sexta-feira, outubro 22, 2010

Nicolau Maquiavel: O Príncipe

“O tirano aterroriza os súditos. Com maleficência, espreita o mundo através do seu palácio solidamente fortificado; domina toda a vida à sua volta, tão sensível à presa ou aos predadores que se avizinham quanto a aranha delicadamente equilibrada no centro da teia. Apodera-se do crédito das realizações de homens mais nobres, que gastam a própria subsistência em projetos cívicos, como grandes igrejas e outras belas edificações. Entretém embaixadores de potências estrangeiras à sua mesa e toma decisões que afetam o bem-estar de todos os súditos, consultando apenas os seus favoritos” 

Anthony Grafton, na introdução de O Princípe Cia das Letras/Penguin.

O retrato do Brasil hoje pode ser lido de forma vibrante neste clássico da ciência política. O tirano apresentado por Grafton é o homem que sabe utilizar-se da amizade e do poder, com astúcia e ferocidade.

 

No capítulo VI, Maquiavel fala sobre dos principados novos que são conquistados por virtude e armas próprias, lá ele diz que:

“será necessário examinar se os querem introduzir mudanças dispõem de autonomia ou dependem de outros, isto é, se precisam de favores para empreender suas ações ou se podem valer-se apenas de sua força”

A questão principal para Maquiavel é a manutenção do poder, como tal, o novo príncipe precisa ter sob si poder suficiente para manter-se ou precisa de alguma forma aliar-se a outros poderosos para permanecer no poder. Não há um poder puro, mesmo sob a bandeira das mais altas virtudes sempre será necessária a força para manutenção deste poder, e assim, uma diluição dos valores.

No capítulo seguinte, ele fala dos principados que são conquistados pela força ou pela fortuna, nele ele diz que:

“Porque se engana quem acredita que grandes personagens se esqueçam de injúrias antigas com benefícios novos”.

Pensando no Brasil de hoje, podemos entender a capitalização do apoio político do PMDB a candidatura de Dilma, passa por esta verdade. Caso seu nome não seja confirmado nas urnas, os benefícios novos conquistados nos últimos anos serão esquecidos pela desculpa das velhas injúrias. A modulação dos ideais necessário para a permanência do poder leva a uma fragilidade, onde nem sempre os novos benefícios podem suplantar as velhas feridas.

Mesmo vale para a negação de Marina em apoiar a candidatura Serra ou Dilma.

O capítulo 8 fala daqueles que, por atos criminosos, chegaram ao principado, nele Maquiavel faz sua instrumentalização da crueldade como meio político, diz:

A crueldade bem empregada- se é lícito falar bem do mal- é aquela que e faz de uma só vez, por necessidade de segurança; depois não se deve perseverar nela, mas convertê-la no máximo de benefícios para os súditos. Mal usadas são aquelas maldades que, embora a princípio sejam poucas, com o tempo aumentam em vez de extinguirem. Os que seguem o primeiro método podem remediar seus governos perante Deus e os homens, como no caso de Agátocles, quanto aos outros, é impossível que se mantenham no poder” p. 76

“Por isso, as injúrias devem ser cometidas de uma vez só, de modo que, por sua brevidade, ofendam menos ao paladar, ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para que sejam mais saborosos” p. 77

O capítulo fala sobre atos criminosos, mas poderia estar falando sobre uma campanha eleitoral. Neste aspecto, a campanha eleitoral de José Serra peca ao remoer o mal pelo mal, sem buscar demonstrar os benefícios ao povo de sua candidatura.  Contudo, a adversária não é mais perspicaz, ela remexe e remexe no mesmo assunto privatização, o que poderia ser explorado como bem por José Serra e não o é.

Por outro lado, a repetição da injúria pelo candidato tucano torna plausível a manipulação de imagens e  a ofensa de bola de papel, pois, com a repetição de ataques, ao invés, de criar um clima de eticidade, cria um ambiente de aticidade, onde nada mais espanta, por mais espantoso que seja, nem um presidente cabo eleitoral nem agressão física ou manipulação de imagens, Serra já gastou tantos cartuchos que sua munição voltou-se contra si.

Já Dilma, tem ao seu lado, um homem que soube conciliar as injúrias com os bens dados aos poucos, com isto criou uma cauterização moral, onde suas mentiras são tidas como verdades e mesmo quando ele diz que é mentira e depois, desdiz que é verdade, pois não se olha para as injúrias apenas, vê-se os benefícios mais do que os malefícios.

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