terça-feira, abril 07, 2015

Francis Schaeffer: A Morte da Razão

Em a Morte da Razão, Francis Schaeffer nos oferece mais uma crítica cristã à cultura contemporânea. 

Cada geração cristã defronta com este problema de aprender como  falar ao seu tempo de maneira comunicativa. É problema que se não  pode resolver sem uma compreensão da situação existencial, em constante mudança, com que se defronta. Para que consigamos comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento da nossa geração

Pensando como Dooyerweed, Schaeffer coloca o início do homem moderno no pensamento de Aquino, do dualismo entre Natureza e Graça. 

GRAÇA, O NÍVEL SUPERIOR DEUS O CRIADOR; O CÉU E AS COISAS CELESTES; O INVISÍVEL E SUA INFLUÊNCIA NA TERRA; A ALMA HUMANA; A UNIDADE

 NATUREZA, O NÍVEL INFERIOR A CRIAÇÃO; A TERRA E AS COISAS TERRENAS; O VISÍVEL E O QUE FAZEM A NATUREZA E O HOMEM NA TERRA; O CORPO HUMANO; A DIVERSIDADE

Em Aquino, não havia uma descontinuidade entre as duas esferas. A autonomia surge porque na visão tomista, a vontade humana estava decaída, mas não o intelecto. O intelecto humano se coloca como um ser autônomo. Um dos resultados disto foi o desenvolvimento de uma teologia natural.

Para Schaeffer, o primeiro artista a ser influenciado por isto foi Cimabue e Giotto, que começaram a pintar a natureza como natureza, colocando os elementos  de forma naturalista, ainda que preservavam os Símbolos teológicos.

CIMABUE
GIOTTO

Depois, Dante começou a escrever da maneira como esses pintores faziam seus quadros. Como também Petrarca e Bocácio. Para Schaeffer, Aquino abre caminho para um humanismo autônomo.


NATUREZA X GRAÇA



Com Van Eyck, a natureza passa a ser pintada de maneira realística.  Num quadro de 1410, o batismo de Jesus é algo menor em relação a paisagem. 


Em Madona do Chanceler Rolin, de 1435, vemos que o Chanceler Rolin tem as mesmas dimensões de Maria.


Leonardo DaVinci e Rafael.

Escola de Atenas - Rafael

Nesse período, a grande força é o neo-platonismo. Para tentar conciliar a natureza e a graça, pensando a natureza como os particulares e a graça como os universais.  Para Rafael,  a alma passa ser a unidade enquanto que a matemática trata dos particulares.


2. UMA UNIDADE ENTRE NATUREZA E GRAÇA

Schaeffer vai ressaltar o papel da reforma neste contexto histórico. A Reforma aceitou a noção bíblica de queda total do homem. O homem era em sua totalidade obra de Deus, porém agora, é decaído de sua natureza, inclusive seu intelecto e sua vontade.

Para a Reforma, a autoridade final são as Escrituras e não a igreja ou qualquer teologia natural. Outra coisa é que na salvação não há uma obra humana.

Declararam os Reformadores que nada há que possa o homem fazer; nenhum esforço humano moral ou religioso, humanista ou autônomo pode ajudar. Somos salvos unicamente à base da obra consumada de Cristo, quando morreu no espaço e no tempo na história, e o único meio de obter a salvação é elevar as mãos vazias da fé e, pela graça de Deus, aceitar o dom gratuito de Deus – a Fé somente. (p.10)

O que a reforma nos ensina que Deus falou tanto da natureza como da graça. Revelou-se a si mesmo como também as coisas naturais- o cosmos e o homem. Para Schaeffer, os reformadores tinham uma unidade de conhecimento.  A ciência e a arte não são autonomas, elas estão debaixo das Escrituras.

Na Reforma, o homem é alguém criado a imagem de Deus envolvido numa condição de revolta, tendo uma culpabilidade moral genuína. Nesse sentido, a cruz tem mais sentido, já que Jesus morreu por um homem culpado que escolheu ser assim.

Assim, o homem tendo sido criado à imagem de Deus, foi destinado a usufruir com Ele uma relação pessoal. A relação do homem é ascensional (para cima), não apenas descensional (para baixo). Quando tratamos com pessoas do século vinte, esta diferença assume crucial importância. O homem moderno visualiza sua relação descensionalmente, em termos do animal e da máquina. A Bíblia rejeita este conceito da natureza e sentido do homem. Do ponto de vista da personalidade somos diretamente relacionados com Deus. Não somos infinitos, somos finitos; não obstante, somos plenamente pessoais, somos feitos à imagem do Deus pessoal que existe. (p.13)

A concepção da Reforma não é platônica,  a alma não é mais importante que o corpo.  A doutrina da ressurreição dos corpos nos diz que Deus ama a todo o ser humano em sua totalidade.


A posição bíblica, acentuada pela Reforma, sustenta que nem a concepção platônica nem a humanista satisfaz. Primeiro, Deus fez o homem todo e está interessado na totalidade do ser humano. Segundo, quando se deu a Queda, fato histórico que ocorreu no tempo e no espaço, ela afetou o homem inteiro. Terceiro, à base da obra de Cristo como Salvador e mercê do conhecimento que temos na revelação das Escrituras, há redenção para o homem no seu todo. No futuro, o homem integral será levantado dentre os mortos e redimido perfeitamente (p. 14)

3. A CIÊNCIA MODERNA  NOS PRIMÓRDIOS.


A ciência não era autonoma em seus primórdios, ela tratava das coisas naturais, mas não era naturalista.  Após a reforma e a renascença,  Kant e Rosseau desenvolvem o senso de autonomia. Aqui, já não se fala mais de graça. A contraposição será entre a LIBERDADE X NATUREZA.  Não havia mais qualquer resquício de um conceito de revelação.

Para Schaeffer, a natureza devorou a graça,  expressando um secularismo.

Kant tenta conciliar o mundo fenomenal da natureza e o mundo numenal dos universais.

No diagrama, tanto a natureza como liberdade são agora autônomas. A liberdade do indivíduo se concebe não apenas como liberdade sem a necessidade de redenção, mas ainda como liberdade absoluta. (p. 17)

Para Schaeffer, há alguns princípios em comum nesta defesa da liberdade: 1.  a autonomia da razão ou racionalismo, 2. uma crença no racional e 3. a construção de um todo unificado do conhecimento.

A natureza, tornada autônoma, devorou tanto a graça como a liberdade. Um andar inferior autônomo devorará sempre o superior. A lição é esta: quando quer que façamos tal dualismo e comecemos a estabelecer uma secção autônoma em baixo, o resultado é que o inferior devora o superior. Isto se tem dado, vez após vez, nestes últimos séculos. Se tentamos manter artificialmente as duas áreas separadas e suster como autônoma uma das áreas somente, logo a autônoma abarcará a outra. (p. 20)

Em Hegel, houve a alteração da epistemologia e da metodologia.  Não pensar mais em termos de antítese, mas numa resposta constituindo-se como uma síntese.

Kierkegaard e a linha do desespero.

Agora, o dualismo passa a ser entre FÉ X RACIONALIDADE com Hegel. E com Kierkegaard, começa o existencialismo, seja o religioso ou o secular.  Para Schaeffer, ela difundiu primeiro pelos intelectuais, meios de comunicação e às massas- classes operárias.

4. O SALTO

O existencialismo secular se divide em três correntes principais representadas por: Jean-Paul Sartre (nascido em 1905) e Camus (1913-1960) na França, Jaspers (nascido em 1883) na Suíça, Heidegger (nascido em 1889) na Alemanha. Em primeiro lugar, Jean-Paul Sartre. Racionalmente, o universo é absurdo e o homem deve buscar autenticar-se a si mesmo. Como? Mediante um ato da vontade. Assim, se você estiver andando de carro pela rua e avistar alguém na calçada sob forte chuva, você para o carro, apanha a pessoa e lhe dá uma carona. É absurdo. Que importa? A pessoa nada é, mas você se autenticou mediante um ato da vontade. A dificuldade, entretanto, é que a autenticação não tem conteúdo racional ou lógico – todas as direções de um ato da vontade são iguais. Portanto, de maneira semelhante, se você está dirigindo numa rua e avista o homem na chuva, e acelera o carro e o atropela, você autenticou sua vontade, na mesma medida. Entendeu? Assim, pranteie pelo homem moderno posto em situação tão desesperançosa (p. 25)

O salto é comum a toda esfera de pensamento do homem moderno. O homem é forçado ao desespero desse salto porque não pode viver como uma simples máquina. Este é, pois, o homem moderno. É-o conforme se expressa na pintura que produz, na música, na literatura novelesca, nas peças de teatro e na própria religião. (p. 27) 

A Nova Teologia.

NÃO RACIONAL(TERMOS CONATIVOS) X RACIONAL (TERMOS DEFINIDOS).

O elemento significativo é que o homem racionalista, humanista, começou afirmando que o Cristianismo não é suficientemente racional. Agora fez ele meia volta, em amplo círculo, e acabou na condição de místico – ainda que místico de um tipo todo especial. É ele um místico sem ter ninguém com que buscar comunhão. Os velhos místicos sempre postularam a existência de Alguém; os novos místicos, entretanto, afirmam que isso não vem ao caso, porquanto o que importa é a fé. É fé na fé, quer se expresse em termos religiosos, quer em seculares. O salto é o que importa, não os termos porque se expressa. A verbalização, isto é, os sistemas de símbolos pode mudar-se, sejam os sistemas religiosos ou não-religiosos; é incidental o fato de fazer-se uso de uma ou outra palavra. O homem moderno volta-se a encontrar sua respostas no andar superior, mediante um salto para longe da racionalidade e da razão (p. 28)
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Qualquer autonomia é improcedente. Uma ciência autônoma ou uma arte autônoma é aberração (se tomarmos ciência ou arte autônomas fora do conteúdo daquilo que Deus nos deu a conhecer). Não quer isto dizer que tenhamos uma ciência ou arte estática—o contrário é que é a verdade. Outorganos a forma em cujo âmbito, sendo finito, a liberdade é possível. Não se pode colocar a ciência e a arte na moldura de um andar inferior autônomo sem sofrer o mesmo trágico fim que se tem verificado através da história. Vimos que em todos os casos em que se fez autônomo o andar inferior, não importa o nome que se lhe deu, não decorreu muito tempo antes que o inferior acabasse devorando o superior. Desapareceram, dessa forma, não apenas Deus, mas também a liberdade e o homem. (p.44)




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