quarta-feira, novembro 03, 2010

Bastiat: Ensaios


Frédéric Bastiat (1801-1850) nasceu em Bayonne, na França. Aos 17 anos deixou a escola para trabalhar na empresa de exportação de sua família, o que lhe permitiu observar diretamente os efeitos do protecionismo sobre o mercado. De 1844 até sua morte foi membro da assembléia francesa e brilhante ensaísta de economia política. Entre suas principais obras estão "A lei", "O que se vê e o que não se vê" e "Sofismas econômicos"

O primeiro ensaio é O QUE SE VÊ E O QUE NÃO SE VÊ, onde está escrita a famosa história da janela quebrada.


Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos. Dentre esses, só o primeiro é imediata Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível Os outros só aparecem depois e não são visíveis. Podemo-nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los. 
Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: um se detém no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever. 
E essa diferença é enorme, pois o que acontece quase sempre é que, quando a conseqüência imediata é favorável, as conseqüências posteriores são funestas e vice-versa. Daí se conclui que o mau economista, ao perseguir um pequeno benefício no presente, está gerando um grande mal no futura jâ o verdadeiro bom economista, ao perseguir um grande benefício no futuro, corre o risco de provocar um pequeno mal no presente. 


Quando se tratar de impostos, senhores, procurem provar que eles são necessários e úteis com razões substanciais e não com a seguinte afirmação, tão descabida: "As despesas públicas fazem a classe  operária viver". Tal afirmação é equívoca, pois dissimula um fato essencial, a saber, que as despesas  públicas são sempre substituídas por despesas privadas e que, por conseguinte, elas fazem um operário viver em vez de outro, mas não acrescentam nada à classe operária, considerada em sua totalidade. A  argumentação que está sendo apresentada está muito em moda, mas é completamente absurda, já que não é  correta. 

 
Nada mais natural que uma nação, depois de se ter assegurado que um grande projeto de obra vai ser útil à comunidade, o faça executar com o produto resultante da cotação de todos! Mas confesso que perco a paciência, quando ouço justificarem o apoio a uma tal decisão com o seguinte equívoco econômico: "É, aliás, o meio de criar oportunidades de trabalho para os operários".      O Estado faz uma estrada, constrói um palácio, conserta uma rua, abre um canal e, com isso, dá trabalho a certos operários: é o que se vê.     Mas ele priva de trabalho certos outros operários: é o que não se vê.  

Vamos ao fundo da questão. O dinheiro nos ilude. Pedir colaboração, sob a forma de dinheiro, a todos os cidadãos para uma obra comum é, na realidade, pedir-lhes uma cooperação física real, pois cada um deles obtém, pelo trabalho, a soma de dinheiro na qual está sendo taxado. Ora, é compreensível que se reúnam todos os cidadãos para mandá-los fazer através do dinheiro que emprestarem, uma obra útil para todos: a recompensa estaria nos resultados apresentados pela própria obra. Mas, se depois de havê-los convocado, pede-se que cons-truam estradas nas quais ninguém passará, palácios onde ninguém viverá — e isso só a pretexto de arranjar-lhes trabalho —, seria absurdo e eles teriam todo o direito de objetar dizendo  que, com esse trabalho, nada teriam que fazer e que prefeririam trabalhar por conta própria. 

Como medida temporária, num tempo de crise, durante um inverno rigoroso, esta intervenção do contribuinte pode surtir bons efeitos. Ela age no mesmo sentido que os seguros. Não acrescenta nada ao trabalho e aos salários, mas retira do trabalho e dos salários, em tempos comuns, para reparti-los, com perda, é verdade, nas épocas difíceis.  (....) Como medida permanente; geral, sistemática, não é outra coisa senão um logro danoso, uma impossibilidade; uma contradição que mostra um pouco de trabalho estimulado, que se vê, e esconde muito trabalho impedido, que não se vê.  

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