Estou lendo-ouvindo- THE CONSCIENCE OF LIBERAL de Paul Krugman, lembrando que nos EUA, liberal está associado ao partido democrata- left- e o conservative ligada ao partido republicado-right wing e GOP-. Encontrei um artigo interessante do autor nobel sobre o TGV entre Lisboa-Madrid, uma crítica interessante sobre os principais poréns da proposta em solo europeu, serve também para o TAV da alegria da Dilma-Brasil.
Paul Krugman não defende o TGV
5 Setembro 2010, por Armando Pires
Paul Krugman (Nobel da Economia em 2008), devido ao papel central que atribui aos custos de transporte no comércio internacional e na localização da actividade económica, tem sido citado pelo actual governo na defesa do TGV. Em particular, advoga-se que o TGV – ao diminuir o tempo de ligação, e como tal, os custos de transporte entre Lisboa e Madrid – irá aumentar as trocas comerciais e favorecerá uma distribuição mais equitativa da actividade económica na Península Ibérica. Mas é mesmo isto que as teorias desenvolvidas por Krugman prevêem? Não necessariamente.
De facto, Krugman demonstra que uma redução dos custos de transporte tenderá a conduzir à aglomeração da actividade económica nos centros económicos. Isto acontece, porque ao localizarem-se nos mercados centrais os agentes económicos podem simultaneamente servir as regiões periféricas com taxas de transporte favoráveis e explorar as vantagens de aglomeração nos centros económicos (economias de escala e spillovers tecnológicos).
Assumindo que os centros económicos da Península Ibérica são Madrid e Lisboa, isto poderia revelar-se benéfico para Portugal, se os ganhos de Lisboa compensassem as perdas nas restantes regiões. Infelizmente, Lisboa não é um centro económico a nível Ibérico. Num trabalho meu 1 demonstrei que existem três centros na Península Ibérica: Madrid, Catalunha e o País Basco. Lisboa – a região mais central de Portugal – só é marginalmente mais central que a região mais periférica da Espanha, a Galiza.
Sendo assim, segundo as teorias de Krugman, Portugal sairia perdedor com uma redução dos custos de ligação a Espanha.
Curiosamente, Krugman chegou a analisar um caso semelhante ao de Espanha e de Portugal: dois países, cada um com o seu centro económico (Madrid e Lisboa), mas em que um deles é mais periférico que o outro (assim como Madrid é mais central que Lisboa). Nesta situação Krugman defende que, a melhor estratégia do país com o centro mais periférico (Portugal), é desenvolver as redes de transporte internas, de forma a permitir ao seu centro explorar a sua “hinterland”. Para Krugman, só quando Lisboa se tornar num centro Ibérico é que se deve reduzir os custos de transporte entre Madrid e Lisboa.
Neste sentido, o desenvolvimento da infra-estrutura rodoviária e ferroviária em Portugal apresenta-se como prioritário. No entanto, enquanto que os sucessivos governos apostaram na primeira, a segunda tem sido bastante negligenciada. O desinvestimento ferroviário é ainda mais preocupante pois é sabido, da experiência do TGV noutros países, que este só é eficaz se interligado com as linhas convencionais de comboios. Ora, enquanto que estas estão amplamente desenvolvidas em Espanha, tal não é o caso em Portugal. Corre-se pois o risco de o investimento no TGV se revelar ineficiente.
Para além do mais, a existência de uma rede ferroviária forte em Portugal, poderia ser a alternativa que as populações defendem às estradas pagas. No entanto, a mentalidade rodoviária está tão enraizada que a opção ferroviária não é sequer considerada na discussão sobre as SCUTs.
Todo este debate se mantém com ou sem o défice externo, mas ganha especial relevância no contexto actual em que os investimentos públicos se devem restringir aos que de facto tem potencial de promover o crescimento tão ansiado da economia portuguesa.
Notas:
1. Pires, Armando, 2005, Market Potential and Welfare: Evidence from the Iberian Peninsula, Portuguese Economic Journal 4, 107-127.
*(No âmbito de uma parceria entre a e.conomia.info e o jornal Público, este texto foi publicado em simultâneo na secção de economia do diário na edição de dia 5 de Setembro)
— Armando Pires
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