangelho, cidade e movimento. A segunda parte do livro Center Church irá falar sobre a Cidade,uma igreja de centro não nem não-contextualizada  nem super-contextualizada, porque a cidade tem tanto potencial para o florescimento humano como para a idolatria, o ministério deve ser equilibrado, usando o evangelho para apreciar e desafiar a cultura de acordo com a verdade de Deus.  Esta seção sobre CIDADE se divide em três partes:

A contextualização do evangelho, onde se buscará fundamentos bíblicos para uma contextualização equilibrada.

A visão da cidade, onde se examinará aspectos chaves sobre o entendimento de como uma cidade se desenvolve como tema através das Escrituras, desde suas raízes contra Deus até sua redenção em glória.
O engajamento cultural, onde se discutirá 4 modelos para se engajar na cultura, colocando as forças e fraquezas de cada modelo.

CAP. 7-  CONTEXTUALIZAÇÃO INTENCIONAL.

O capítulo 7 está na parte que fala sobre a contextualização, tem o título de  Contextualização Intecional. Tim Keller começa falando de sua experiência na agência Redeemer City to City que promove plantação de igrejas, falando das dificuldades das igrejas chineses e holandeses em se estabelecerem nos grandes centros urbanos, precisavam adaptar o ministério que funcionava nas áreas rurais para os centros urbanos, ou seja, contextualização.


BOA CONTEXTUALIZAÇÃO.
Não é dar as pessoas aquilo que elas querem ouvir. É dar as respostas bíblicas para as questões que elas tem em suas vidas que talvez não queiram ouvir, mas que podem compreender através de apelos e argumentos que forçam elas a aceitarem ou rejeitarem. Uma contextualização boa significa traduzir e adaptar a comunicação e ministrério do evangelho para uma cultura particular sem compromissar a essências e as particulariedades do evangelho. A grande tarefa é expressar a mensagem do evangelho para uma nova cultura de um modo que evite fazer aquela mensagem desnecessária para aquela cultura, sem remover ou obscurecer o escândalo e a ofensa da verdade bíblica. O evangelho contextualizado é marcado por clareza e atratividade, e ainda assim, desafia pecados auto-suficientes e chama-os ao arrependimento. Se nós falhamos em adaptar a uma cultura ou falhamos em desafiar, nosso ministério pode ser infrutífero.
O melhor exemplo, diz Keller, é quando pensamos num sermão que ouvimos que era bom biblicamente e perfeito doutrinariamente, contudo, muito chato que fez você querer chorar. Talvez seja a mecânica monótona, ou mesmo, apesar de ser perfeito doutrinariamente, ele era irrelevante.  O ouvinte poderia dizer, você me mostrou algo que pode ser verdade, mas não me importo. Não vejo como isto pode transformar como eu penso, sinto ou ajo. Um sermão chato é chato porque falha em trazer a verdade para a vida diária dos ouvintes. Não há uma conexão com as esperanças, narrativas, medos e erros das pessoas num tempo e espaço em particular.  Quando há uma boa contextualização mostramos às pessoas como as narrativas culturais de sua sociedades e as esperanças de seus corações apenas podem ser preenchidas com Jesus. Algumas culturas são pragmáticas e levam seus membros a posses e poder. Algumas são individualistas e levam seus membros a procurar liberdade pessoal acima de tudo. Outras são culturas de honra e vergonha, com ênfase no respeito, reputação, dever e família. Algumas culturas são discursivas e colocam o valor nas artes, filosofia e aprendizagem. Estas são as narrativas culturais porque são estórias que as pessoas contam sobre si mesmas para ter algum sentido de existência. Contudo, qualquer que seja esta narrativa, apenas uma boa contextualização mostra que suas histórias só podem ter final feliz em Jesus.
Cultura toca cada aspecto da vida das pessoas no mundo, como lingua, música e arte. Toma matéria prima e cria um ambiente. Quando tomamos uma matéria bruta e transformamos  num prédio, em música, em roupa, estamos criando um ambiente que chamamos de cultura.Buscamos leva uma ordem para servir às algumas verdades que temos sobre a realidade do mundo que vivemos.
Keller cita Linwood Barney que pensa a cultura como uma cebola. No interior de cada cultura está a cosmovisão, um conjunto de crenças normativas sobre o mundo, cosmologia e a natureza humana, crescendo imediatamente está o conjunto de valores- o que é considerado bom, verdadeiro e belo. A terceira camada é um conjunto de instituições que cuidam dela- justiça, educação, vida familiar, governo com base nos valores e na cosmovisão. Finalmente, vem as partes mais visíveis, os costumes e comportamentos, os produtos materiais, o ambiente construído.  Alguns criticam este pensar porque não é fidedigno às relações entre as camadas.
A contextualização deve levar em conta todos estes aspectos. Não busca mudar apenas o comportamento, mas a visão de mundo. Não significa apenas adaptar o homem superficialmente. A cultura afeta cada parte da vida humana, determina como decisões serão tomadas, como emoções são expressas, o que é considerado como público e como privado, como indivíduos se relacionam com o grupo, como poder social é usado, e como relacionamentos são conduzidos. Nos dá um entendimento distinto de nosso tempo, de resolução de conflitos, solução de problemas.
Citando David Wells que diz: a contextualização não é meramente a aplicação da doutrina bíblica mas a tradução da doutrina dentro de uma conceituação que tece com a realidade das estruturas sociais e os padrões de vida dominantes na nossa vida contemporânea. A habilidade nisto é uma das chaves para um ministério efetivo.

UMA BREVE HISTÓRIA DO TERMO.
O termo foi usado em 1972 por Shoki Coe, que questionou a validade do movimento de igreja nativa de Henry Venn e Rufus Anderson. Antigos missionários plantaram igrejas, quer mantiham o controle das igrejas deixando aos nativos um papel secundário. Como também dirigiam as igrejas de modo ocidental. Os movimentos nativos pediam que os missionários vissem a si mesmos como trabalhadores temporários que deixariam suas igrejas com os nativos para que as igrejas pudessem ser ministradas nas linguas, musicas e cultura nativas. Este foi um passo importante na missão. Contudo Coe, via as formas de estrutura da igreja muito ocidentalizadas e não eram encorajadas para comunicar a mensagem com a cultura local, oTheological Education Fund of the World Council of Churches foi a primeira agência a usar este novo termo e buscar isto como sua missão.
Contudo, este primeiro uso foi sob a influência de Bultmann e Kasermann, teólogos que insistiam que o Novo Testamento era uma adaptação da cultura grega que não tinha validade. Eles diziam que os crentes estavam livres para determinar a verdade interna da revelação bíblica e descartar ou adaptar o resto. Esta aproximação assume que tanto o texto – a Bíblia- como o contexto -  a cultura- são autoridades relativas e iguais. Através de um processo dialético, procuramos uma forma particular de verdade cristã que se encaixe na cultura. Virtualmente, qualquer parte da fé cristã, a trindade, a deidade de Jesus poderiam ser encaixadas em um novo conteúdo, dependendo da cultura. Em nome da contextualização, a igreja tinha um potencial para realizar mudanças radicais na doutrina histórica cristã. Há uma ironia aqui, porque a intenção era sair da imposição de formas ocidentais, mas acabaram ficando sobre outras imposições. A contextualização sem uma bíblia como autoridade é uma visão moderna de alguns teólogos ocidentais, que aceitaram o ceticismo do ilumismo sobre milagres e o sobrenatural. Agora não estavam mais imposta a visão conservadora ocidental, mas a visão liberal ocidental.

O PERIGO DA CONTEXTUALIZAÇÃO.
Por causa disto, muitos tem críticas à contextualização. Em todos os casos, os valores da cultura ganham preferência sobre a autoridade da Escritura.
Keller cita J. Gresham Machen, que escreveu sobre o liberalismo teológico, que eles estavam tentando entender qual a relação do cristianismo com a cultura moderna, como o cristianismo poderia ser mantido numa era científica? Admitindo as objeções contra certas particularidades do cristianismo, como a pessoa de Cristo,  a redenção por sua morte e ressurreição. Os teólogos liberais procuraram guardar alguns princípios gerais da religião, dos quais estas particularidades foram consideradas como meros símbolos. O que ela manteve foi só religião, já que o cristianismo é totalmente distinto. Machen falando de sua cultura, a classifica como naturalista, que rejeita intervenção sobrenatural por Deus. Tudo tinha que ter uma explicação natural, científica. O problema com o cristão liberal dos dias de Machen é que ele preferiu sua cultura em detrimento às Escrituras. Dando um exemplo, salvação, a expiação de Jesus é agora apenas um exemplo de como viver, o cristão não tem que nascer de novo, mas viver como Jesus, mudou o evangelho da salvação pela graça pela religião da salvação pelas boas obras.
Outra forma é o sincretismo religioso, que é colocar o evangelho debaixo de outra religião. Quando se coloca que algumas partes essenciais permanecem e outras podem ser flexibilizadas, é um erro pensar que algumas partes são mais essenciais que outras. Keller cita Havie Conn que argumenta que o sincretismo acontece quando em nome da cultura se proibi toda a escritura de falar. Cada cultura encontra partes mais atraentes e outras mais ofensivas, é natural, então, achar que as mais atraentes são mais importantes e essenciais que as ofensivas. Sincretismo também é uma rejeição da autoridade plena da Bíblia, em escolhendo ensinos que não confrontam ou ofendem.
Uma contextualização fiel deve adaptar a comunicação e prática de toda a escritura em seu ensino para uma cultura.

A INEVITABILIDADE DE CONTEXTUALIZAR.
Aqui está um paradoxo fácil de se perder: o fato de que nós precisamos expressar uma verdade universal num contexto cultural particular não significa que a verdade em si é de alguma forma perdida ou menos universal.  Keller começa com um argumento de D.A. Carson, “enquanto nenhuma verdade que o ser humano possa articular pode ser articulada em um modo  culturalmente transcendente…isto não significa que a verdade que está sendo articulada não possa ser transcendente culturalmente”. Primeiro, não há uma forma única de articulação que a fé cristã pode ser universal para todas as culturas. Quando expressamos o evangelho, estamos fazendo de um modo mais compreensível para as pessoas de uma cultura que outra. Por outro lado, enquanto que não há um modo único de expressão, só há uma verdade do evangelho. As verdades do evangelho não são produtos de uma cultura, elas colocam em julgamento todas as culturas humanas. Se você se esquecer desta primeira verdade, você pode pensar que existe apenas um verdadeiro modo de apresentar o evangelho,  você estará sendo conservador culturalmente. Se você esquecer a segunda verdade, que há um único verdadeiro evangelho, você poderá cair num relativismo que leva a um liberalismo sem freios. Seja o caminho, você será menos fiel e menos frutífero em seu ministério. A contextualização é inevitável. Assim que você escolhe uma lingua para falar e palavras, ela está lá, você está sendo mais acessível para alguns e menos para outros. Não há uma apresentação universal do evangelho para todas as pessoas.
A seguir, Keller volta ao sermão chato e pensa sobre o conceito de longo ou tarde, e como ele varia de cultura para cultura. Um sermão também pode perder as pessoas por causa dos tipos de metáforas e ilustrações que são escolhidas, quando Jesus diz para quem pregar o evangelho para pessoas hostis evitar jogar pérolas aos porcos (Mt 7:6), ele está ligando dois campos de discurso, ele está ligando a pregação ao mundo concreto da criação de porcos.Cada ilustração deve ser pensada do uso de experiências concretas das pessoas, devem ser compartilhadas com quem ouvem e podem ser mais remotas ou menos acessíveis para outras que não as compartilham. Algumas ilustrações podem até levar as pessoas a pensarem que o pregador é esnobe.
Os pregadores devem escolher algumas ilustrações e conceitos que vão ser mais significativos para certos grupos culturais que outros, precisamos ser mais inclusivos possível. Precisamos estar cientes dos nossos limites, não podemos ter a ilusão de que podemos compartilhar o evangelho para todas as pessoas ao mesmo tempo.
Uma outra razão que um sermão pode ser correto mas ter pouco impacto é o nível de expressão emocional, quando ela não está calibrada com a cultura das pessoas que ouvem.
Até aqui se falou sobre a maneira e o modo de pregar, mas a contextualização tem muito a ver com seu conteúdo.  Um sermão pode não engajar as pessoas porque a não conecta o ensino bíblico com as questões e objeções das pessoas daquela cultura tem a respeito da fé. As objeções do legalismo ou liberalismo, o evangelho pode responder.  Devemos ver qual destes grupos dominam nossa vizinhança, e devemos pregar tenho este grupo e suas objeções em mente. Nenhuma apresentação será igualmente agradável para os dois grupos.
Finalmente, a contextualização afeta o modo como pensamos porque as pessoas numa cultura encontra um modo que lhes seja mais persuasivo enquanto outros não. Algumas pessoas são mais lógicas, outras mais intuitivas. Se escolhemos um modo, estaremos argumentando mais com um grupo que outro inevitavelmente.


O PERIGO DE NÃO CONTEXTUALIZAR (OU DE PENSAR QUE NÃO ESTÁ).
Todo ministério do evangelho e comunicação são profundamente adaptadas a uma cultura em particular. Se não pensarmos como contextualizar para uma nova cultura, estamos contextualizados em uma outra, inconscientemente. Nosso ministério no evangelho estará super adaptado a nossa própria cultura e pouco adaptado a uma nova cultura, o que leva uma distorção na mensagem cristã.  Keller cita o exemplo do cristão branco americano, que identifica o modo americano de viver com a vida bíblica cristã. A falta de uma atenção a cultura pode levar a um viver e ministério cristão distorcidos. Crentes que vivem em culturas individualistas estão cegos para importância de viver em comunidade profunda e colocar a si mesmos para prestar contas de sua espiritualidade e disciplina. Hoje muitos vêem a membresia como uma opção.  Por outro lado, cristãos em culturas patriarcais estão cegos sobre a liberdade de consciência e a graça.
A inabilidade de enxergar nossa cultura tem outros resultados, um dos erros é ministros regurgitarem métodos e programas que influenciaram a elas pessoalmente. Depois de experimentar um impacto no ministério numa parte do mundo, eles levam as ferramentas para outro lugar e tentam reproduzir sem mudar nada. Keller fala de seu desapontamento de muitas igrejas que visitam a Redeemer copiarem simplesmente os métodos sem realizar o duro trabalho de contextualizar o evangelho a realidade local da igreja.

Todos contextualizam, mas poucos pensam a respeito disto, não devemos apenas contextualizar,mas pensar como fazemos isto. Devemos fazer este processo visível e intencional para nós mesmos e para os outros.

Um comentário:

André Botelho disse...

OLá Allen, gostei dos seus posts sobre o livro center church do Tim keller, tenho algumas perguntas sobre os posts, se vc tiver e-mail direto ou outra forma de comunicação gostaria de entrar em contato
André
meu contato:
andrejv@ig.com.br