No Antigo Testamento, o dia começa ao anoitecer e termina com por do sol. É tempo da espera. Para a comunidade do Novo Testamento, o dia começa ao raiar o sol e termina com a aurora do dia seguinte. É tempo do cumprimento, da ressurreição do Senhor. Cristo nasceu numa noite, uma luz entre as trevas, e no momento de sua morte, o sol se escureceu, sem demorar, com o amanhecer do dia de páscoa, ele surgiu vitorioso da tumba.
Se aprendessemos algo desta adoração matutina que devemos dar ao Deus trino, ao Deus Pai e Criador que nos tem protegido durante a noite para nos dar um novo dia, ao Deus Filho, salvador do mundo que, por nós, triunfou da morte e do inferno e, vencedor, vive entre nós; ao Deus Espírito Santo que, desde do amanhecer, ilumina nossos corações com a palavra divina, afasta as trevas e o pecado e nos ensina a orar corretamente, então, também vislumbraríamos o gozo dos irmãos que unidos em harmonia, se encontravam cada manhã para adorar a Deus, escutar sua palavra e orar em comunidade.
Se aprendessemos algo desta adoração matutina que devemos dar ao Deus trino, ao Deus Pai e Criador que nos tem protegido durante a noite para nos dar um novo dia, ao Deus Filho, salvador do mundo que, por nós, triunfou da morte e do inferno e, vencedor, vive entre nós; ao Deus Espírito Santo que, desde do amanhecer, ilumina nossos corações com a palavra divina, afasta as trevas e o pecado e nos ensina a orar corretamente, então, também vislumbraríamos o gozo dos irmãos que unidos em harmonia, se encontravam cada manhã para adorar a Deus, escutar sua palavra e orar em comunidade.
Bonhoeffer continua a localizar a manhã como um sinal da misericórdia e graça de Deus em oposição a noite, Salmos 5.4, 88.14, 57.8, 119.147, 63.2, 46.6. Para o crente, começo do dia deve ser debutado ao Senhor, com sua claridade dissipou as trevas - Ef. 5.14
O autor coloca os exemplos bíblicos de personagens que acordavam com Deus, e diz sobre a oração comum matutina, devendo ela ser composta de leitura da escritura, canto e pregação.
A LEITURA DE SALMOS.
Jesus ora os salmos em sua igreja, também, ela como o cristão individual, ora, mas porque é Cristo que ora em suas orações, não ora em nome próprio, sim, em nome de Jesus Cristo. O crente não ora seguindo o impulso natural de seu próprio coração, mas com base na humanidade assumida por Cristo, ora a oração do homem Jesus Cristo. É o único que lhe dá segurança de que sua oração será escutada. Devido a Cristo que ora os salmos conosco diante do trono de Deus ou melhor dito, porque os que oram são assumidos na oração de Jesus, sua oração é escutada por Deus. Cristo, assim, se converte em um intercessor.
Os salmos nos ensina a orar sobre o fundamento da oração de Cristo. São a escola de oração por excelência. Nela aprendemos, em primeiro lugar, o que significa orar, orar com base na palavra de Deus e de suas promessas. A oração cristã se assenta sobre a palavra revelada, e não tem nada a ver com a vagueza e o egoísmo dos nossos desejos, oramos fundamentados na oração do verdadeiro homem Jesus Cristo. Isto é o que quer expressar a escritura quando diz que o Espírito Santo ora em nós e por nós, e não podemos orar verdadeiramente senão em nome de Cristo.
Em segundo lugar, a oração dos salmos nos ensina que devemos expressar em nossas orações, se é verdade que o alcance da oração dos salmos sobrepassa em muito a medida da experiência pessoal, também é verdade que, pela fé, o crente pode dizer que as oração que Cristo pronuncia em salmos, as orações dele podem conter em plenitude toda a medida das experiências contidas nestas orações.
Bonhoeffer coloca que as orações agora pertencem ao corpo de Cristo estendido na terra, desde da crucificação, seria uma transcendência da oração de Cristo.
Em terceiro lugar, a recitação dos salmos nos ensina a orar em comunidade, compreendendo que a oração particular é uma pequena fração da oração coletiva da igreja, se aprende a orar com o corpo de Cristo, assim somos levados acima de nossas circunstâncias particulares e oremos prescindindo de nós mesmos. O autor coloca que muitos dos salmos do antigo testamento deveriam ser orações alternadas, chamado de paralelismus membrorum, que seria o costume de repetir uma mesma coisa com outras palavras na segunda parte do verso, não é apenas uma forma literária, explica o teologo, mas possui um sentido eclesial e teológico. Sobre este aspecto de leitura coletiva e dialógica, Bonhoeffer cita o salmo 5 ou 119 em seu final, para ele a palavra divina luta para penetrar com profundidade no coração que somente pode ser alcançado com uma repetição...
A seguir, Bonhoeffer cita Otinger que ordenou os salmos segundo as sete petições do Pai nosso, há uma identificação entre os salmos e o conteúdo da oração dominical.
A LEITURA BÍBLICA.
Conforme Eric Metaxas, Bonhoeffer estava preocupado com um culto em que os corpos também participassem, não apenas como algo mental- assim, o autor diz que após a oração dos salmos, intercalado de um canto, segue a leitura da palavra de Deus.
Há alguns preconceitos que devem ser abandonados segundo o autor, a leitura de versículos esparsos das escrituras, como o texto do dia, pode ser auxiliadora, mas não pode substituir uma leitura contínua e mais profunda. O texto diário, devocional não é a sagrada escritura que permanece através dos tempos, até o último dia, a sagrada escritura é mais do que um texto bíblico, é a palavra com que Deus se revela a todos os homens de todos os tempos, não consiste em versículos isolados senão em um todo que exige manifestar-se como tal. É em sua totalidade como a escritura é a palavra revelada, somente na infinitude de suas relações interiores, na conexão entre o antigo e novo testamento, a promessa e cumprimento, sacrifício e lei, lei e evangelho, cruz e ressurreição, fé e obediência, dom e espera, que se faz inteligível o testemunho de Jesus Cristo, o senhor.
Assim, neste culto comunitário deve haver além da recitação de salmos, uma extensa leitura do antigo testamento e novo testamento. Bonhoeffer diz que cristãos adultos que não são capazes de ler completamente um capítulo do antigo testamento, deveria ser motivo de vergonha. Há um certo descaso da própria teologia com essa ausência de conhecimento e também do culto comunitário em ter por objeto o conhecimento das escrituras. Assim, ele conclui que há um desconhecimento completo sobre a natureza mesma do culto, onde a palavra de Deus deve ser ouvida e compreendida de acordo com a situação e compreensão de cada um. O culto familiar é a ocasião para a criança de ouvir e aprender pela primeira vez a história bíblica. Para os adultos, seria uma oportunidade de compreende-la melhor. A escritura é um todo e cada palavra, cada frase, se relacionam em conjunto, isto nos ensina, que a Bíblia em seu conjunto e em cada uma de suas palavras ultrapassa em muito nosso entendimento, e é proveitoso que diariamente nos recorde que isto nos remete constantemente a Jesus- Cl 2.3.
As escrituras por serem um corpus, um todo vivente, é conveniente que a comunidade cristã pratique a leitura contínua, todos os livros das escrituras devem estar relacionados como palavra de Deus. Estes textos introduzem a comunidade que os escuta com o coração ao mundo maravilhoso da revelação de Deus ao povo de Israel - profetas, juízes, reis, sacerdotes, guerras, festas, sacrifícios,sofrimentos. A comunidade cristã é introduzida também na história do nascimento, batismo, milagres, pregação, sofrimentos, morte e ressurreição de Jesus, toma parte no acontecimento único realizado sobre a terra para a salvação do mundo e recebe ela mesma a salvação em Cristo.
Assim, a leitura contínua da Bíblia obriga a todos os que querem entender, a aproximar-se onde Deus tem atuado de uma vez por todas em favor da salvação dos homens, e deixar-se encontrar ali por Ele. Assim, a leitura dos livros históricos podem adquirir um aspecto absolutamente novo, ali tomamos parte de acontecimentos que precedem a nossa salvação, nos esquecemos de nós mesmos e entramos com o povo na terra prometida, atravessando o mar vermelho, o deserto, o jordão, com Israel caímos na dúvida e na incredulidade, pelo castigo e penitência recebemos de novo o socorro e a fidelidade de Deus, e isto tudo, é uma realidade divina.Somos arrancados de nossa própria existência e introduzidos no coração da história que Deus escreve na terra.
Devemos, então, estar atentos a atuação de Deus na terra, na história sagrada, na história de Cristo sobre a terra. Compreendemos, que não é em nossa vida que tem que revelar-se a ajuda e a presença de Deus, mas que ele já se revelou definitivamente em nosso favor na vida de Jesus Cristo. Para Bonhoeffer, mais importante que descobrirmos o que Deus quer de nós hoje é descobrirmos o que ele já realizou, porque a morte de Jesus é mais importante que a minha própria morte, e sua ressurreição e o único fundamento da esperança no último dia.
Nossa salvação está fora de nós mesmos. Somente aquele que se deixa encontrar em Jesus, em sua encarnação, em sua cruz e sua ressureição, está em Deus, e Deus nele. Nesta perspectiva bonhoefiana, a leitura da bíblia na oração matinal fará cada dia mais significativo e saudável porque entendemos que nossos problemas, nossas tribulações, nossas culpas não constituem de modo algum a realidade, porque é na Escritura, onde está a nossa vida, nossa tribulações, nossas culpas e nossa salvação. Somente por meio da escritura sagrada aprendemos a conhecer a nossa própria história, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó é o Deus Pai de Jesus Cristo e nosso Pai.
Bonhoeffer fala dos deveres que daí seguem, em primeiro lugar, ele fala de uma recuperação do conhecimento que os nossos antepassados e os reformadores tinham das Escrituras. Não pode ser o nosso coração que decide o nosso futuro, mas sim a palavra de Deus. Hoje, como naquele tempo, as pessoas procuram pautar suas decisões em argumentos tomados da vida ou na experiência, sem se preocupar com as indicações dadas pelas Escrituras. De tal modo, que não podemos estranhar que uma pessoa que não se toma o trabalho de ler, conhecer e estudar a Bíblia, trate de desacreditar a prova bíblica. Contudo, quem não deseja conhecer pessoalmente a Escritura não é um cristão evangélico.
Bonhoeffer a seguir expõe sobre a prática da leitura da sagrada escritura. Devemos começar na comunidade doméstica, a leitura não será fácil, portanto, quanto mais sóbria, mais objetiva e humilde seja a atitude interior frente ao texto, tanto mais adequada será a leitura. No modo de ler, há uma diferença entre um cristão experiente e um novo, para um leitura correta, aquele que lê não deve identificar-se jamais com o eu que fala a escritura, não sou eu quem se irrita ou consola, mas somente Deus. Isso não significa monotonia ou indiferença, mas deve-se ler sentindo-a interiormente, comprometido, contudo, toda a diferença entre uma boa e uma má leitura reside em que eu não me coloque no lugar de Deus, ao contrário, que o sirva com toda sinceridade. Do contrário, corro o perigo de me tornar apenas um retórico, patético, sentimental ou impulsivo, querendo chamar a atenção dos ouvintes para mim e não para a palavra.
"Explicando com um exemplo profando poderíaos dizer que a situação do leitor da escritura é como uma pessoa que lê para outra a carta do amigo. Não lerá a carta como se ele mesmo a tivesse escrito, senão que respeitará e fará sentir a distância, sem contudo, tampouco lerá a carta como se não me conhecesse, sentão que em minha entonação se perceberá uma implicação pessoal. A leitura correta da Escritura não é uma técnica que pode ser aprendida, senão que depende de minha própria disposição interior" (p. 49)
CANTAR EM COMUM.
A leitura de salmos e a leitura bíblica se completam com o canto em comum, a igreja adora e agradece ao Senhor. O cantico novo cantado a cada manhã em honra a Cristo, pela comunidade familiar. e que chamamos a cantar com toda a igreja na terra e no céu. O canto vitorioso dos filhos de Israel depois de passar o mar vermelho, o magnificat de Maria desde a anunciação.
Cada manhã, a igreja aqui na terra une sua voz a este canto universal, e no entardecer, volta para ele para sinalizar o fim da jornada. A finalidade é adorar ao Deus trino e sua obra. Na terra, é o cântico dos crêem, no céu, daqueles que contemplam. O cantico novo começa no nosso coração, que está cheio da presença de Cristo, assim é um ato espiritual da igreja que pressupõe uma submissão a palavra e a comunidade, muita humildade e uma grande disciplina.
O canto manifesta a unidade da igreja mediante uma palavra comum, o canto, ademais, tem um poder de expressão mais rico da sua poesia. A musica consegue traduzir o incomunicável.
Bonhoeffer defende o canto unissono como verdadeiramente espiritual, por que assim se canta ao Senhor e sua palavra em um mesmo espírito. Segundo ele, há alguns inimigos do canto unissono, que chegam através dos elementos musicais, introduzindo no culto o mau gosto e a frivolidade. Ai, ele diz sobre a segunda voz improvisada, que mata a melodia e a palavra cantada. Ou, a voz baixa ou alta ou solistas perfomáticos. Outro inimigo seria as pessoas sem ouvido, que não sabem cantar, assim também não querem.
Enfim, Bonhoeffer argumenta que a questão do canto uníssono é mais que musical, é espiritual pois somente em uma comunidade onde cada um aceita interiormente uma atitude de reconhecimento e disciplina, o canto pode levar ao gozo da inclusão.
O canto comum deve servir para ampliar nosso horizonte espiritual, para chegarmos a reconhecer nossa comunidade como uma pequena porção da grande comunidade cristã espalhada por toda a terra, e assim unir o nosso canto-debil ou potente- ao canto de toda a igreja.
ORAR EM COMUM.
Partindo de Mt. 18.19, o autor começa a falar da oração comunitária, aquela que oferece maiores dificuldades porque nela nós mesmos somos quem devemos falar. Temos escutado a palavra de Deus e podido unir-mos ao canto da igreja, agora, se trata de orar a Deus em comunidade e esta oração deve ser a nossa palavra.
A oração em comum é efetivamente o ato mais natural da vida cristã comunitária e é boa e proveitosa para nós esforçarmos em conserva-la em toda a sua pureza e em seu caráter bíblico,
A COMUNIDADE DA MESA
A comunidade cristã se reune para receber de Deus o pão da vida corporal, dando graças e implorando a benção de Deus, a comunidade doméstica recebe o pão diário das mãos do Senhor, que a partir do momento em que se sentou a mesa para comer com seus discipulos, estará sempre presente para abençoar os seus sempre que se reunirem para comer.(Lc 24, 30-31).
Para Bonhoeffer, a escritura menciona tres classes de comida- a diária, a santa ceia e o banquete final no reino de Deus. Contudo, nos tres casos, o importante é que sejam abertos os olhos, e reconheçamos a Cristo como dispensador de todos os dons que recebemos. Em segundo lugar, isto quer dizer que os nossos bens temporais nos são dados unicamente por Cristo, pela sua palavra. Ele é o verdadeiro pão da vida, que não é o doador, mas que é dom mesmo que faz possivel todos os dons terrestres.
Cada vez que os crentes compartilham a mesa, confessam que Jesus está presente no meio deles. Assim, os crentes reconhecem que Jesus é o autor e doador dos dons, e ele mesmo é o dom supremo, o verdadeiro pão da vida, que nos convida alegremente para o baquete do reino de Deus. Reconhecemos que é Jesus que parte o pão, assim Deus nos abre os olhos da fé. Nós trabalhamos, mas Deus nos alimenta e nos sustenta, a nossa vida não é apenas fadiga, mas também refrigério e gozo pela bondade de Deus. (Ec. 9,7). A comida de cada dia é um remanso gozoso que o Senhor nos convida como a uma festa.
Compartilhar a mesa compromete os cristãos, pois o que comemos é o pão nosso de cada dia, isto nos mantém unidos, por isto, nenhum de nos deve passar fome se temos o pão, quem destrói a comunhão material também destrói a espiritual, elas estão unidas.(Mt 25, 37). Hoje comemos o pão dos peregrinos, mas um dia iremos comer aquele pão incorruptível da casa do Pai (Lv. 14,15).
O TRABALHO
Partindo de Sl, 104, 33, para Bonhoeffer orar e trabalhar são atividades distintas, mas uma não pode impedir a outra, a vontade de Deus exige que o homem trabalhe seis dias por semana e descanse para alegrar-se em sua presença, também exige que cada dia cristão seja marcado pelo sinal duplo de trabalho e oração. A oração exige um certo tempo, mas as horas do dia são de trabalho, somente dando valor a cada uma dessas etapas é possível descobrir o caráter do crente. Sem esforço e trabalho, a oração não é oração, e o trabalho não é trabalho. O trabalho coloco o homem no mundo das coisas que esperam sua atuação, Deus nos libera até lá para cumprir sua obra no mundo das coisas. De tal modo que no trabalho, o homem aprende a deixar-se limitar pelo objeto de seu trabalho, assim se converte no melhor remédio contra a preguiça e a indolência da natureza humana. O contato com as coisas mata as exigências da nossa carne, isto só será possível se descobrirmos através delas, a presença de Deus.
Assim, o cristão consegue descobrir a unidade entre oração e trabalho, a unidade do dia, compreende o que significa orar sem cessar- 1Ts 5,17. Sua oração se prolonga durante toda a jornada, penetra no trabalho, que não a interrompe, mas a afirma e potencializa, dando a ele seriedade e alegria. Desta feita, todo trabalho, toda palavra, toda a ação do cristão se converte em oração, descobrindo sem cessar a realidade de Deus através da severa imperssonalidade das coisas. - Cl. 3,7.
Na oração da manhã, se decide a sorte do dia, pois nela se busca esta unidade. A oração nos ensina a ordenar e distribuir melhor o nosso tempo, de tal modo, que quando descobrimos Deus através das coisas, adquirimos força suficiente para vencer as tentações que cada jornada de trabalho traz consigo.
COMIDA DO MEIO-DIA
Para Bonhoeffer, o pão está relacionado ao trabalho, 2 Ts 3,10- não que o trabalho leva a algum direito ante a Deus, porque o trabalho é um mandamento e o pão é um dom livre e misericordioso de Deus. É a hora em que o céu se escureceu sobre a cruz de Jesus,a hora para que a obra da reconciliação fosse cumprida.
ORAÇÃO DA NOITE
Um dia é grande o bastante pra colocar em prova a nossa fé, depois da jornada de trabalho, imploramos a Deus sua bênção, sua paz e sua proteção sobre toda a cristandade, sobre nossa comunidade, sobre nossos vizinhos, pastores, solitários, enfermos, moribundos, nossa família. É também o momento que pedimos perdão por tudo temos feito contra Deus e nossos irmãos (Ef, 4,26).
A seguir, Bonhoeffer conta uma história curiosa sobre a igreja primitiva, elas oravam para que de noite o Senhor as preservassem dos ataques do inimigo, nossos antepassados sabiam do parentesco do sono com a morte, da astúcia do inimigo empenhado em derrubar o homem quando não tem defesa. Assim, uma petição singular da igreja primitiva, era aquela que rogava a Deus que mantenha nosso coração desperto enquanto nossos olhos dormem, de tal feita, que mantenha puro o nosso coração de todos os pesares e tentações da noite, que nos prepare para escutar sua chamada a todo momento, e possamos responder como Samuel - 1Sm 3,10.
O autor coloca os exemplos bíblicos de personagens que acordavam com Deus, e diz sobre a oração comum matutina, devendo ela ser composta de leitura da escritura, canto e pregação.
A LEITURA DE SALMOS.
Jesus ora os salmos em sua igreja, também, ela como o cristão individual, ora, mas porque é Cristo que ora em suas orações, não ora em nome próprio, sim, em nome de Jesus Cristo. O crente não ora seguindo o impulso natural de seu próprio coração, mas com base na humanidade assumida por Cristo, ora a oração do homem Jesus Cristo. É o único que lhe dá segurança de que sua oração será escutada. Devido a Cristo que ora os salmos conosco diante do trono de Deus ou melhor dito, porque os que oram são assumidos na oração de Jesus, sua oração é escutada por Deus. Cristo, assim, se converte em um intercessor.
Os salmos nos ensina a orar sobre o fundamento da oração de Cristo. São a escola de oração por excelência. Nela aprendemos, em primeiro lugar, o que significa orar, orar com base na palavra de Deus e de suas promessas. A oração cristã se assenta sobre a palavra revelada, e não tem nada a ver com a vagueza e o egoísmo dos nossos desejos, oramos fundamentados na oração do verdadeiro homem Jesus Cristo. Isto é o que quer expressar a escritura quando diz que o Espírito Santo ora em nós e por nós, e não podemos orar verdadeiramente senão em nome de Cristo.
Em segundo lugar, a oração dos salmos nos ensina que devemos expressar em nossas orações, se é verdade que o alcance da oração dos salmos sobrepassa em muito a medida da experiência pessoal, também é verdade que, pela fé, o crente pode dizer que as oração que Cristo pronuncia em salmos, as orações dele podem conter em plenitude toda a medida das experiências contidas nestas orações.
Bonhoeffer coloca que as orações agora pertencem ao corpo de Cristo estendido na terra, desde da crucificação, seria uma transcendência da oração de Cristo.
Em terceiro lugar, a recitação dos salmos nos ensina a orar em comunidade, compreendendo que a oração particular é uma pequena fração da oração coletiva da igreja, se aprende a orar com o corpo de Cristo, assim somos levados acima de nossas circunstâncias particulares e oremos prescindindo de nós mesmos. O autor coloca que muitos dos salmos do antigo testamento deveriam ser orações alternadas, chamado de paralelismus membrorum, que seria o costume de repetir uma mesma coisa com outras palavras na segunda parte do verso, não é apenas uma forma literária, explica o teologo, mas possui um sentido eclesial e teológico. Sobre este aspecto de leitura coletiva e dialógica, Bonhoeffer cita o salmo 5 ou 119 em seu final, para ele a palavra divina luta para penetrar com profundidade no coração que somente pode ser alcançado com uma repetição...
A seguir, Bonhoeffer cita Otinger que ordenou os salmos segundo as sete petições do Pai nosso, há uma identificação entre os salmos e o conteúdo da oração dominical.
A LEITURA BÍBLICA.
Conforme Eric Metaxas, Bonhoeffer estava preocupado com um culto em que os corpos também participassem, não apenas como algo mental- assim, o autor diz que após a oração dos salmos, intercalado de um canto, segue a leitura da palavra de Deus.
Há alguns preconceitos que devem ser abandonados segundo o autor, a leitura de versículos esparsos das escrituras, como o texto do dia, pode ser auxiliadora, mas não pode substituir uma leitura contínua e mais profunda. O texto diário, devocional não é a sagrada escritura que permanece através dos tempos, até o último dia, a sagrada escritura é mais do que um texto bíblico, é a palavra com que Deus se revela a todos os homens de todos os tempos, não consiste em versículos isolados senão em um todo que exige manifestar-se como tal. É em sua totalidade como a escritura é a palavra revelada, somente na infinitude de suas relações interiores, na conexão entre o antigo e novo testamento, a promessa e cumprimento, sacrifício e lei, lei e evangelho, cruz e ressurreição, fé e obediência, dom e espera, que se faz inteligível o testemunho de Jesus Cristo, o senhor.
Assim, neste culto comunitário deve haver além da recitação de salmos, uma extensa leitura do antigo testamento e novo testamento. Bonhoeffer diz que cristãos adultos que não são capazes de ler completamente um capítulo do antigo testamento, deveria ser motivo de vergonha. Há um certo descaso da própria teologia com essa ausência de conhecimento e também do culto comunitário em ter por objeto o conhecimento das escrituras. Assim, ele conclui que há um desconhecimento completo sobre a natureza mesma do culto, onde a palavra de Deus deve ser ouvida e compreendida de acordo com a situação e compreensão de cada um. O culto familiar é a ocasião para a criança de ouvir e aprender pela primeira vez a história bíblica. Para os adultos, seria uma oportunidade de compreende-la melhor. A escritura é um todo e cada palavra, cada frase, se relacionam em conjunto, isto nos ensina, que a Bíblia em seu conjunto e em cada uma de suas palavras ultrapassa em muito nosso entendimento, e é proveitoso que diariamente nos recorde que isto nos remete constantemente a Jesus- Cl 2.3.
As escrituras por serem um corpus, um todo vivente, é conveniente que a comunidade cristã pratique a leitura contínua, todos os livros das escrituras devem estar relacionados como palavra de Deus. Estes textos introduzem a comunidade que os escuta com o coração ao mundo maravilhoso da revelação de Deus ao povo de Israel - profetas, juízes, reis, sacerdotes, guerras, festas, sacrifícios,sofrimentos. A comunidade cristã é introduzida também na história do nascimento, batismo, milagres, pregação, sofrimentos, morte e ressurreição de Jesus, toma parte no acontecimento único realizado sobre a terra para a salvação do mundo e recebe ela mesma a salvação em Cristo.
Assim, a leitura contínua da Bíblia obriga a todos os que querem entender, a aproximar-se onde Deus tem atuado de uma vez por todas em favor da salvação dos homens, e deixar-se encontrar ali por Ele. Assim, a leitura dos livros históricos podem adquirir um aspecto absolutamente novo, ali tomamos parte de acontecimentos que precedem a nossa salvação, nos esquecemos de nós mesmos e entramos com o povo na terra prometida, atravessando o mar vermelho, o deserto, o jordão, com Israel caímos na dúvida e na incredulidade, pelo castigo e penitência recebemos de novo o socorro e a fidelidade de Deus, e isto tudo, é uma realidade divina.Somos arrancados de nossa própria existência e introduzidos no coração da história que Deus escreve na terra.
Devemos, então, estar atentos a atuação de Deus na terra, na história sagrada, na história de Cristo sobre a terra. Compreendemos, que não é em nossa vida que tem que revelar-se a ajuda e a presença de Deus, mas que ele já se revelou definitivamente em nosso favor na vida de Jesus Cristo. Para Bonhoeffer, mais importante que descobrirmos o que Deus quer de nós hoje é descobrirmos o que ele já realizou, porque a morte de Jesus é mais importante que a minha própria morte, e sua ressurreição e o único fundamento da esperança no último dia.
Nossa salvação está fora de nós mesmos. Somente aquele que se deixa encontrar em Jesus, em sua encarnação, em sua cruz e sua ressureição, está em Deus, e Deus nele. Nesta perspectiva bonhoefiana, a leitura da bíblia na oração matinal fará cada dia mais significativo e saudável porque entendemos que nossos problemas, nossas tribulações, nossas culpas não constituem de modo algum a realidade, porque é na Escritura, onde está a nossa vida, nossa tribulações, nossas culpas e nossa salvação. Somente por meio da escritura sagrada aprendemos a conhecer a nossa própria história, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó é o Deus Pai de Jesus Cristo e nosso Pai.
Bonhoeffer fala dos deveres que daí seguem, em primeiro lugar, ele fala de uma recuperação do conhecimento que os nossos antepassados e os reformadores tinham das Escrituras. Não pode ser o nosso coração que decide o nosso futuro, mas sim a palavra de Deus. Hoje, como naquele tempo, as pessoas procuram pautar suas decisões em argumentos tomados da vida ou na experiência, sem se preocupar com as indicações dadas pelas Escrituras. De tal modo, que não podemos estranhar que uma pessoa que não se toma o trabalho de ler, conhecer e estudar a Bíblia, trate de desacreditar a prova bíblica. Contudo, quem não deseja conhecer pessoalmente a Escritura não é um cristão evangélico.
Bonhoeffer a seguir expõe sobre a prática da leitura da sagrada escritura. Devemos começar na comunidade doméstica, a leitura não será fácil, portanto, quanto mais sóbria, mais objetiva e humilde seja a atitude interior frente ao texto, tanto mais adequada será a leitura. No modo de ler, há uma diferença entre um cristão experiente e um novo, para um leitura correta, aquele que lê não deve identificar-se jamais com o eu que fala a escritura, não sou eu quem se irrita ou consola, mas somente Deus. Isso não significa monotonia ou indiferença, mas deve-se ler sentindo-a interiormente, comprometido, contudo, toda a diferença entre uma boa e uma má leitura reside em que eu não me coloque no lugar de Deus, ao contrário, que o sirva com toda sinceridade. Do contrário, corro o perigo de me tornar apenas um retórico, patético, sentimental ou impulsivo, querendo chamar a atenção dos ouvintes para mim e não para a palavra.
"Explicando com um exemplo profando poderíaos dizer que a situação do leitor da escritura é como uma pessoa que lê para outra a carta do amigo. Não lerá a carta como se ele mesmo a tivesse escrito, senão que respeitará e fará sentir a distância, sem contudo, tampouco lerá a carta como se não me conhecesse, sentão que em minha entonação se perceberá uma implicação pessoal. A leitura correta da Escritura não é uma técnica que pode ser aprendida, senão que depende de minha própria disposição interior" (p. 49)
CANTAR EM COMUM.
A leitura de salmos e a leitura bíblica se completam com o canto em comum, a igreja adora e agradece ao Senhor. O cantico novo cantado a cada manhã em honra a Cristo, pela comunidade familiar. e que chamamos a cantar com toda a igreja na terra e no céu. O canto vitorioso dos filhos de Israel depois de passar o mar vermelho, o magnificat de Maria desde a anunciação.
Cada manhã, a igreja aqui na terra une sua voz a este canto universal, e no entardecer, volta para ele para sinalizar o fim da jornada. A finalidade é adorar ao Deus trino e sua obra. Na terra, é o cântico dos crêem, no céu, daqueles que contemplam. O cantico novo começa no nosso coração, que está cheio da presença de Cristo, assim é um ato espiritual da igreja que pressupõe uma submissão a palavra e a comunidade, muita humildade e uma grande disciplina.
O canto manifesta a unidade da igreja mediante uma palavra comum, o canto, ademais, tem um poder de expressão mais rico da sua poesia. A musica consegue traduzir o incomunicável.
Bonhoeffer defende o canto unissono como verdadeiramente espiritual, por que assim se canta ao Senhor e sua palavra em um mesmo espírito. Segundo ele, há alguns inimigos do canto unissono, que chegam através dos elementos musicais, introduzindo no culto o mau gosto e a frivolidade. Ai, ele diz sobre a segunda voz improvisada, que mata a melodia e a palavra cantada. Ou, a voz baixa ou alta ou solistas perfomáticos. Outro inimigo seria as pessoas sem ouvido, que não sabem cantar, assim também não querem.
Enfim, Bonhoeffer argumenta que a questão do canto uníssono é mais que musical, é espiritual pois somente em uma comunidade onde cada um aceita interiormente uma atitude de reconhecimento e disciplina, o canto pode levar ao gozo da inclusão.
O canto comum deve servir para ampliar nosso horizonte espiritual, para chegarmos a reconhecer nossa comunidade como uma pequena porção da grande comunidade cristã espalhada por toda a terra, e assim unir o nosso canto-debil ou potente- ao canto de toda a igreja.
ORAR EM COMUM.
Partindo de Mt. 18.19, o autor começa a falar da oração comunitária, aquela que oferece maiores dificuldades porque nela nós mesmos somos quem devemos falar. Temos escutado a palavra de Deus e podido unir-mos ao canto da igreja, agora, se trata de orar a Deus em comunidade e esta oração deve ser a nossa palavra.
A oração em comum é efetivamente o ato mais natural da vida cristã comunitária e é boa e proveitosa para nós esforçarmos em conserva-la em toda a sua pureza e em seu caráter bíblico,
A COMUNIDADE DA MESA
A comunidade cristã se reune para receber de Deus o pão da vida corporal, dando graças e implorando a benção de Deus, a comunidade doméstica recebe o pão diário das mãos do Senhor, que a partir do momento em que se sentou a mesa para comer com seus discipulos, estará sempre presente para abençoar os seus sempre que se reunirem para comer.(Lc 24, 30-31).
Para Bonhoeffer, a escritura menciona tres classes de comida- a diária, a santa ceia e o banquete final no reino de Deus. Contudo, nos tres casos, o importante é que sejam abertos os olhos, e reconheçamos a Cristo como dispensador de todos os dons que recebemos. Em segundo lugar, isto quer dizer que os nossos bens temporais nos são dados unicamente por Cristo, pela sua palavra. Ele é o verdadeiro pão da vida, que não é o doador, mas que é dom mesmo que faz possivel todos os dons terrestres.
Cada vez que os crentes compartilham a mesa, confessam que Jesus está presente no meio deles. Assim, os crentes reconhecem que Jesus é o autor e doador dos dons, e ele mesmo é o dom supremo, o verdadeiro pão da vida, que nos convida alegremente para o baquete do reino de Deus. Reconhecemos que é Jesus que parte o pão, assim Deus nos abre os olhos da fé. Nós trabalhamos, mas Deus nos alimenta e nos sustenta, a nossa vida não é apenas fadiga, mas também refrigério e gozo pela bondade de Deus. (Ec. 9,7). A comida de cada dia é um remanso gozoso que o Senhor nos convida como a uma festa.
Compartilhar a mesa compromete os cristãos, pois o que comemos é o pão nosso de cada dia, isto nos mantém unidos, por isto, nenhum de nos deve passar fome se temos o pão, quem destrói a comunhão material também destrói a espiritual, elas estão unidas.(Mt 25, 37). Hoje comemos o pão dos peregrinos, mas um dia iremos comer aquele pão incorruptível da casa do Pai (Lv. 14,15).
O TRABALHO
Partindo de Sl, 104, 33, para Bonhoeffer orar e trabalhar são atividades distintas, mas uma não pode impedir a outra, a vontade de Deus exige que o homem trabalhe seis dias por semana e descanse para alegrar-se em sua presença, também exige que cada dia cristão seja marcado pelo sinal duplo de trabalho e oração. A oração exige um certo tempo, mas as horas do dia são de trabalho, somente dando valor a cada uma dessas etapas é possível descobrir o caráter do crente. Sem esforço e trabalho, a oração não é oração, e o trabalho não é trabalho. O trabalho coloco o homem no mundo das coisas que esperam sua atuação, Deus nos libera até lá para cumprir sua obra no mundo das coisas. De tal modo que no trabalho, o homem aprende a deixar-se limitar pelo objeto de seu trabalho, assim se converte no melhor remédio contra a preguiça e a indolência da natureza humana. O contato com as coisas mata as exigências da nossa carne, isto só será possível se descobrirmos através delas, a presença de Deus.
Assim, o cristão consegue descobrir a unidade entre oração e trabalho, a unidade do dia, compreende o que significa orar sem cessar- 1Ts 5,17. Sua oração se prolonga durante toda a jornada, penetra no trabalho, que não a interrompe, mas a afirma e potencializa, dando a ele seriedade e alegria. Desta feita, todo trabalho, toda palavra, toda a ação do cristão se converte em oração, descobrindo sem cessar a realidade de Deus através da severa imperssonalidade das coisas. - Cl. 3,7.
Na oração da manhã, se decide a sorte do dia, pois nela se busca esta unidade. A oração nos ensina a ordenar e distribuir melhor o nosso tempo, de tal modo, que quando descobrimos Deus através das coisas, adquirimos força suficiente para vencer as tentações que cada jornada de trabalho traz consigo.
COMIDA DO MEIO-DIA
Para Bonhoeffer, o pão está relacionado ao trabalho, 2 Ts 3,10- não que o trabalho leva a algum direito ante a Deus, porque o trabalho é um mandamento e o pão é um dom livre e misericordioso de Deus. É a hora em que o céu se escureceu sobre a cruz de Jesus,a hora para que a obra da reconciliação fosse cumprida.
ORAÇÃO DA NOITE
Um dia é grande o bastante pra colocar em prova a nossa fé, depois da jornada de trabalho, imploramos a Deus sua bênção, sua paz e sua proteção sobre toda a cristandade, sobre nossa comunidade, sobre nossos vizinhos, pastores, solitários, enfermos, moribundos, nossa família. É também o momento que pedimos perdão por tudo temos feito contra Deus e nossos irmãos (Ef, 4,26).
A seguir, Bonhoeffer conta uma história curiosa sobre a igreja primitiva, elas oravam para que de noite o Senhor as preservassem dos ataques do inimigo, nossos antepassados sabiam do parentesco do sono com a morte, da astúcia do inimigo empenhado em derrubar o homem quando não tem defesa. Assim, uma petição singular da igreja primitiva, era aquela que rogava a Deus que mantenha nosso coração desperto enquanto nossos olhos dormem, de tal feita, que mantenha puro o nosso coração de todos os pesares e tentações da noite, que nos prepare para escutar sua chamada a todo momento, e possamos responder como Samuel - 1Sm 3,10.
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