quinta-feira, novembro 11, 2010

Roberto Bolaño - 2666

Descobri num blog uma resenha-resumo do livro, vou colar trechos aqui, o Blog é o HÁ SEMPRE UM LIVRO...


O segundo volume da saga, diz respeito ao passado do professor Amalfitano, antes de estabelecer residência em Santa Teresa, onde se instala definitivamente, com a filha. Daqui, o episódio que mais nos prende a atenção é aquele que aponta a diferença no tratamento alfandegário a que são sujeitas as pessoas oriundas do espaço exterior à União Europeia, sobretudo quando provém de países em vias de desenvolvimento. A narração do tratamento diferenciado a que são submetidos Rosa – cidadã europeia, porque filha de mãe espanhola – e de Amalfitano – não europeu, de naturalidade chilena, apesar da ascendência italiana – é gritante. É como se estivéssemos em Roma, onde os Romanos da cidade de Rómulo e Remo são considerados cidadãos; e os romanos livres, mas nascidos em outras cidades na Península Itálica tinham estatuto de cidadãos de segunda. Ou então, como na Grécia de Sócrates e Aristóteles, onde se distinguiam Atenienses de Metecos (cidadão da periferia). Ou porque não, os primeiros indícios de um novo III Reich onde os cidadãos da UE seriam os Atenienses, ou Romanos de primeira e os restantes simples metecos, ou humanos de categoria inferior a fazer jus às mais do que refutadas teorias raciais da história que fizeram furor no último quartel do século XIX até á década dourada do poderio nazi?





Senão vejam:






Rosa tinha sete anos e era espanhola. Amalfitano tinha cinquenta e era chileno. (…) Rosa passava as alfândegas pela porta dos cidadãos comunitários e Amalfitano pela porta reservada aos não comunitários. Rosa perdeu-se e Amalfitano demorou meia hora a encontrá-la. À vezes os guardas viam Rosa e perguntavam-lhe se ela viajava sozinha ou se alguém a esperava à saída. Rosa respondia que viajava com o pai, que era sul-americano, e que tinha de esperá-lo ali mesmo. Uma vez revistaram a mala de Rosa pois suspeitaram que o pai podia passar drogas a coberto da inocência e da nacionalidade da filha. Mas Amalfitano nunca tinha traficado drogas nem armas.





A xenofobia europeia observada “de fora”por um cidadão sul-americano parece adquirir contornos preocupantes, devido à semelhança com políticas fascizantes do passado, ainda gravado a ferro e fogo nas gerações mais seniores. Tudo começa a partir do momento em que um cidadão estrangeiro, sem qualquer ligação com o mundo do crime, é considerado culpado até prova em contrário.





As disparidades e as contradições do sistema não se ficam por aqui: a mãe de Rosa, de origem espanhola e personalidade controversa e instável indicia, desde logo, um percurso de vida recheado de dificuldades, agravado por uma irresistível atracção pelo abismo. Lola mostra ser uma mulher com graves dificuldades de adaptação e integração social, cujas escolhas a impedem de levar uma vida estável, de forma a cuidar e educar uma criança. É por estas razões que Rosa crescerá com o pai, o intelectual sul-americano ao qual o Estado, apesar de se tratar de um país em vias de desenvolvimento, concede valor suficiente para lhe garantir a subsistência. O percurso de Amalfitano liga-se ao de Lola por um período muito breve. A separação torna-se inevitável e Amalfitano mergulha numa solidão crónica, dissipada apenas pela presença da filha e uma ligação amorosa, embora sem compromisso, com uma colega de trabalho. Amalfitano é aquilo que Vila-Matas define como “máquina solteira”, isto é, aquele celibatário convicto que menciona nos seus romances sobre intelectuais e a inspiração e criatividade na escrita, marcada pela desilusão de um quotidiano com poucas expectativas. No romance de Bolaño, os dois membros do casal libertam-se um do outro para viverem cada qual à sua maneira, já que são duas personalidades demasiado individualistas a gerir o quotidiano de forma diametralmente oposta: enquanto que, para Amalfitano,são imprecindíveios a estabilidade económica e a tranquilidade no quotidiano as quais se associam ao amor às letras e ao ensino; para Lola, a vida é aventura, errância. Mais: Lola é alguém que constrói a própria realidade. Edifica na própria mente um mundo à sua medida e ao qual a maior parte das pessoas não tem acesso, tal como na visita realizada ao hospital psiquiátrico em Barcelona, onde à procura de algo que nunca teve a mais leve expressão da realidade.


Outra notícia é um documentário da TvE sobre Bolaño

E última é este stand-up baeado em 2666.


2666 - Roberto BOLANO - Alex RIGOLA - Le Standard idéal 7e
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