quinta-feira, junho 23, 2011

Dietrich Bonhoeffer: O Serviço

AS TAREFAS DA COMUNIDADE

Começando por Lc. 9,46- Bonhoeffer começa a discutir o serviço cristão, nem bem se reunem os homens, eles já começam a observar-se, a julgar-se, classificar-se. Isto pode destruir a comunidade, por isto, é vital para toda comunidade cristã que se desmascare o inimigo que a ameaça, e acabe com ele. Desde do primeiro encontro, o homem busca uma posição vantajosa frente ao outro, se necessita não ser homem para não buscar instintivamente uma posição segura frente aos outros, por ela se luta com todas as forças e a ela não se renunciará a nenhum preço. É a luta do homem natural por auto-justificação, a que vem por si mesmo e o ato de julgar os demais são inseparáveis, como são a justificação pela graça e o serviço ao próximo que dela se desprende.

NÃO JULGAR 

Uma regra essencial da vida cristã comunitária é que não se deixa permitir pronunciar uma palavra secreta sobre o outro( Sl. 50, 20-21 ; Ef. 4,29). Em uma comunidade onde se observa desde do princípio a disciplina da lingua, cada um em particular poderá fazer um descobrimento incomparável, não poderá deixar de observar continuamente a seu próximo, de julga-lo, de condena-lo, de colocar em seu lugar e pressiona-lo, contudo também, poderá deixa-lo completamente livre na situação em que Deus tem posto a respeito dele, assim verá o propósito do próximo, a riqueza e o esplendor do dom do Deus criador. 

Deus não criou meu proximo como eu o houvera criado, não me deu como um irmão a quem devo dominar, senão alguém através de quem eu possa encontrar o Senhor que o criou. Em sua liberdade de criatura de Deus, o próximo se converte para mim em fonte de alegria, ainda que não era mais que motivo de fadiga e pesadelo, Deus não quer que eu forme o próximo segundo a imagem que me pareça conveniente, ou seja, segundo a minha própria, mas ele o criou a sua imagem, sem mim, e nunca posso saber de antemão como me aparecerá a imagem de Deus no próximo, adotará sem cessar formas completamente novas, determinadas unicamente pela liberdade criadora de Deus, que o criou a imagem de seu Filho, o Crucificado, e também esta imagem me parecia muito estranha e pouco divina, antes de eu chegar a compreende-la. 

A FUNÇÃO DO CRENTE

As diferenças entre os crentes serão motivo de alegria e serviço mútuo, cada membro da comnidade receberá o outro em seu lugar determinado, não querendo aquele mais exitoso, mas aquele para o qual pode servir melhor aos demais, na comunidade cristã tudo depende que cada um chegue a ser aproveitado, os fortes precisam dos fracos e os fracos precisam dos fortes.

Não é a auto-justição, um espírito de violência, que deve prevalecer na comunidade, mas a justificação pela graça, a misericórdia de Deus, serviço mútuo. O que nos atrai não é o papel de juiz, mas de nos encontrarmos entre os pobres e humildes - Rm 12,16, 12,3 e

Somente aquele que vive do perdão de seus pecados em Jesus, adquire a verdadeira humildade, pois sabe que este perdão marcou o fim de sua própria sabedoria, recorda que a própria sabedoria perdeu os primeiros homens que quiseram conhecer o bem e o mal, e que Caim, o primeiro homem nascido sobre a terra depois da queda, foi um homicida. Este é o fruto da sabedoria humana. Devido ao fato que o cristão já não pode ser crer sábio, terá em pouca estima seus planos e projetos pessoais, e compreenderá que é bom que sua vontade seja dominada em confronto com o próximo, estará mais disposto a considerar mais importante e urgente a vontade do próximo que sua própria.

NÃO SER ALTIVOS.

Também a honra do próximo é mais importante que minha própria glória. (Jo 5,44). O apetite da própria glória impede a fé, o que busca isto esquece-se de Deus e do próximo( Ecl. 7,8) O que vive da justificação pela graça está disposto a aceitar também ofensas e vexações sem protesto como provenientes da mão severa e misericordiosa de Deus.
O pecado da sucetibilidade demonstra continuamente quanta ambição ou que é o memso, quanta incredulidade há em nossas igrejas de forma latente.

Sobre a passagem de 1Tm 1,15, Bonhoeffer diz que não posso conhecer verdadeiramente meu pecado se não desço a esta profundidade. Se meu pecado, ao compara-lo com o dos outros, me segue parecendo de algum modo menos grave e menos condenável, é que meu desconhecimento dele é absoluto. Meu pecado é necessariamente o maior, o mais grave e mais condenável porque para o pecado dos demais o amor fraterno me faz encontrar desculpas, contudo para o meu não há desculpa.

ESCUTAR OS OUTROS.

O primeiro serviço que um deve ao outro dentro da comunidade é escutar. Assim, o começo de nosso amor por Deus consiste em escutar sua palavra, assim também o começo do amor ao próximo consiste em escutá-lo.  O amor de Deus não tem sido manifesto não apenas na sua palavra, mas também por que Ele nos escuta, portanto, faça com ele aquilo que Deus tem feito conosco.

Certos crentes e, em especial, os pregadores crêem  que cada vez que se encontram com outros homens, seu único serviço consiste em oferecer-lhes algo, se esquecem de que o saber escutar pode ser mais útil que falar. Muita gente busca alguém que os escute e não o encontra entre os cristãos, porque este se põe a falar mesmo quando deveriam escutar.

Aquele que não sabe escutar a seus próprios irmãos, de pronto, será incapaz de escutar a Deus porque também diante de Deus não fará outra coisa que falar. Introduz-se, assim, um germe de morte em sua vida espiritual e termina que aquilo que ele diz é nada mais palavrório religioso. Fica sempre a margem dos problemas e não se dá conta deles, pensa que seu tempo é muito valioso para perde-lo escutando os demais, jamais encontrará tempo para Deus e para o próximo. Somente encontra tempo para si mesmo, para sua verborragia e seus projetos pessoais

Temos falhado naquilo que é mais importante escutar a confissão de nossos irmãos, o mundo secular tem consciência de que frequentemente só é possível ajudar a um ser humano se o escutamos com seriedade, sobre este convencimento tem edificado sua própria cura de almas secular, que goza de afluência sobre os homens, entre os quais, cristãos.

Devemos escutar com os ouvidos de Deus para poder falar com as palavras de Deus.


AJUDAR-SE

O segundo serviço que devemos prestar-nos mutuamente na comunidade cristã é o de ajudarmos diariamente, pensamos em primeiro lugar na ajuda material, devemos estar dispostos a aceitar que Deus venha interromper nossa jornada pra ajudar os outros. Absortos em nossas próprias preocupações, podemos passar distante como fez o sacerdote na parábola do bom samaritano. Deste modo, nos distanciamos do sinal que Deus erigiu ao longo de nosso caminho. Aqui, Bonhoeffer critica a classe sacerdotal, dizendo que são precisamente os cristãos e teólogos que não estão dispostos a deixar-se interromper por nada, não querem saber nada daquele que cruza em seu caminho.

Não devemos negar nossa ajuda aqueles que necessitam, nem administrar nosso tempo por nossa conta, senão deixar que seja Deus quem nos leve, isto faz parte da escola da humildade. Na vida evangelica de comunidade, há o livre serviço para os irmãos.

ACEITAR O PRÓXIMO

O terceiro serviço é o de suportar os outros (Gl. 6,2). A lei de Cristo é uma lei de carregar, suportar. Para o cristão, o próximo é uma carga, somente deste modo ele se converte um irmão e não um objeto que se possua.

A carga dos homens foi tão pesada para Deus, que ele caminhou até a cruz debaixo do seu peso, Deus nos levou e suportou no corpo de Jesus Cristo (Is. 53,45). Por esta razão, a vida inteira do cristão é também uma vida debaixo da cruz, assim se realiza a comunidade do corpo de Cristo, aquela em que nós aceitamos e levamos as cargas uns dos outros, do contrário, não somos uma comunidade cristã e renegamos a lei de Cristo.

Em primeiro lugar, a carga do cristão é a liberdade do próximo, esta liberdade vai contra a tendência de dominar sobre os outros. Poderíamos desfazermos desta carga e atentar contra a liberdade do próximo intentando formar-lhe a nossa imagem, contudo, devemos deixar que seja Deus quem crie sua imagem nele, respeitaremos assim a liberdade de suas criaturas enquanto levamos a carga que esta liberdade coloca sobre a gente. Entendemos por liberdade do próximo, todo o que constitui sua natureza, suas qualidades, seus talentos, como também suas debilidades e fraquezas que tanto põe a prova nossa paciência.

Carregar a carga do próximo significa suportar a realidade do outro como criatura, aceita-la e alegrarmos de faze-lo. Isto será especialmente difícil numa comunidade que agrupe forte e debéis na fé, que um não se julgue forte e que outro não despreze o fraco, o débil se cuide do orgulho e o forte da indiferença. Que ninguém busque seu próprio direito(Cl 3, 13 e Ef 4,2).

O PECADO DO PRÓXIMO

O pecado do próximo também se converte em carga para o cristão, é mais difícil de suportar que sua liberdade, porque destrói a comunhão que temos com Deus e com os irmãos. Há de manifestar o poder da graça para saber suportar isto, não menosprezar o pecador, não o dar por perdido. ( Gl 6,1)

Cristo nos aceitou e nos suportou como pecadores, a igreja está fundada sobre o perdão dos pecados, não necessitamos julgar os pecados dos outros, senão pedir graça para suporta-los. Todo pecado pessoal é uma carga que pesa sobre toda a comunidade, a igreja deve alegrar-se por assim descobre que é dignar de carregar e perdoar os pecados. O ministério do perdão de pecados é um serviço diário, se exerce silenciosamente nos rogos que cada um faz pelos outros, pode estar seguro que seus irmãos também rogam por você. Aquele que suporta os outros, sabe que os outros também o suportam.

Quando estas três tarefas do serviço cristão - escutar, ajudar e suportar- são cumpridas fielmente se faz possível cumprir igualmente a última e mais importante, o serviço da palavra de Deus.



A PALAVRA DE DEUS.

Bonhoeffer se refere a palavra livre, não vinculada ao ofício,lugar ou tempo determinados, se trata daquela situação única no mundo, em que um homem com palavras humanas testifica ao seu semelhante a realidade de Deus, seu conselho e seus caminhos, sua bondade e sua severidade.

A comunidade cristã exige de seus membros que se dêem testemunho pessoal a respeito da palavra e da vontade divina, é totalmente impensável que os irmãos se abstenham de falar entre ele precisamente daquilo que lhes é mais vital. Seria anticristão negar deliberadamente a um irmão este serviço fundamental.

Se a palavra não quer aflorar em nossos lábios, deveríamos nos perguntar se não consideramos  nosso irmão unicamente  em sua dignidade humana que não queremos coagir, esquecmos assim do mais importante, que nosso irmão é um homem como a gente, um pecador necessitado da palavra de Deus e que tem  as suas tribulações parecidas com as nossas, precisam de ajuda, conselho e perdão

A base é saber que meu irmão é um pecador abandonado e perdido em toda sua dignidade humana se não recebe ajuda, é faze-lo saber que ainda que pecador, ele está destinado a tomar parte da misericórdia e glória de Deus, ser filho dele. O conhecimento da verdadeira situação do próximo dá a nossa palavra a liberdade e franqueza necessárias, nosso propósito se orienta a ajuda que precisamos uns dos outros, nós mostramos  o caminho que Cristo nos manda seguir. Nós nos colocamos mutuamente em guarda contra a desobediência e suas consequências mortais.

SERVIR A DEUS

Não exite verdadeira  autoridade espiritual sem o serviço de escutar, ajudar e suportar os outros e anunciar a palavra de Deus. Na comunidade não existe lugar para o culto de personalidades, é totalmente profano e envenena a comunidade. Isto contradiz o novo testamento -1Tm 3,15-, toda autoridade de uma pessoa reside no serviço, nada há de extraordinário em qualquer homem. Buscar outro gênero de autoridade na igreja é querer reestabelescer de forma uma forma de relação direta entre os crente, um laço puramente humano.

A verdadeira autoridade sabe que não pode subsistir mais que estando ao serviço do único que a possui- Mt 23,8-. A comunidade não necessita de pessoas brilhantes senão de fiéis servidores de Cristo e de seus irmãos.
Autoridade pastoral somente poderá vir daquele servidor de Jesus, que não busca sua própria autoridade, aquele que submetido a autoridade da palavra de Deus é um irmão entre os irmãos.

Nenhum comentário: