quarta-feira, janeiro 04, 2012

John Piper: Quando a gratidão não funciona bem.

Seguindo a leitura de Graça Futura, no segundo capítulo, o autor começa com um exemplo da cultura filipina, "utang na loob", que é uma lei interior que dita que o receptor de uma boa ação se comporte de forma generosa para com seu benfeitor enquanto viver. Essa ética do devedor cria uma relação opressiva, prejudicial a formação do indivíduo.

Para Piper, estes elementos estão presentes em todas as culturas, estamos condicionados a pensar no nosso relacionamento com Deus centrados naquilo que Ele fez por nós no passado, e na forma de retribuição que devemos fazer para ele no futuro.

No ponto anterior, vimos que a única dívida que temos com Deus é aquela de confiar em mais graça para tudo aquilo que Deus nos chama para fazer e a ser. 

Com base no Novo Testamento, Piper defende que toda a obediência tem seu centro na fé e não na gratidão, citando Romanos 9.32-33 e Hebreus 11.  Como também a obediência é tida como obra da fé (1 Ts. 1:3, 2Ts 1.11). A fé na graça futura, não a gratidão, é a fonte da obediência radical que corre riscos e busca o Reino.

A gratidão está dentro da adoração, mas, no que tange a obediência, ela vem da fé.

A gratidão pode anular a graça. Ela pode degenerar-se para a ética do devedor, assim, a graça deixa de ser graça:

"Os esforços de devolver a Deus, como comumente pagamos nossos credores, anulariam a graça e a transformariam numa transação comercial. Se considerarmos os atos de obediência pagamentos de parcelas, transformaremos a graça em hipoteca" p. 46

John Piper coloca que somos devedores de Deus, citando Mt. 6:12 e Lc 13:4, mas quando fala em débito a Bíblia se concentra aos pecados  que precisam ser perdoados e não à obediência que precisa ser paga.


O outro problema é que a ética do devedor pode minimizar a glória da graça pela orientação limitada no passado. Nossa obediência à Deus não pode ser colocada no passado, e sim, para o futuro. A gratidão está ligada ao passado, só pode servir como motivação para o futuro, a não ser que seja transformada na fé na graça futura.


"O problema principal aqui é que a orientação voltada ao passado da ética do devedor tende a nos cegar para o fluxo infinito, interminável, inexaurível e ininterrupto da graça futura deste momento até a eternidade. Essa graça está ali no futuro para que nela confiemos e dela dependamos. Está ali para motivar e fortalecer nossa obediência. Esse transbordamento infinito da graça de Deus é desonrado quando não nos apropriamos dela pela fé na graça futura. A gratidão não foi projetada para isso, mas sim a fé. A graça passada é exaltada pela intensa e alegre gratidão. A graça futura é exaltada pela intensa e alegre confiança. Essa fé nos liberta e energiza para a obediência ousada na causa de Cristo. (p. 48)


John Piper citando Andrew Murray, que coloca a divisão que muitos cristãos fazem entre conversão e perdão da vida cristã e seguimento, o mesmo Jesus é quem garante o vem como também o permanecer, a graça passada e a graça futura.


A gratidão e a fé são alegrias entrelaçadas que se fortalecem mutuamente, a gratidão se alegra com os benefícios do passado, e a fé depende dos benefícios da graça futura. 


"E a fé na graça futura constantemente diz à gratidão: Há mais graça por vir, e toda a obediência deve ser realizada na dependência da graça futura. Relaxe e alegre-se na festa marcada. Eu assumirei a responsabilidade pela obediência de amanhã" p. 50

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