segunda-feira, agosto 09, 2010

N.T. Wright: Surpreendido pela Esperança

AVISO PRELIMINAR.

Vou retomar de forma um pouco mais crítica o post sobre o livro de Tom Wright, estou com duas empreitas neste blog no momento. De um lado, traduzir um texto de 8 páginas de Keller sobre a Esperança que advém do novo nascimento e, finalmente, retomar a leitura do livro de N.T. Wright.

 

 

O livro de Tom Wright aborda duas questões fundamentais: Qual é a esperança suprema para o cristão? Há esperança de mudança, de resgaste, de transformação, de novas possibilidades no presente? As respostas para as perguntas precisam levar em conta o que entendemos como “ir para o céu”, e o que se trata como “esperança cristã” e, assim, a salvação é algo distante deste mundo?

Se a esperança cristã está ligada a nova criação de Deus, novos céus e nova terra, e, por outro lado, esta esperança já se manifestou na vida de Jesus de Nazaré, então as duas perguntas podem ser reunidas.

O título do primeiro capítulo “vestidos e arrumados, mas sem ter aonde ir” mostra a incompreensão atual das pessoas cristãs sobre estas questões, que leva a graves erros na maneira de pensar, orar, na liturgia, enfim, na nossa missão no mundo. Fora do universo da igreja cristã, há uma multiplicação de crenças com respeito a vida após a morte.

Tom Wright começa a analisar dentro da própria Inglaterra através do tempo, as diversas formulações sobre o que seria a morte e a vida pós-morte. Começa a analisar um poema In Memoriam de Tennyson, que se inicia com uma influência budista e termina como cristão. Compara com um de Rudyard Kipling,  que acreditava que após um período de descanso, haverá uma nova vida, e um novo corpo. Esta variedade de crenças no fim do seculo 19 teve uma forte influência nos hinos e orações da igreja.

E assim, o autor continua traçando na cultura, o pensamento e as diversas crenças a respeito da morte e a vida após,  a maioria das pessoas desconhece a crença ortodoxo cristã, e assim, a influência dela sobre o presente é limitada.

 

CAPÍTULO 2- Confusão sobre o PARAÍSO.

O autor busca agora dentro da igrejas mostrar a mesma confusão a respeito da morte e da vida após a morte. Começa com o exemplo da citação equivocada do sermão de Henry Scott Holland, que aparece no prefácio de alguns manuais para funerais.  

Death is nothing at all.
I have only slipped away into the next room.
I am I and you are you.
Whatever we were to each other,
   that we still are.

Call me by my old familiar name.
Speak to me in the easy way
   which you always used.
Put no difference in your tone.
Wear no forced air of solemnity or sorrow.

Laugh as we always laughed
   at the little jokes we enjoyed together.
Play, smile, think of me, pray for me.
Let my name be ever the household word
   that it always was.
Let it be spoken without affect,
   without the trace of a shadow on it.

Life means all that it ever meant.
It is the same that it ever was.
There is absolutely unbroken continuity.
Why should I be out of mind
   because I am out of sight?

I am waiting for you,
  for an interval,
     somewhere very near,
       just around the corner.

All is well.

 

Nesse mesmo sermão, o mesmo conego fala de outros sentimentos com respeito a morte, tentou conciliar duas visões a respeito da morte. O crente que já passou da morte para a vida e enfrentar a morte real não lhe parece algo terrível, além disso, ele sugere que devemos pensar a vida post-mortem como uma continuidade do crescimento no conhecimento de Deus e na santidade pessoal, a recusa em aceitar o que está acontecendo é apenas fruto de uma citação fora de contexto.

A recusa da morte como sendo um estágio de libertação da alma também é antibíblica, no sentido que nega a ressureição do corpo, a morte não está vencida, ela agora é simplesmente uim meio para alma imortal escapar do ciclo mortal.

Muitos hinos, orações e sermões tentam amenizar o impacto da morte apresentando-a como uma amiga que vem nos buscar para nos levar para um lugar melhor. Essa idéia foi bastante popular no seculo 19, repercutindo nos movimentos modernos em defesa da eutanásia” p. 33

Mais adiante no mesmo o capítulo o autor diz que a linguagem bíblica a respeito do Novo Testamento, o reino de Deus não está ligado a um destino pós-morte, nem também a um escape deste mundo, para algum outro. Antes, Jesus está se referindo ao governo soberano de Deus, como está na oração do Pai Nosso, assim na terra como no céu. A imaginação cristã sobre estas questões no entender do autor ficou contaminada por resquícios de platonismo, e tem se espalhado por várias correntes do pensamento cristão. As imagens medievais de céu e inferno contribuíram neste sentido junto com as obras de Dante.

Ela induz a pessoa ao erro, segundo N.T. Wright, fazendo-as supor que os cristãos deveriam desvalorizar tudo que diz respeito a vida presente, por considerá-la corrupta e vergonhosa.

Para Tom Wright, mesmo as imagens do Apocalipse sobre o céu tem sido mal interpretadas. A descrição  que lemos em Apocalipse 4 e 5, dos 24 anciões colocando suas coroas diante do trono de Deus e do Cordeiro, ao lado do mar de cristal, não é, apesar do hino de Charles Wesley, uma descrição do dia final, com todos os remidos reunidos no céu. Trata-sede uma descrição da realidade presente, da dimensão celestial de nossa vida hoje. (p.  34)

Ela induz a pessoa ao erro, segundo N.T. Wright, fazendo-as supor que os cristãos deveriam desvalorizar tudo que diz respeito a vida presente, por considerá-

A Bíblia ao referir-se ao céu, ela não está falando do nosso destino futuro, mas a uma outra dimensão, oculta, de nossa vida comum. “Deus criou o céu e a terra, e no final, ele irá restaurá-los e uni-los para sempre” p. 35

No final de Apocalipse, vemos a nova Jerusalém descendo do céu e unindo-se à terra, num abraço eterno.

Tom Wright fala que a maioria das pessoas tem uma crença misturada, em que os conceitos ortodoxos de céu e inferno não tem valor, e até mesmo o purgatório parece ter algum sentido para algumas pessoas, incluindo-se aí uma idéia de uma jornada após a morte. O autor também critica o universalismo.

”Para alguns, o céu tradicional parece um lugar insuportavelmente chato – ficar sentado numa nuvem tocando harpa o tempo todo realmente não é uma idéia muito atraente -  e eles não têm nenhuma vontade de ir para lá. Outros têm declarado, com certo desprezo, que um Deus que esperava que as pessoas o adorem por toda a eternidade não é alguém que mereça nosso respeito. Aqueles que identificam a imagem ortodoxa à uma vida ativa e vibrante, refletindo a imagem de Deus nos novos céus e na nova terra, são muitas vezes acusados de projetar o estilo de vida contemporâneo na tela do futuro” (p. 36)

 

OS EFEITOS DA CONFUSÃO

Os hinários e hinos das igrejas ressoam  a confusão, alguns dizem que o mundo presente é apenas a noite,  Nesta mesma concepção, a morte, ao invés, de inimiga passa a ser uma noite agradável, passagem, Tom  Wright não poupa nem Grandioso És Tu

E quando Cristo, o amado meu, voltando

Vier dos Céus o povo seu buscar

No lar eterno quero, jubilando,

A tua santa face contemplar.

A versão original sueca do hino não fala da volta de Cristo para buscar seu povo, trata-se de uma adaptação do autor segundo Wright, O autor não compactua com hinos que refletem a visão de céu separado da terra, um lugar para onde iremos ir com Jesus.

Outros aspectos da deturpação foram levantados pelo autor como consequência desta desvalorização da vida material: O natal passou a ser mais importante que a páscoa, a própria adoção da cremação por alguns cristãos, algo que está ligado a teologia hindu e budista, quando as pessoas desejam que suas cinzas sejam espalhadas pela natureza, o sentimento é até bonito, contudo, sem a afirmação de uma nova vida restaurada em um novo corpo, é contrária a fé cristã, e também, a tradição judaico-cristã.

O problema não é que a cremação seja herética, segundo o autor, esta opção, no fundo, reflete algumas confusões que se tem observado na igrejas como no mundo.

Outro engano, segundo o autor, é a identificação entre a ressureição e ir para o céu.

“Esta não é a esperança firme e certa da ressurreição do corpo, firmada na ressurreição do próprio Jesus e inserida na promessa de novos céus e nova terra. Trata-se da esperança generalizada  e piedosa de uma imortalidade bem-aventura, que começa mais ou menos agora e continua por um futuro indeterminado. Além disso, a dificuldade em distinguir entre essa situação bem-aventurada, porém temporária, em que se encontra o povo de Deus após a morte e a ressureição final, pela qual toda a criação anseia, tem achado espeaço nas orações eucarísticas breves e em muitos outros recursos litúrgicos e devocionais”  (p. 43)

As implicações mais abrangentes da confusão, pode levar consigo questões mais abrangentes na vida e do próprio pensamento cristão, segundo o autor. A questão da religião fica vinculada a uma degradação platônica do corpo e de toda a criação, considerando-as como sombras que são deixadas para trás com a morte.

Isto leva a pensar a salvação como algo que não tem nada a ver com o presente. Contudo, no entender de Wright, a doutrina cristã considera a ressurreição como parte da nova criação de Deus e valoriza o mundo presente, estabelecendo, então, uma continuidade entre o mundo presente e o futuro. Wright busca enfatizar sua visão citando Paulo, que considera  a ressurreição futura como a razão principal para conservarmos nossos corpos hoje – 1Co. 6:13-14 e  15:58.

Neste sentido, a doutrina cristã é muito mais poderosa e revolucionária que filosofia platônica.

Aqueles que veem a morte como o esperado momento de ir para casa, em que seremos chamados à paz eterna de Deus, não tem motivo para entrar em conflito com pessoas sem escrúpulos, dispostas a destruir o mundo se isso lhes trouxer algum benefício. A crenaça na ressureição sempre vem acompanhada por uma forte visão da justiça de Deus. Essa crença não leva a uma tolerância passiva diante das injustiças do mundo, mas a uma firme determinação de lutar contra as injustiças do mundo. É como dizer que os evangélicos inglesses desistiram de tentar melhorar a sociedade (veja o exemplo de Wilberforce, no final do sec. 18 e início do 19) ao mesmo tempo que deixaram de crer na ressureição e se conformaram com um céu sem corpos encarnados" p. 45

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