No quinto capítulo, Piper vai nos contar que "a graça não seria graça se fosse resposta aos nossos recursos. A graça é a graça porque ressalta os próprios recursos transbordantes da bondade divina. A graça é eterna porque levará muito tempo para Deus gastar seus depósitos inesgotáveis de bondade de Deus. A graça de Deus é gratuita porque Deus não seria o Deus infinito e auto-suficiente que é obrigado por qualquer coisa fora dele" (p. 76)
Nossa vida está pendurada na graça futura, a graça é a bondade de Deus mostrada a pessoas que não a merecem e a misericórdia é a bondade de Deus mostrada a pessoas que estão em uma situação miserável.
Antes da queda, Adão e Eva experimentaram a bondade não como reação ao seu pecado, mas ambos não mereciam estar lá. E a vontade de Deus para eles era a vida pela fé na graça futura. Deus queria que o não comer da árvore proibida fosse um ato de confiança em sua sabedoria e disposição para conduzi-los na vida. "A desobediência deles foi uma violação da confiança no amor do Pai e a renúncia à fé na graça futura" (p.78)
Após a queda, a experiência da graça mudou, quem não merece a graça, está agora num estado miserável. A graça aparece como misericórdia, ha uma distinção corrente entre graça e misericórdia, colocando a primeira para as pessoas que pecam e a segunda para as pessoas que sofrem.
A graça gratuita, imerecida, condicional.
Piper cita Ef. 6.24, há uma graça gratuita, mas condicional, que vêm sobre aqueles que amam a Jesus. A graça condicional não é graça merecida, ou seja, não pode ser conquistada por nossos próprios méritos.
"quando a graça de Deus é prometida com base em uma condição, essa condição também é uma obra da graça de Deus. Isso garante a absoluta gratuidade da graça(...) um exemplo bíblico é o arrependimento como condição para receber a graça do perdão (Atos 3.19) Mas o próprio arrependimento é uma dádiva da graça de Deus (Atos 11.18)" p. 80
O autor expõe quatro maneiras de ressaltar que a liberdade está no centro do significado da graça bíblica.
- Ser Deus é ser livre: Deus é o livre doador da graça (Ex. 33.8), a graça não é constrangida por nada fora do próprio Deus.Ele é livre na forma que reparte sua graça, essa liberdade está na sua essência, não está limitado pela maldade de ninguém. Sua graça pode irromper em qualquer momento e lugar que lhe agradar.
- Graça doadora de vida é graça livre e gratuita, conforme Ef. 2.4-6, o ato decisivo na conversão é a vida com Cristo quando estávamos mortos. Deus nos viu nessa condição e teve compaixão de nós.
- Graça que elege é autônoma e livre, conforme Rm 11.5, há uma correlação entre graça e eleição. A escolha de Deus foi livre, são eleitos por causa da graça autonoma, gratuita e incondicional. "Se as obras humanas obtêm salvação e criam o remanescente, a graça da eleição já não seria mais graça. O que começou como graça na eleição autonoma, gratuita e incondicional deixaria de ser graça" p.83
- Deus inexaurível e a gratuidade da graça. Deus é fonte inesgotável, ele é sempre o benfeitor, e nós sempre os beneficiados. Este ponto fala da riqueza da graça, inesgotável e auto-supridora - Ef. 2.6,7. Há dois pontos aqui, o primeiro é o derramamento divino com generosidade de riquezas da sua graça, e a outra, é que Deus levará a eternidade para fazê-lo. "A graça não seria graça se reagisse aos recursos existentes em nós. A graça é graça porque ressalta os recursos transbordantes da própria bondade de Deus. A graça é eterna porque é esse tempo gasto por Deus para derramar provisões inesgotáveis da sua bondade sobre nós. A graça é gratuita porque Deus não seria infinito e auto-suficiente se fosse constrangido por qualquer coisa fora dele mesmo" p.84
A glória de Deus é devidamente louvada quando realizamos a dimensão da graça de Deus para cada um de nós desde agora até a eternidade.
COMENTÁRIOS:
A fé na graça futura tem muito a ver com a dimensão daquilo que acreditamos que seja Deus, por vezes, diminuímos e muito o poder e a grandeza da graça de Deus para conosco. Querendo talvez um pouco de crédito pelas coisas, mas devemos sempre saber que todo pão é dado pelo nosso Pai.
Deus é a fonte de toda provisão, a confiança nesta fonte eterna de satisfação, paz, segurança e salvação muda a nossa vida, acalma o nosso coração e lança fora todo o medo. E, enfim, encontramos descanso.
Jonathan Edwards coloca isso claramente em seu sermão "Deus glorificado na dependência dos homens" baseado em 1Coríntios 1:29-31:
Primeiro, todo o bem que eles têm é em e por Cristo, Ele é feito à sabedoria nós, justiça, santificação e redenção. Todo o bem dos caídos e criatura redimida está em causa nestas quatro coisas, e não pode ser mais bem distribuída do que para eles, mas Cristo é cada um deles para nós, e nenhum deles tem qualquer outra forma que não ele. Ele é feito de Deus a sabedoria nós: nele estão todos excelência o bom bom e verdadeiro do entendimento. Sabedoria era uma coisa que os gregos admiravam, mas Cristo é a verdadeira luz do mundo, é através dele que a verdadeira sabedoria só é dada para a mente. É dentro e por Cristo que temos a justiça: é por ser nele que somos justificados, ter nossos pecados perdoados, e são recebidos como justos em favor de Deus. É por Cristo que temos santificação: temos nele excelência verdadeiro de coração, assim como de entendimento, e ele é feito a nós inerentes, bem como justiça imputada. É por Cristo que temos a redenção, ou o livramento real de toda a miséria e a dádiva de toda a felicidade e glória. Assim, temos todas as nossas boas por Cristo, que é Deus. Em segundo lugar, outro exemplo em que nossa dependência de Deus para todos os nossos bons aparece, é este, que é Deus que nos deu Cristo, para que possamos ter esses benefícios por meio dele, ele é feito de Deus para nós sabedoria, justiça, etc Em terceiro lugar, é dele que estamos em Cristo Jesus, e vir a ter interesse nele, e assim que receber as bênçãos que ele é feito para nós. É Deus que nos dá a fé pela qual nós fechamos com Cristo. De modo que neste versículo é mostrado a nossa dependência de cada pessoa na Trindade para todos o nosso bem. Somos dependentes de Cristo, o Filho de Deus, como ele é a nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção. Somos dependentes do Pai, que nos deu Cristo, e fê-lo a ser estas coisas para nós. Somos dependentes do Espírito Santo, pois é dele que estamos em Cristo Jesus, é o Espírito de Deus que dá a fé nele, pelo qual nós o recebemos, e fechar com ele.Valia também colar aqui a explicação de C.S. Lewis dá do nosso acanhamento diante da glória de Deus, que está em seu livro Peso de Glória:
As promessas das Escrituras podem, muito por alto, reduzir-se a cinco: em primeiro lugar, promete-se que estaremos com Cristo; em seguida, que seremos semelhantes a Ele; depois — e aqui é extraordinária a riqueza de imagens — que teremos "glória"; em quarto lugar, que seremos alimentados, festejados ou obsequiados; e, finalmente, que teremos alguma posição de destaque no universo — governaremos cidades, julgaremos anjos, seremos colunas no templo de Deus. A primeira pergunta que me surge é: "Não bastaria a primeira promessa?". Será possível acrescentar alguma coisa ao conceito de estar com Cristo? Pois deve ser verdade o que diz um velho escritor: aquele que tem Deus e tudo o mais, nada possui que não possua aquele que apenas tem Deus. Creio que, mais uma vez, a solução está na natureza dos símbolos. Ainda que não o vejamos à primeira vista, qualquer concepção da maioria de nós sobre o que seria estar com Cristo não é muito menos simbólica que as outras promessas, pois envolverá idéias de proximidade física, de conversa íntima, tal como a compreendemos, e estará, provavelmente, centrada na humanidade de Cristo, excluindo sua deidade. E na realidade verificamos que os cristãos que só levam em consideração a primeira promessa, sempre a preenchem com imagens bem terrenas — aliás, com imagens nupciais ou eróticas. Não condeno, de forma alguma, essas imagens. Gostaria até de aprofundar-me mais nelas e oro para que ainda o consiga. Mas o que pretendo mostrar é que isso também não é mais que um símbolo: é semelhante à realidade em alguns aspectos, mas diferente em outros e, portanto, exige que seja corrigida pelos diferentes símbolos contidos nas outras promessas. A diversidade de promessas não significa que a nossa mais alta bem-aventurança encontre-se fora de Deus; mas, pelo fato de Deus ser mais do que uma pessoa e para que não imaginemos a alegria de sua presença exclusivamente sob o aspecto de nossa pobre experiência de amor pessoal, com todas as suas limitações, tensões e monotonias, somos supridos de uma porção de imagens variadas que se corrigem e se suplementam mutuamente.Trato agora do conceito da glória. Não se pode escapar ao fato de que esse conceito é muito proeminente tanto no Novo Testamento como nos primeiros escritos do cristianismo. A salvação aparece constantemente associada a palmas, coroas, vestes brancas, tronos e esplendor semelhante ao do sol e das estrelas. Nada disso me impressiona particularmente e, nesse aspecto, considero-me um indivíduo tipicamente moderno. A glória passa-me duas noções: uma perversa e outra ridícula. A glória, para mim, ou é celebridade, ou luminosidade. Quanto à primeira interpretação, uma vez que ser célebre significa ser mais conhecido do que os outros, o desejo de celebridade parece envolver uma paixão pela competição e, por conseguinte, mais digno do inferno que do céu. Quanto à segunda interpretação, quem desejaria tornar-se uma espécie de lâmpada elétrica viva?Quando comecei a examinar esse assunto, fiquei chocado ao descobrir que cristãos tão diferentes como Milton, Johnson e Tomás de Aquino davam abertamente à glória celestial o sentido de fama, celebridade ou bom nome. Mas não fama conferida pelas criaturas — era fama perante Deus, aprovação ou (eu diria) "reconhecimento" da parte de Deus. E, depois de meditar sobre o problema, cheguei à conclusão de que se tratava de um ponto de vista bíblico; nada pode eliminar da parábola o divino louvor: "Muito bem, servo bom e fiel".E assim tombou, qual castelo de cartas, uma boa parte das teorias que eu construíra durante toda a vida. Lembrei, de repente, que ninguém pode entrar no céu senão como menino, e nada há de mais evidente numa criança — não na criança vaidosa, mas na boa criança — do que o grande prazer indisfarçado que ela encontra no elogio. E não só na criança, mas até nos cães ou nos cavalos. Obviamente, aquilo que eu confundira com humildade tinha-me impedido de compreender, durante todos esses anos, o que é o mais humilde, o mais pueril e o mais humano dos prazeres — ou, antes, o prazer característico dos seres inferiores: o prazer do animal perante o homem, da criança perante o pai, do aluno perante o mestre, da criatura perante o seu Criador. Não estou esquecendo-me de que forma horrível esse prazer inocente é parodiado nas nossas ambições humanas ou com que rapidez, em minha própria experiência, o legítimo prazer do louvor daqueles a quem é nosso dever agradar transforma-se no veneno mortal do orgulho próprio. Mas creio poder detectar um momento — um momento muito, muito breve —, antes que aquilo acontecesse, em que era ainda pura a minha satisfação de ter agradado àqueles que eu, com muita razão, amava e respeitava. E isso basta para fazer-nos pensar no que pode acontecer quando a alma redimida, acima de toda a esperança e quase acima da crença sabe, enfim, que agradou àquele para cuja alegria foi criada. Não haverá então lugar para a vaidade. Ela estará livre da miserável ilusão de que os méritos são seus. Sem o mínimo vestígio do que chamamos de auto-elogio, ela se regozijará inocentemente naquilo que Deus lhe permitiu ser, e o momento em que desaparecer para sempre o seu velho complexo de inferioridade sepultará também, para todo o sempre, nas profundezas, o seu orgulho. A humildade perfeita dispensa a modéstia. Se Deus está satisfeito com a obra, a obra pode ficar satisfeita consigo mesma: "não compete a ela discutir elogios com o seu Soberano". Posso imaginar alguém dizendo que não gosta da minha concepção do céu, que seria um lugar onde nos dão tapinhas nas costas. Mas por trás dessa rejeição existe uma compreensão falsa, orgulhosa. Esse Rosto, que é o deleite ou o terror do universo, voltar-se-á um dia para cada um de nós com uma das duas expressões, conferindo glória indizível ou infligindo vergonha que coisa alguma poderá curar ou ocultar. Há dias, li num periódico que o fundamental é o que pensamos de Deus. Por Deus, isso está errado! O que Deus pensa de nós não é apenas mais importante, mas infinitamente mais importante! Aliás, o que pensamos dele não tem a menor importância, a não ser quando o que dele pensamos relaciona-se com o que ele pensa de nós. Está escrito que seremos colocados perante ele, que seremos apresentados, examinados. A promessa de glória é a promessa quase incrível, e possível apenas pela obra de Cristo, de que alguns, alguns que verdadeiramente o quiserem, resistirão a esse exame, encontrarão aprovação, agradarão a Deus. Agradar a Deus... ser um verdadeiro integrante da felicidade divina... receber o amor de Deus, não apenas a sua piedade, mas ser o motivo do prazer, como um artista deleita-se em sua obra ou o pai em seu filho — parece impossível, é um peso ou carga de glória que nossa imaginação mal pode suportar. Mas é assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário