sábado, junho 04, 2011

Dietrich Bonhoeffer: Vida em Comunhão






1. sobre a vida em comum.



Bonhoeffer começa com uma citação de Lutero, "O reino de Jesus Cristo deve ser edificado em meio de teus inimigos. Quem nega esta renúncia para tomar parte deste reino, e prefere viver rodeado de amigos, entre rosas e lírios, longe dos malvados,em um círculo de gente piedosa. Não veem que assim blasfemam e traem a Cristo? Se Jesus tivesse atuado como nós, quem haveria de se salvar-se?"







Em meio as dores e tribulações, a presença do próximo, do irmão e companheiro é fundamental. "O crente não ser envergonha e nem se considera muito carnal por desejar ver o rosto de outros crentes. O homem foi criado com um corpo, em um corpo apareceu para nós o Filho de Deus na terra, em um corpo foi ressuscitado; com o corpo o crente recebe a Cristo no sacramento, e a ressurreição dos mortos dará lugar a uma plena comunidade de filhos de Deus, formados de corpo e espírito" (p.11)







É através da presença do irmão de fé, que o crente pode adorar a Deus, segundo o autor, o prisioneiro, o enfermo ou crente afastado reconhecem no irmão um sinal visível  e misericordioso da presença de Deus trino. Assim, Bonhoeffer se pergunta: "se o mero encontro é um encontro de alegria, que inefável felicidade não sentirá aqueles a quem Deus permite viver em comunidade com outros crentes!" 







A comunidade cristã







A comunidade cristã significa  a comunhão em Jesus Cristo, nenhuma comunidade cristã pode algo a mais ou a menos que isto. Se podemos ser irmãos é unicamente em e por Jesus Cristo. Isto significa duas coisas, primeiro, Ele é o fundamento da necessidade que os crente tem uns dos outros e, em segundo, torna possível a comunhão, e, por fim, nos tem elegido desde a eternidade para nos aproximarmos nesta vida e nos mantermos unidos por toda a eternidade.







"O cristão é um homem que já não busca sua salvação, sua liberdade e sua justiça em si mesmo, mas apenas unicamente em Jesus Cristo"  O autor prossegue no tema reformado da  justiça externa - extra nos -, a vida ou morte do crente dependem da palavra de Deus sobre ele, sua salvação e bendição provém exclusivamente da Palavra de Deus em Jesus Cristo. "Em si mesmo não encontra nada, senão pobreza e morte, e se há socorro para ele, apenas poderá vir de fora. Pois bem, esta é a boa notícia: o socorro foi enviado e está nos ofertado a cada dia na Palavra de Deus que, em Jesus Cristo, nos traz libertação, inocência e felicidade"






Bonhoeffer faz um paralelo entre a justiça passiva (de fora) e a comunidade cristã, "aqui está clara a meta de toda comunidade cristã: permitir nosso encontro para nos revelemos mutuamente a boa notícia da salvação. Esta é a intenção de Deus ao nos reunir. Em uma palavra, a comunidade cristã é obra apenas de Jesus Cristo e sua justiça estrangeira. Portanto, a comunidade dos crentes é fruto da justificação do homem apenas pela Graça de Deus, tal e como se anuncia na Bíblia e ensinam os reformadores. Essa é a boa notícia que fundamenta a necessidade que tem os crentes uns dos outros".

Cristo mediador.

A seguir, o autor coloca a necessidade de Cristo como mediador do relacionamento do homem com Deus e tanto do homem com homem na comunhão, os crente somente podem se amar e ajudar-se mutuamente a chegar a um só corpo por meio de Jesus Cristo, somente nele é possível esta união.

A comunidade de Jesus Cristo.

Pela encarnação dEle, na sua cruz e sua ressurreição, ele nos toma com Ele. Fazemos parte dele porque estamos com ele, por esta razão a escritura nos chama de corpo de Cristo. (...) Nossa comunidade cristã se constroi unicamente pelo ato redentor de que somos objeto. E isto não é somente verdadeiro para seus começos,  de tal maneira que se pudesse acrescentar algum outro elemento com o passar do tempo, senão que se segue sendo assim em todo o tempo e para toda a eternidade. Somente  Jesus Cristo fundamenta a comunidade que nasce ou nascerá um dia, entre os crentes. Quanto mais autêntica e profunda chegue a ser, tanto mais retrocederam nossas diferenças pessoais e com maior claridade será patente para nós que a unica e sozinha realidade: Jesus Cristo e o que ele fez por nós. Unicamente por ele nós pertencemos uns aos outros real e totalmente, agora e por toda a eternidade. (p. 17-18)

A fraternidade cristã

Aqui Bonhoeffer adverte para os perigos da religiosidade, ou, o que ele chama de intoxicação interna provocada pela confusão entre fraternidade cristã e um sonho de comunidade piedosa. Contra isto, ele nos adverte a ter consciência de que, em primeiro lugar, a fraternidade cristã não é um ideal humano, mas uma realidade dada por Deus e, em segundo lugar, é uma realidade de ordem espiritual e não psíquica.

Ele exemplifica dizendo que quando entramos numa comunidade, levamos nossos ideais ou idéias de como ela deve ser, mas o próprio Deus nos  destrói constantemente esta classe de sonhos, ficamos assim, decepcionados com os outros e conosco mesmos e assim, Deus nos vai levando ao conhecimento da autêntica comunidade cristã.
Não nos deixa viver estes sonhos, porque Deus não é um deus de emoções sentimentais, é um Deus da realidade. Então, somente a comunidade, que consciente de suas tarefas, não sucumbe a esta grande decepção, começa a ser aquilo que Deus quer, e alcança pela fé a promessa bíblica pela qual foi feita.

Deus se aborrece dos nossos sonhos piedosos porque nos fazem duros e pretensiosos, não nos deixam exigir o impossível para Deus, dos outros e nós mesmos. Nos erguem como juízes dos irmãos e de Deus mesmo. Nossa presença é para os outros uma reprovação viva e constante, vivemos a vida como se nós estivessemos construindo uma comunidade cristã que não existia, adaptada a imagem de cada um de nós, e quando as coisas não saem como queremos, falamos em falta de colaboração, convencidos que a comunidade se acaba quando vemos nossos sonhos sendo derribados. Deste modo, começamos a acusar os irmãos, depois a Deus, e finalmente, desesperados, direcionamos nossa amargura contra nós mesmos.


Tudo ao contrário acontece quando estamos convencidos que Deus mesmo colocou o fundamento único sobre qual devemos edificar nossa comunidade e que, antes de qualquer iniciativa por nossa parte, nos tem unido em um só corpo por Jesus Cristo, pois então não entramos na vida em comum com exigências, senão somos agradecidos de coração e aceitamos receber. Damos graças a Deus por aquilo que ele em feito em nós.


A gratidão

Bonhoeffer parte da premissa que Deus concede muitas coisas para quem agradece pelas poucas coisas. ele nos adverte do perigo mais uma vez de querermos construir a comunidade a parte de Deus.

Um pastor não deve queixar-se jamais de sua comunidade, nem sequer diante de Deus. Não foi confiada a comunidade para que ele se converte em um acusador diante de Deus e dos homens. Qualquer membro que comete o erro de acusar a sua comunidade deveria perguntar-se primeiro se não é precisamente Deus quem destruiu a quimera que ele havia fabricado para si mesmo. Se é assim, que ele dê graças a Deus por esta tribulação e não o que é, que se guarde de acusar a comunidade de Deus, que acuse mais bem a si mesmo por falta de fé, que peça a Deus, que lhe deixe compreender no que tem desobedecido, o pecado e se livre de ser escândalo para os outros membros da comunidade, que lute por isso, ademais por si mesmo, e que, também de cumprir aquilo que Deus lhe proporciono, e lhe dê graças"  (p.22)
A espiritualidade  da comunidade cristã 

Mais uma vez, Bonhoeffer retoma o tema da fundação da comunidade, dizendo que ela não é um ideal humano, mas sim uma realidade criada por Deus em Cristo unicamente, não é uma realidade de ordem psíquica, nisto ela se distingue de todas as outras comunidades. As escrituras entendem por espiritual, o dom do Espírito Santo que nos faz reconhecer  Cristo como senhor e salvador; por psíquico, seria aquilo que expressa nossos desejos, de nossas forças e nossas possibilidades naturais em nossa alma.

O autor faz esta distinção de fundamentos, coloca uma comunidade espiritual baseada unicamente em Jesus Cristo e outra psíquica - carnal- baseada na vontade dos homens, ele coloca que a primeira é luz e não há trevas- 1 Jo 1,5- e a segunda, trevas, Me 7, 21.

A influencia de Karl Barth é clara aqui neste ponto, a revelação de Deus exclusivamente através de Jesus Cristo, "comunidade espiritual é  a comunhão de todos os chamados por Cristo, a comunidade psíquica é a comunhão das almas piedosas. Uma é no ambito da transparência, caridade fraterna, do agápe; a outra, de eros, do amor mais ou menos desinteressado, do equívoco perpétuo".

Entre meu próximo e eu está Cristo, por isto não me é permitido desejar uma comunidade diretamente com meu próximo, apenas unicamente Cristo pode ajudar-me, isto significa, que devo renunciar aos meus intentos apaixonados de manipular, forçar dominar a meu próximo. Meu próximo quer ser amado tal e como é, independentemente de mim, isto é dizer, como aquele por quem Cristo se fez homem, morreu e ressuscitou; a quem Cristo perdoou e destinou a vida eterna. Em vista disso, antes de toda intervenção por minha parte, Cristo tem atuado decisivamente nele, devo deixar livre meu próximo para o Senhor, a quem pertence, e cuja vontade é o que eu reconheço assim. Isto é o que queremos dizer quando afirmamos que não podemos encontrar nosso próximo a não ser em Cristo

A vida de Jesus Cristo nao apenas revela Deus para nós, mas também a própria comunidade cristã, o Outro e o outro.


A comunidade forma parte da igreja cristã

Aqui o autor fala do perigo de cairmos no erro de sendo uma comunidade espiritual deixar de sê-la, e tornar-se uma comunidade psíquica, isto acontece quando trocamos a realidade divina pelo ideal humano.

A união com Jesus Cristo

Para Bonhoeffer, a comunidade cristã assim como o pão diário é um presente de Deus, uma graça concedida por Deus para os homens através de Jesus, não é obra ou ideal humano ou dependem dele. O que Deus deseja é aceitemos pela fé este presente, que nos chega cheia de alegria e gozo, que nos permite poder renunciar a todas as experiências as quais ele quer que renunciemos; a graça de podermos viver unidos debaixo da autoridade da palavra, é doce para os irmãos viver juntos por Cristo, porque unicamente Jesus é o vínculo que nos une, Ele é a nossa paz e somente por ele temos acesso uns aos outros e nos regozijamos unidos no gozo da comunidade reencontrada.







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