Nos próximos 31 dias, vou buscar ler e colocar no blog algumas impressões sobre o livro GRAÇA FUTURA de John Piper. O livro foi dividido em 31 capítulos, de modo que, seja lido 1 capítulo a cada dia.
O primeiro capítulo A ÉTICA DO DEVEDOR: DEVEMOS TENTAR RESTITUIR A DEUS?. Neste capítulo John Piper tentar demonstrar o argumento básico de seu livro, que a gratidão como fundamento da vida cristã não funciona e nem é bíblico, devendo ser colocado outro fundamento em seu lugar, que é a graça futura.
A gratidão é uma reação espontânea de alegria quando se recebe algo mais valioso do que pagamos, para Piper, devido a queda nosso coração começa a esquecer disto e caímos numa ética do devedor, ou seja, "porque você fez algo bom para mim, sinto-me devedor de fazer algo para você".
Deus quer que a gratidão seja uma expressão espontânea de prazer na dádiva e na bondade de outra pessoa, se ela se torna um sentimento de dívida, dá origem à ética do devedor, cujo efeito é anulação da graça. É transformação daquilo que foi um presente num sistema de troca.
Então, devemos retribuir a Deus?
Na ética do devedor a vida cristã é retratada como o esforço para retribuir a dívida que temos com Deus. Geralmente se faz a concessão de que nunca poderemos pagar tudo. Mas a gratidão exige que nos esforcemos nisso. As boas obras e as ações religiosas são os pagamentos feitos em parcelas de uma dívida infinita que temos com Deus. Essa ética do devedor muitas vezes está - talvez até de forma involuntária - por trás das palavras: "Devemos obedecer a Cristo por gratidão" p. 35
A gratidão para Piper não é biblicamente a motivação para uma vida ética, a Bíblia não coloca simplesmente a gratidão como fundamento da obediência cristã.
O problema do pecado foi causado pela ingratidão? A seguir, prosseguindo em seu raciocínio, o autor coloca que o problema do pecado no AT, era causado por falta de fé e não por ingratidão.
"O que importuna é a graça divina passada não motivar o povo a confiar na graça futura de Deus. Fé na graça futura, e não gratidão, é a força ética que falta para vencer a rebelião e motivar a obediência" p. 36
Ele relaciona o temor do Senhor com a fé na graça futura, para ele, o temor do Senhor seria um insulto a Deus que você não confiasse nas generosas promessas de poder e sabedoria a seu favor. A obediência que vem do temor a Deus sem fé na graça futura, nunca será livre, mas apenas servil.
"Temer ao Senhor é temer diante da percepção de como é terrível o insulto ao Deus santo se não tivermos fé na graça futura depois de todos os sinais e maravilhas realizados para conquistar a nossa confiança e obediência. É essa fé na graça futura que canaliza o poder de Deus à obediência. Buscamos o Antigo Testamento em vão se queremos encontrar o ensino explícito de que a gratidão é o canal deste poder" p. 37
E quanto a cumprir seus votos, para Piper, pensar sobre isto aprofundou a relação entre a gratidão e graça futura. O cumprimento dos votos não está ligado a uma retribuição habitual, mas o ato de receber a graça contínua de Deus.
Pensando no Salmo 116, nos versos 12 a 14, ele diz:
"Em primeiro lugar, erguer o cálice da salvação significa tomar a salvação suficiente do Senhor em mãos e bebê-la, esperando mais. É por isso que digo, a retribuição a Deus nesses contextos não é um pagamento ordinário. É um ato de recebimento. (...) Em segundo lugar, esse é também o significado da expressão seguinte: Invocarei o nome do Senhor. Como posso retribuir ao Senhor por generosamente atender minha invocação? Resposta: Eu o invocarei novamente. Retribuirei a Deus o louvor e o tributo de que ele nunca tem necessidade de mim, mas está sempre transbordando de benefícios quando preciso dele (e sempre preciso). Então o salmista diz em terceiro lugar, Cumprirei com o Senhor os meus votos. Mas, como eles podem ser cumpridos? Eles são cumpridos e pagos quando ergo o cálice da salvação e quando invoco o Senhor. Isto é, serão cumpridos pela fé na graça futura" p. 39
A fé na graça futura é que impede a gratidão se tornar a ética do devedor. A verdadeira gratidão exulta nos seus favores do passado, mas me leva a confiar na graça futura. Ela diz a fé: "Aceite mais desses benefícios para o futuro, para que minha feliz obra de olhar para trás, para o livramento provido por Deus, possa continuar" p.40
Para John Piper, a verdadeira gratidão não gera uma ética do devedor, mas uma fé na graça futura.Na verdadeira gratidão, somos impulsionados pela gratidão a querer mais e mais da graça de Deus no futuro. Mas, isto não será um pagamento de dívida, mas uma transformação da gratidão em fé enquanto ela passa da contemplação das graças passadas para a esperança das graças futuras.
Comentários.
A graça de Deus é um contínuo permanecer, ela não nos leva a algum lugar em que devemos começar a andar por nós mesmos. Todo caminho cristão é um seguimento dos passos de Jesus, é um descobrir a cada novo dia uma nova esperança, enfim, uma nova vida em Cristo. É receber e alegrar-se em receber, é receber e esperar em Deus receber mais ainda dEle.
Como Edwards coloca o Deus é mais glorificado quanto maior o homem depende dEle. Pensando na metáfora do permanecer, o lugar que partimos é sempre uma posição de descanso, nossa vontade descobre em Deus tudo que precisamos e nosso trabalho como varas desta videira é viver da vida que sai da videira.
Carlos McCord coloca bem este ponto, nossa vida é permanecer, alegrar-se e compartilhar. Um ecossistema moldado por Deus, em que toda vida vem dEle e vai para Ele.
Tentando fugir de um comportamento legalista, que busca méritos em Deus, que busca obter a salvação de Deus, por vezes, pregamos que devemos adorar a Deus em gratidão por aquilo que Ele fez para cada um de nós. Pensando melhor, isso nos coloca numa posição externa em relação a Deus e em cálculo diante de Deus.
Mais do que os favores de Deus, é a sua presença que conta. E desfrutar desta presença, esperar na esperança de Deus que age em nossa vida é o que realmente conta para nossa vida. O que há imperfeito em nós, o pecado de cada um de nós não há de permanecer para sempre, um dia ele será totalmente purificado por Deus, mas, até lá devemos viver uma vida na dependência completa e irrestrita de Deus, não por que Ele fez em nossa vida, mas para aquilo que Ele está construindo em cada um de nós.
Somos vasos de barro nas mãos do oleiro! Obra imperfeita, mas sustentadas pela perfeição de Jesus que mora em cada um de nós que o recebemos a partir do novo nascimento.
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